Na barriga e fora dela.
LINHAS & ENTRELINHAS
quarta-feira, 20 de novembro de 2024
Bonjour!
Na barriga e fora dela.
quinta-feira, 7 de março de 2024
ferIDAS
Coração inquieto.
Me sinto como uma criança,
que desajeitada,
tenta se acomodar numa
cadeira alta.
Os pés balançam.
Falta chão.
Em meio aos gritos que
saltam pela janela,
desço da cadeira.
Me escondo em baixo da
mesa.
Um avião voa tão rasante
que sinto o tilintar dos
copos de vidro de requeijão
em cima.
A madrugada chega.
Tento descansar,
mas meus sonhos
são sacudidos por
uma torneira aberta
que escancara uma ferida
que imaginei fechada.
Lágrimas esquecidas.
Sorrisos guardados.
Dor que ainda pulsa e
uma criança interior
machucada.
sexta-feira, 1 de março de 2024
Um dia comum
O sol acordava.
Disposto.
Sobre a cama,
um vestido amarelo,
totalmente exausto.
Porta fechada.
Da janela aberta do
vizinho,
um aceno de bom dia.
Retribuo com um sorriso
da cor do vestido.
A perna esquerda mancava
e lembrava que
a marmita,
a sombrinha,
a necessaire,
o celular,
a agenda,
os óculos e a
carteira, vazia,
pesavam no ombro.
No bolso do casaco
um livro,
cheio de sonhos.
Desabafo
Diferenças que gritam.
Semelhanças que se calam.
Falta ar.
Falta espaço.
Me recolho.
Adormeço.
Sonho.
Não existo.
Insisto!
Passo um café.
Deito na rede.
Fecho os olhos,
aguados.
Olho pra dentro
e enxergo a dor
que passou por aqui.
Desligo a TV.
Apago a luz.
Acendo uma dúvida.
quinta-feira, 25 de janeiro de 2024
Sábado
Hoje fui à feira.
Assim. Rapidinho.
Banca do Roberto.
Combinei com o sol.
Não apareceu.
Segui na companhia das nuvens
e agradeci a sombra.
A lista trazia apenas cinco itens,
mas não resisti àquele pacote de quiabo
olhando pra mim.
No quiosque do pastel,
famílias inteiras com seus filhos de 4 patas.
Uma mesa me chamou a atenção.
Mãe, pai, bebê e dois cães encantadoramente
sentados ao lado.
Senti vontade de tirar uma foto,
mas fiquei com vergonha de pedir autorização.
Voltei pra casa com a sacola pesada
para meus ossos frágeis.
Fui parando para aliviar o peso no chão,
mas também para registrar o caminho.
A paisagem é sempre a mesma,
mas meus olhos as fazem diferentes.
Ah! E tudo isso num vestido rosa,
com a franjinha da mesma cor.
terça-feira, 23 de janeiro de 2024
Desejo
Vontade de morar no
mato.
Tirar água do poço.
Andar descalça.
Pisar no simples da
vida.
Conversar com os
passarinhos.
Desabafar na
companhia das estrelas.
Vontade de fugir de
casa
levando na mala
apenas
livros, papel,
caneta e
silêncio.
Vontade de mergulhar
na fantasia
me afogar nos
clássicos
e me encontrar
num drama
com final feliz.
Vontade de tomar
chuva
banhar os pés no rio
tomar água da bica.
Vontade de
deitar numa rede
a dor mecer
e a cor dar
encantada,
novamente...
no colo da Mãe
Natureza,
protegida.
segunda-feira, 15 de janeiro de 2024
Visita
O nome dela é Maria. Como muitas.
Mulher preta,
como tantas outras.
Conta com mais de 8 décadas na escola da vida, mas
não escreve.
Criou 5 filhos, ajudou na criação de alguns netos e hoje já tem 2 bisnetos de 20 e 16 anos e uma princesa de 1 aninho.
Vaidosa, corta o cabelo com frequência, vai às
novenas na igreja do bairro e adora um bingo com as amigas.
Faz crochê. Como ninguém.
Adora uma receita. Seja de um novo ponto ou de um
novo prato. Não sei como ela chega lá, mas o Sr. YouTube explica tudo e ela
aprende direitinho.
Hoje em dia o joelho judia um pouco, mas seu
"carrinho andador" continua lhe ajudando a ter dignidade.
Faz um bolo fofinho que só. Diz que o segredo está
em bater as claras separadamente e peneirar as gemas.
