quinta-feira, 19 de abril de 2018

4 patas




pensamentos no mundo da lua,
desapegado segue
esquecendo que no meio da rua,
os carros sempre o perseguem

intuitivo e atento
dribla o veículo que sai
procura um alento
pára, olha, pensa, 
e vai

inverno ou verão
não o impedem
de vagar em vão
e vagando
vai em busca de pão

uma gota de chuva aqui
uma poça de água ali
uma lata de lixo acolá

migalhas generosas
ainda pingam
mas o que pinga mesmo
são minhas lágrimas
diante de um amado
de quatro patas 
na rua
nua e crua

domingo, 8 de abril de 2018

Porque hoje é domingo







Aveia, gergelim, coco ralado, chia, açúcar mascavo e uva-passa.
Porque domingo é dia de granola.
Na frigideira.
Feita na hora e servida morninha.

Ótima com iogurte natural, bem caseiro, 
com aquela bananinha que te olha da fruteira, ou
com aquele mamão madurinho que te dá uma piscadela da geladeira, enciumado.

Porque domingo é dia de café expresso naquela velha cafeteira 
quase italiana.
Porque domingo é dia de atrasar o relógio e fazer o tempo esperar, vestido de uma preguiça boa.

Porque domingo é dia de abrir a casa.
Seja para deixar o sol entrar, seja para acolher a amiga chuva.

Mas se ele brilha, domingo é dia de vestir de roupas o varal e depois de secas e perfumadas, deitar na rede e ler, nem que seja um capítulo daquele livro que descansa na cabeceira da cama.

Se ela chega, é dia de não tirar o pijama, de abraçar uma xícara de chá e se agarrar àquele livro que será sua melhor companhia. 

Porque domingo é dia de cozinhar algo especial, nem que seja um espaguete com legumes.

Porque domingo é dia de pôr a mesa e almoçar na agradável companhia de você mesma.

Porque domingo remete à parque, caminhada, piquenique,
 telefonemas, amigos.

Porque domingo é aquele dia que termina com um suspiro gostoso, bem branquinho e bem sequinho.

Porque domingo é noite de assistir um filme pra te lembrar que o fim de semana acabou, mas 
semana que vem tem mais!

Porque domingo tem cara de poesia e como dizem por aí, "na vida tudo é poesível".

Bom domingo!

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Silêncio que quer falar






Um telefonema, uma decisão, uma mochila pronta, pesada de carinho e amizade e lá se foi ela, ansiosa por belas paisagens rumo à uma felicidade santa.
 
A surpresa chegou puxada por um jeep Toyota branco e suas rodas 4 x 4. Uma aventura recebida embaixo de uma goiabeira na praça, com um elegante e delicado assovio e muitas gargalhadas.
 
Como é bom ter histórias para contar e uma memória para fotografá-las!

Fotos arquivadas e relatos sem fim foram regados por um almoço às 3 da tarde, acompanhado de dois focinhos e 8 patas que nos ouviam como se fizessem parte das histórias.
 
O tempo voou e o fim daquela tarde chegou tão de repente, que quando perceberam, as nuvens claras já estavam se despedindo, à espera de um aceno gentil.
 
O silêncio, o céu nublado e o balanço das folhas num rodopio ligeiro, chamavam para uma tímida cumplicidade, que aos poucos foi ganhando força.
 
A sopinha no fogo, o vinho que chegou na taça de prata, o pãozinho caseiro que se debruçava sobre o paninho delicadamente bordado e a meia-luz que teve como foco a bonita e florida toalha da mesa, gritavam por palavras, que ansiosas, queriam sair de dentro e no colo alheio, pular e se materializar.
 
As frases aproveitavam a música e iam dançando num balé sem fim. As cortinas estavam abertas, a emoção não aguentou esperar os aplausos finais e a primeira lágrima caiu suavemente pelo rosto, procurando um abraço.
 
Relatos vinham, confidências iam, e a noite escura não trazia aquela lua cheia linda para ser apreciada na varanda, mas mesmo assim se fazia especial, iluminada por algo ainda maior.
 
As primeiras gotas de chuva chegaram sem avisar, mas foram muito bem recebidas. Acompanharam os olhos aguados que vazavam e aliviavam, acalmando os corações que tentavam decifrar aquela janta recheada de poesia, embalada por doces caseiros e presenteada por uma iluminação que vinha da alma e povoava o ambiente todo.
 
Trocas, partilhas, olhares, mjadra (arroz com lentinha e cebola caramelada) pra lá de especial, queijo com goiabada, gengibre em conserva, abóbora em calda, chucrute também caseiro e muito amor.
 
E a comunhão se fez!