quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Bonjour!





Frio.
Na barriga e fora dela.
Misto de alegria com medo.
Medo do cansaço. 
Do peso da mala. 
Do aeroporto.
Medo da partida.
Medo da chegada.

Calor.
Lá fora e aqui dentro.
Onze horas sem água.
Boca seca.
Espera.
Alívio.
Abraço.
Uber francês.
Motorista estrangeiro.
Somos, todos!

Mesa posta.
Um quiche ou 
Uma quiche?
Uma taça.
Um brinde!
Torre Eiffel
na janela.
Tim-Tim, 
gratidão e
o sono dos justos.

Bonne nuit! 
Sonhos,
croissant e
pain au chocolat!

p.s.: vista maravilhosa da varanda do apartamento da minha amiga. ♥








quinta-feira, 7 de março de 2024

ferIDAS

 


Coração inquieto.

Me sinto como uma criança,

que desajeitada,

tenta se acomodar numa cadeira alta.

Os pés balançam.

Falta chão.

Em meio aos gritos que saltam pela janela,

desço da cadeira.

Me escondo em baixo da mesa.

Um avião voa tão rasante

que sinto o tilintar dos copos de vidro de requeijão

em cima.

A madrugada chega.

Tento descansar,

mas meus sonhos 

são sacudidos  por uma torneira aberta

que escancara uma ferida 

que imaginei fechada.

Lágrimas esquecidas.

Sorrisos guardados.

Dor que ainda pulsa e

uma criança interior machucada.


sexta-feira, 1 de março de 2024

Um dia comum




O sol acordava.

Disposto.

Sobre a cama,

um vestido amarelo,

totalmente exausto.

Porta fechada.

Da janela aberta do vizinho,

um aceno de bom dia.

Retribuo com um sorriso

da cor do vestido.

A perna esquerda mancava

e lembrava que

a marmita,

a sombrinha,

a necessaire,

o celular,

a agenda,

os óculos e a

carteira, vazia,

pesavam no ombro.

No bolso do casaco

um livro,

cheio de sonhos.

 

 

 




Desabafo

 


Diferenças que gritam.

Semelhanças que se calam.

Falta ar.

Falta espaço.

Me recolho.

Adormeço.

Sonho.

Não existo.

Insisto!

Passo um café.

Deito na rede.

Fecho os olhos,

aguados.

Olho pra dentro

e enxergo a dor

que passou por aqui.

Desligo a TV.

Apago a luz.

Acendo uma dúvida.


quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Sábado



Hoje fui à feira.
Assim. Rapidinho.
Banca do Roberto.
Combinei com o sol.
Não apareceu.
Segui na companhia das nuvens
e agradeci a sombra.
A lista trazia apenas cinco itens,
mas não resisti àquele pacote de quiabo
olhando pra mim.
No quiosque do pastel,
famílias inteiras com seus filhos de 4 patas.
Uma mesa me chamou a atenção.
Mãe, pai, bebê e dois cães encantadoramente
sentados ao lado.
Senti vontade de tirar uma foto,
mas fiquei com vergonha de pedir autorização.
Voltei pra casa com a sacola pesada
para meus ossos frágeis.
Fui parando para aliviar o peso no chão,
mas também para registrar o caminho.
A paisagem é sempre a mesma,
mas meus olhos as fazem diferentes.
Ah! E tudo isso num vestido rosa,
com a franjinha da mesma cor.

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Desejo

 

 

Vontade de morar no mato.

Tirar água do poço.

Andar descalça.

Pisar no simples da vida.

Conversar com os passarinhos.

Desabafar na companhia das estrelas.

Vontade de fugir de casa

levando na mala

apenas

livros, papel, caneta e

silêncio.

Vontade de mergulhar

na fantasia

me afogar nos clássicos

e me encontrar

num drama

com final feliz.

Vontade de tomar chuva

banhar os pés no rio

tomar água da bica.

Vontade de

deitar numa rede

a dor mecer

e  a cor dar  encantada,

novamente...

no colo da Mãe Natureza,

protegida.

 

  

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Visita


O nome dela é Maria. Como muitas.