É dona de um sorriso largo, adora uma boa prosa e
é fã de Roberto Carlos, que segundo me informou, está vindo aí para mais um
show.
Anseia por visitas, cada vez mais raras, e não sai
da janela na esperança de uma boa alma para compartilhar um café, um suco, uma
água.
Antes de ir embora ainda a acompanhei na novela
das 6h30. Disse que dorme tarde, atualmente depois do BBB. Anda mais atualizada
do que eu.
Cheguei com uma plantinha, cuja muda plantei numa
caneca, onde escrevi bem grande o seu nome, que consegue assinar.
Na saída, mostrou um abacateiro povoado, cactos
que crescem e uma horta onde tem até alho poró.
Saí de lá com algumas folhas verdes. Terei salada
de couve crespa para o almoço. Desconhecia.
Infelizmente ela não pode ler esse texto, mas que
bom que pode ouvi-lo. Senti-lo.
Afinal de contas, hoje ela é a protagonista dessa
história.
segunda-feira, 18 de dezembro de 2023
dezembrite
Rinite, bronquite, sinusite, e agora, DEZEMBRITE.
E como toda inflamação, traz lá os seus incômodos.
Os bolsos ficam mais sensíveis; os olhos ficam maiores que o estômago; as pernas já não dão conta de correr; o ar condicionado do shopping ataca tudo e nossas agendas tropeçam nos compromissos que de repente se tornam inadiáveis.
Pessoas que não se viram durante o ano todo, querem tomar café com bolo, mas se for panetone, melhor ainda!
Familiares que não se falam há décadas e passam a se encontrar somente em velórios, lembram de agendar almoços com parentes que de tão idosos não lembram mais nem os próprios nomes, quem dirá dos entes queridos...
Compras já se iniciam naquela fatídica sexta-feira; parcelas se multiplicam no cartão de crédito; encontros, reuniões ditas de confraternização; almoços de final de ano e o incansável amigo oculto - sintomas facilmente detectáveis.
Comida, comida, comida e mais comida! Isso quando tudo não se resume à bebida.
Piadinhas sem graça, verdades disfarçadas de brincadeirinhas e egos que murcham feito flor em verão de 30 graus ou inflam, inconformados por brilharem menos que o pisca-pisca da árvore de Natal.
Sorrisos amarelos, vestidos vermelhos, e para combinar, verdes desconfortos.
O ar pesa, a roupa pesa, a comida pesa, os relacionamentos pesam, o ano termina com excesso de peso e desse jeito, uma bariátrica torna-se a prioridade das metas de ano novo.
Ah! E ainda tem aquele calorzinho cujo ventilador do assalariado não dá conta e só aumenta a fatura da luz no final do mês.
Janelas abertas, vestido de alcinha, e mesmo que tire a calcinha, o fogo não ameniza... aliás, nesse caso, ele só faz aumentar... Será?
Suco de limão com água com gás é bom! Mas recomenda-se não tomar à noite.
Há quem diga que cítricos tiram o sono, assim como cafeína, codeína, purpurina, gasolina e outras "inas", mas o assunto de hoje são as "ites"!
E depois de tanto besteirol junto num texto só, o jeito é me recompor, e da próxima vez entrar aqui para algo mais útil.
Talvez mais um sintoma dessa síndrome que se une ao cansaço e junto com a falta de paciência, agora tem nova roupagem. Dezembrina.
terça-feira, 14 de novembro de 2023
es PE ra
Dias de consulta de acompanhamento não costumam ser muito tranquilos, mas me convidam a escrever.
Dois anos já de autotransplante de medula óssea, com remissão completa.
Os desconfortos na coluna ainda se fazem presentes, mas eu já nem chamo mais de dor.Dor é algo muito maior. Algo para o qual eu permaneço pequena, mas quero me manter bem longe.
Minha consulta estava marcada para as 15h.
15h10 passei pela Triagem. Não emagreci, mas também não engordei, e continuo medindo os mesmos 1.63, que um dia já foram 1.65.
Li metade de um livro e atualizei as visualizações de um Instagram quase inteiro.
Ainda bem que dizem que os últimos serão os primeiros, pois sou sempre a última paciente a ser chamada.
Dr. Matheus me atendeu. Simpático e gentil e cuja manga do jaleco dobrada exibia uma linda e grande tatuagem.
Foram 15 minutos de consulta pra me dizer que está tudo bem e que os exames de sangue e urina não apontaram nada de anormal.