Mulher preta, como tantas outras.
Conta com mais de 8 décadas na escola da vida, mas não escreve.
Criou 5 filhos, ajudou na criação de alguns netos e hoje já tem 2 bisnetos de 20 e 16 anos e uma princesa de 1 aninho.
Vaidosa, corta o cabelo com frequência, vai às novenas na igreja do bairro e adora um bingo com as amigas.
Faz crochê. Como ninguém.
Adora uma receita. Seja de um novo ponto ou de um novo prato. Não sei como ela chega lá, mas o Sr. YouTube explica tudo e ela aprende direitinho.
Hoje em dia o joelho judia um pouco, mas seu "carrinho andador" continua lhe ajudando a ter dignidade.
Faz um bolo fofinho que só. Diz que o segredo está em bater as claras separadamente e peneirar as gemas.
É dona de um sorriso largo, adora uma boa prosa e é fã de Roberto Carlos, que segundo me informou, está vindo aí para mais um show.
Anseia por visitas, cada vez mais raras, e não sai da janela na esperança de uma boa alma para compartilhar um café, um suco, uma água.
Antes de ir embora ainda a acompanhei na novela das 6h30. Disse que dorme tarde, atualmente depois do BBB. Anda mais atualizada do que eu.
Cheguei com uma plantinha, cuja muda plantei numa caneca, onde escrevi bem grande o seu nome, que consegue assinar.
Na saída, mostrou um abacateiro povoado, cactos que crescem e uma horta onde tem até alho poró.
Saí de lá com algumas folhas verdes. Terei salada de couve crespa para o almoço. Desconhecia.
Infelizmente ela não pode ler esse texto, mas que bom que pode ouvi-lo. Senti-lo.
Afinal de contas, hoje ela é a protagonista dessa história.




segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

dezembrite




Rinite, bronquite, sinusite, e agora, DEZEMBRITE.

E como toda inflamação, traz lá os seus incômodos.

Os bolsos ficam mais sensíveis; os olhos ficam maiores que o estômago; as pernas já não dão conta de correr; o ar condicionado do shopping ataca tudo e nossas agendas tropeçam nos compromissos que de repente se tornam inadiáveis.

Pessoas que não se viram durante o ano todo, querem tomar café com bolo, mas se for panetone, melhor ainda!

Familiares que não se falam há décadas e passam a se encontrar somente em velórios, lembram de agendar almoços com parentes que de tão idosos não lembram mais nem os próprios nomes, quem dirá dos entes queridos...

Compras já se iniciam naquela fatídica sexta-feira; parcelas se multiplicam no cartão de crédito; encontros, reuniões ditas de confraternização; almoços de final de ano e o incansável amigo oculto - sintomas facilmente detectáveis.

Comida, comida, comida e mais comida! Isso quando tudo não se resume à bebida.

Piadinhas sem graça, verdades disfarçadas de brincadeirinhas e egos que murcham feito flor em verão de 30 graus ou inflam, inconformados por brilharem menos que o pisca-pisca da árvore de Natal.

Sorrisos amarelos, vestidos vermelhos, e para combinar, verdes desconfortos.

O ar pesa, a roupa pesa, a comida pesa, os relacionamentos pesam,  o ano termina com excesso de peso e desse jeito, uma bariátrica torna-se a prioridade das metas de ano novo.

Ah! E ainda tem aquele calorzinho cujo ventilador do assalariado não dá conta e só aumenta a fatura da luz no final do mês.

Janelas abertas, vestido de alcinha, e mesmo que tire a calcinha, o fogo não ameniza... aliás, nesse caso, ele só faz aumentar... Será?

Suco de limão com água com gás é bom! Mas recomenda-se não tomar à noite.

Há quem diga que cítricos tiram o sono, assim como cafeína, codeína, purpurina, gasolina e outras "inas", mas o assunto de hoje são as "ites"!

E depois de tanto besteirol junto num texto só, o jeito é me recompor, e da próxima vez entrar aqui para algo mais útil.

Talvez mais um sintoma dessa síndrome que se une ao cansaço e junto com a falta de paciência, agora tem nova roupagem. Dezembrina.





terça-feira, 14 de novembro de 2023

es PE ra



Dias de consulta de acompanhamento não costumam ser muito tranquilos, mas me convidam a escrever.

Dois anos já de autotransplante de medula óssea, com remissão completa.

Os desconfortos na coluna ainda se fazem presentes, mas eu já nem chamo mais de dor.

Dor é algo muito maior. Algo para o qual eu permaneço pequena, mas quero me manter bem longe.

Minha consulta estava marcada para as 15h.

15h10 passei pela Triagem. Não emagreci, mas também não engordei, e continuo medindo os mesmos 1.63, que um dia já foram 1.65.

Li metade de um livro e atualizei as visualizações de um Instagram quase inteiro.
Ainda bem que dizem que os últimos serão os primeiros, pois sou sempre a última paciente a ser chamada.

Dr. Matheus me atendeu. Simpático e gentil e cuja manga do jaleco dobrada exibia uma linda e grande tatuagem.

Foram 15 minutos de consulta pra me dizer que está tudo bem e que os exames de sangue e urina não apontaram nada de anormal.

Quando pensei em esboçar um sorriso de felicidade, ele me alerta: "mas a senhora sabe que a doença pode voltar, né? Aliás, ela sempre volta! Prefiro ser honesto e realista com todos os meus pacientes, mas isso independe de nós e a senhora pode contar, inclusive, com um novo autotransplante, depois de 5 anos do primeiro, se a senhora ainda estiver bem".

Senti aquele sorriso inicial amarelar um pouco e os horrores causados pelos efeitos colaterais do tratamento se colocaram bem na minha frente, de jaleco branco e tudo, mas sem tatuagem.

Fui para o ponto de ônibus aguardar mais 20 minutos pelo próximo.

Minha coluna reclama um pouco. Digo pra ela que logo, logo, chegaremos em casa, mas que ainda tem um pedacinho de caminhada.

Meu cabelo está lindo!

Acho que até o médico gostou!

O ônibus chegou.

Ainda bem que um pirulito Sete Belo me adoçou a boca e me fez lembrar que a vida é doce e acontece agora! Sol e céu azul!

Sigo otimista.

Às vezes cansada.

Ultimamente meio mal-humorada.

Mas otimista.

Ontem foi dia de pagar as contas. Cancelei a diarista. Desmarquei o homeopata.

Mas sigo otimista.

O que importa é que meu cabelo está lindo!

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Raízes afetivas

 


Hoje é Dia da Árvore.
Se eu ainda estivesse na escola talvez a professora pedisse uma redação com esse tema.
Adoro árvores.
Quando saio pra caminhar não resisto e me atraso. 
Paro para fotografar todas, ou quase.
Sou louca principalmente por aquelas cujas raízes se confundem 
com a calçada quebrada.
Estão ali, firmes, resilientes, brigando por espaço e ainda persistem,
recebendo luz e fornecendo sombra.
Os amantes das artes adoram este contraste.
E eu estou na lista dos fãs desses velhos troncos,
que envergam, mas não quebram,
feito umas e outras que conheço.
Exercitar o amor foi feito para todo dia, mas
hoje foi a data que escolhi para celebrar o companheirismo,
a parceria, a troca, a partilha, a preocupação e o carinho,
talvez por remeter a raízes e bons frutos.
Não que nesse intervalo não haja conflitos, teimosias e diferenças, 
mas entendemos que isso faz parte do pacote.
Hoje setembro faz 21 dias, mas meu relacionamento
com aquele que surgiu para apoiar meus passos
completa 22 anos e seguimos o caminho, às vezes
ainda encontrando pedras no meio dele, mas
aprendendo a apreciar também as flores.
Parece que foi ontem que pedi um suco de tomate 
no aniversário do amigo de um colega de trabalho, em um lugar barulhento
onde nada se ouvia além de um som alto.
Nada ouvimos e tudo sentimos!
Foi aos poucos. Mas para que a pressa?
O tempo, por si, continua voando, 
e com ele seguimos 
de mãos dadas.
Oito mil e trinta dias de puro amadurecimento, 
coragem, rabugices, risadas, viagens e sonhos a realizar.
Quando ficamos muitos dias juntos, às vezes ainda me falta 
um pouco de paciência com a roupa espalhada 
pela casa, mas meia hora depois 
de bater a porta e sair, já bate também a saudade...
A isso chamamos de AMR!

(sim! moramos em casas separadas, mas
nossos corações permanecem unidos) 



quinta-feira, 31 de agosto de 2023

LuAzul

 



luas se debruçam na janela
duas
agosto
cor azul
o sono não chega
convido-as a entrar
uma delas aceita
faço um chá
sentei no sofá
ela preferiu a rede
ficamos ali a noite toda
ora conversando
ora ouvindo música
fiz mais um chá
cochilei no escuro
 o dia clareou
chamei por ela
a rede estava vazia
 a xícara estava vazia
e
CONTENHA A MARÉ
um bilhete dizia.






sábado, 12 de agosto de 2023

preSENTE



Os ventos, que ontem assustavam os telhados das casas e desiquilibravam árvores, se acalmaram.

Hoje sopram suave e suam frio, apesar do azul do céu e de um solzinho tímido, que não aquece.

Levantei relativamente cedo. Agasalhei meus pés com meias de lã e calcei minha pantufa que brilha no escuro.

Fiz minhas orações. Acendi um incenso.

Abri algumas frestas das janelas.

Preparei uma banana amassada com chia e gergelim, e passei um café forte.

Sentei em frente ao computador e acessei o blog de uma amiga.