Quando pensei em esboçar um sorriso de felicidade, ele me alerta: "mas a senhora sabe que a doença pode voltar, né? Aliás, ela sempre volta! Prefiro ser honesto e realista com todos os meus pacientes, mas isso independe de nós e a senhora pode contar, inclusive, com um novo autotransplante, depois de 5 anos do primeiro, se a senhora ainda estiver bem".
Senti aquele sorriso inicial amarelar um pouco e os horrores causados pelos efeitos colaterais do tratamento se colocaram bem na minha frente, de jaleco branco e tudo, mas sem tatuagem.
Fui para o ponto de ônibus aguardar mais 20 minutos pelo próximo.
Minha coluna reclama um pouco. Digo pra ela que logo, logo, chegaremos em casa, mas que ainda tem um pedacinho de caminhada.
Meu cabelo está lindo!
Acho que até o médico gostou!
O ônibus chegou.
Ainda bem que um pirulito Sete Belo me adoçou a boca e me fez lembrar que a vida é doce e acontece agora! Sol e céu azul!
Sigo otimista.
Às vezes cansada.
Ultimamente meio mal-humorada.
Mas otimista.
Ontem foi dia de pagar as contas. Cancelei a diarista. Desmarquei o homeopata.
Mas sigo otimista.
O que importa é que meu cabelo está lindo!
quinta-feira, 21 de setembro de 2023
Raízes afetivas
quinta-feira, 31 de agosto de 2023
LuAzul
luas se debruçam na janela
sábado, 12 de agosto de 2023
preSENTE
Os ventos, que ontem assustavam os telhados das casas e desiquilibravam árvores, se acalmaram.
Hoje sopram suave e suam frio, apesar do azul do céu e de um solzinho tímido, que não aquece.
Levantei relativamente cedo. Agasalhei meus pés com meias de lã e calcei minha pantufa que brilha no escuro.
Fiz minhas orações. Acendi um incenso.
Abri algumas frestas das janelas.
Preparei uma banana amassada com chia e gergelim, e passei um café forte.
Sentei em frente ao computador e acessei o blog de uma amiga.
Comecei a passear pelos seus textos e viajei longe. Fui até Zurique, onde ela vive hoje e fiquei com vontade de entrar no supermercado mais próximo e encher o carrinho com chocolates suíços.
Descobri que ela sonhava ser astronauta e bailarina, mas foi o marketing e as viagens que a levaram a desbravar esse mundão de Deus.
E foi numa dessas aventuras que nos conhecemos em Londres, décadas atrás.
O chuveiro do hostel não esquentava, e ela e a amiga fizeram check out e passaram alguns poucos dias conosco, no quarto em que eu morava e dividia com meu irmão. E isso foi o que bastou para que o laço da nossa amizade fosse apertado em um lugar chamado Notting Hill.
Uma baiana, que estudava em Barcelona e depois viria a morar na Alemanha e outros tantos lugares que teve para chamar de LAR (s) - forma escandinava de Lourenço, segundo o Dr. Google e que toda vez que volta à sua terra, tem um olhar sensível e compassivo para com o seu povo.
Também fiquei com vontade de abrir o armário de sua cozinha e preparar um saboroso café com cardamomo, tudo isso ao som de Djavam e das boas lembranças que os almoços de domingo em família ainda ressoam em seu coração.
De abraçar suas primas, suas tias e as casas de suas tias.
Tudo remete a aconchego.
Tudo acolhe.
Que AMIZADES sejam sempre assim!
Um abraço carinhoso, mesmo na distância, lembrando que que esse é ESPECIAL. É de aniversário! ♥
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Este texto foi escrito no dia 14 de julho, mas foi publicado hoje, quase um mês depois, como presente de aniversário a essa amiga que está tão longe fisicamente, mas que consegue estar aqui perto, sentada ao meu lado, conversando e tomando café, sem açúcar, e acompanhado de um chocolate, suíço, claro! ♥
Ciça amada, este texto é pra você!
Que chegue aí, inteiro, sem amassados no embrulho e com o laço amarelo ainda perfeito.
Abraço amoroso, sempre! ♥
Cheirinho de bolo
sábado, 5 de agosto de 2023
P a i
Lembro que um dia, ao comentar algo sobre meu pai, uma amiga ficou me olhando espantada e me disse: "nossa! não sabia que seu pai ainda estava vivo!"
E ela tinha razão! Nunca fui muito de falar do meu pai, talvez por minha mãe sempre ter ocupado os lugares de protagonista e coadjuvante na família.
Na minha infância e parte da adolescência não tive como escapar, mas quando adulta, fugi!
Às vezes pra longe. Às vezes por um tempo longo. Mas voltava!
Com a partida de minha mãe, acabamos nos aproximando mais.
Ele me ligava toda semana e nos encontrávamos uma vez por mês para um churros com doce de leite, que me deixava preocupada, afinal de contas ele estava diabético.
Bons momentos a gente não esquece; pena que os maus também não!
Mas já faz um bom tempo que fiz as pazes com isso tudo.
Ficou lá atrás! Numa gaveta trancada, cuja chave joguei fora...aliás, a gaveta também!
Preferi colecionar apenas as boas lembranças, como por exemplo a profissão de bombeiro (achava lindo ele fardado), o fato de ter sido autodidata na música e o hábito de usar chapéu.
Ahhhhhh! Como eu gostava de vê-lo tocar a música Brasileirinho no cavaquinho. Sempre tive orgulho dele ter aprendido sozinho também a tocar violão, e se eu não me engano, ainda tocava gaita de boca...
Interessante esse assunto ter povoado minha mente neste sábado de sol.
Um dia em que eu talvez estivesse ligando pra ele e dizendo que amanhã iria almoçar lá.
No cardápio, provavelmente teríamos uma tainha recheada assada e arroz com camarão e eu levaria uma sobremesa para adoçar a vida que por tantas vezes nos foi tão amarga.
Depois de lavarmos a louça do almoço, sentaríamos no sofá e ficaríamos ouvindo as mesmas piadas do mesmo repertório de sempre, que vinha se repetindo há muitos e muitos anos, já na espera do café da tarde.
No meio de algumas narrativas, interromperíamos dizendo que ele já tinha contado aquela, mas em outras, apenas ouviríamos e daríamos risada, não por acharmos engraçado, mas justamente por já termos ouvido aquilo tantas e tantas vezes.
Dessa vez não comprei presente e tão pouco telefonei.
Fiz um bolo de laranja, mas acabei de saber que o dia dos pais é na semana que vem.
WALDIR AZEVEDO - Brasileirinho - original
quinta-feira, 3 de agosto de 2023
reFLEXÕES
minhocas na cabeça
Venho me sentido inquieta, angustiada, pensativa, questionadora, desconfiada ultimamente.
Não que antes eu não fosse, mas por conta de tudo o que aconteceu desde o dia 21/11/2018, muita coisa mudou aqui dentro...e fora também.
Minha cabeça e meu coração se voltaram para o que chama sobrevivência, e picuinhas do dia a dia não tinham mais lugar na fila do pão.
Desde então, criei um casulo onde barulhos externos não perturbavam o meu silêncio interior (roubei).
Achei tão lindo! Li outro dia essa frase e a isso davam o nome de PAZ.
E fico aqui pensando como é difícil alcançar essa paz...
Juro que tenho tentado, mas é só dar ouvidos à mente e tudo acaba em ruído.
Outro dizer que eu gosto é A MENTE MENTE, mas infelizmente continuamos acreditando nela.
De repente me vi lembrando que tenho muitos casos de doença mental na família.
E isso vai desde parentes distantes, que até já partiram, até outros mais próximos e tão amados.
Parte o coração não poder ajudá-los, mas nesse contexto todo, ninguém está imune, e parafraseando alguém "entre a sanidade e a loucura, a linha é bem mais tênue do que imaginamos"...
Outro dia assisti um filme na Netflix que me chamou a atenção pela protagonista, que é uma atriz que eu gosto, e logo no início havia um alerta dizendo que seria muito delicado que pessoas com depressão, ansiedade ou síndrome do pânico assistissem...falava sobre os tais gatilhos.
Respirei fundo e assisti! Como é difícil compreender, se colocar no lugar e ter compaixão por essas pessoas.
No meio do filme, uma fala do personagem do psiquiatra traz um poema de Sylvia Plath, ressaltando que foi um dos últimos antes dela se suicidar, aos 30 anos.
Fui em busca de algo mais sobre essa escritora, mas talvez sua fala não esteja ao meu alcance, assim como acontece com Virgínia Woolf e Clarice Lispector.
Mas um detalhe, talvez irrelevante para a maioria, me chamou atenção: ela nasceu em 1932 e faleceu em 11 de fevereiro.
Minha mãe já partir há 10 anos e 8 meses, mas nasceu em 11/02/1932. ♥
Para esse final não soar tão melancólico, pesquei essa imagem.