Comecei a passear pelos seus textos e viajei longe. Fui até Zurique, onde ela vive hoje e fiquei com vontade de entrar no supermercado mais próximo e encher o carrinho com chocolates suíços.

Descobri que ela sonhava ser astronauta e bailarina, mas foi o marketing e as viagens que a levaram a desbravar esse mundão de Deus.

E foi numa dessas aventuras que nos conhecemos em Londres, décadas atrás. 

O chuveiro do hostel não esquentava, e ela e a amiga fizeram check out e passaram alguns poucos dias conosco, no quarto em que eu morava e dividia com meu irmão. E isso foi o que bastou para que o laço da nossa amizade fosse apertado em um lugar chamado Notting Hill.

Uma baiana, que estudava em Barcelona e depois viria a morar na Alemanha e outros tantos lugares que teve para chamar de LAR (s) - forma escandinava de Lourenço, segundo o Dr. Google e que toda vez que volta à sua terra, tem um olhar sensível e compassivo para com o seu povo.

Também fiquei com vontade de abrir o armário de sua cozinha e preparar um saboroso café com cardamomo, tudo isso ao som de Djavam e das boas lembranças que os almoços de domingo em família ainda ressoam em seu coração.

De abraçar suas primas, suas tias e as casas de suas tias.

Tudo remete a aconchego. 

Tudo acolhe.

Que AMIZADES sejam sempre assim!

Um abraço carinhoso, mesmo na distância, lembrando que que esse é ESPECIAL. É de aniversário!

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Este texto foi escrito no dia 14 de julho, mas foi publicado hoje, quase um mês depois, como presente de aniversário a essa amiga que está tão longe fisicamente, mas que consegue estar aqui perto, sentada ao meu lado, conversando e tomando café, sem açúcar, e acompanhado de um chocolate, suíço, claro!  

Ciça amada, este texto é pra você! 

Que chegue aí, inteiro, sem amassados no embrulho e com o laço amarelo ainda perfeito.

Abraço amoroso, sempre!




Cheirinho de bolo

 


Dias de chuva me chegam devagar.
Me levam a pensar. 
Me voam pra longe. 
Me distanciam o olhar.
Me aproximam do aconchego, que abraça. 
Me fazem espiar pela fresta da cortina, 
com uma mão na xícara de chá e a outra também. 
Assim, feito carinho de mãe.
A lindeza de hoje é de maçã, uva-passa e canela.
O cheirinho, de tão bom, chegou no céu.
Até o sol sentiu e quis vir para o chá das cinco,
mas perdeu a carona na última nuvem que passava.
Quem sabe na semana que vem.
Hoje o dia é do sábado, que se vestiu para passear de cinza, 
com bolinhas da mesma cor. 




sábado, 5 de agosto de 2023

P a i



Lembro que um dia, ao comentar algo sobre meu pai, uma amiga ficou me olhando espantada e me disse: "nossa! não sabia que seu pai ainda estava vivo!"

E ela tinha razão! Nunca fui muito de falar do meu pai, talvez por minha mãe sempre ter ocupado os lugares de protagonista e coadjuvante na família.

Na minha infância e parte da adolescência não tive como escapar, mas quando adulta, fugi!

Às vezes pra longe. Às vezes por um tempo longo. Mas voltava!

Com a partida de minha mãe, acabamos nos aproximando mais.

Ele me ligava toda semana e nos encontrávamos uma vez por mês para um churros com doce de leite, que me deixava preocupada, afinal de contas ele estava diabético.

Bons momentos a gente não esquece; pena que os maus também não!

Mas já faz um bom tempo que fiz as pazes com isso tudo.

Ficou lá atrás! Numa gaveta trancada, cuja chave joguei fora...aliás, a gaveta também!

Preferi colecionar apenas as boas lembranças, como por exemplo a profissão de bombeiro (achava lindo ele fardado), o fato de ter sido autodidata na música e o hábito de usar chapéu.

Ahhhhhh! Como eu gostava de vê-lo tocar a música Brasileirinho no cavaquinho. Sempre tive orgulho dele ter aprendido sozinho também a tocar violão, e se eu não me engano, ainda tocava gaita de boca...

Interessante esse assunto ter povoado minha mente neste sábado de sol.

Um dia em que eu talvez estivesse ligando pra ele e dizendo que amanhã iria almoçar lá.

No cardápio, provavelmente teríamos uma tainha recheada assada e arroz com camarão e eu levaria uma sobremesa para adoçar a vida que por tantas vezes nos foi tão amarga.

Depois de lavarmos a louça do almoço, sentaríamos no sofá e ficaríamos ouvindo as mesmas piadas do mesmo repertório de sempre, que vinha se repetindo há muitos e muitos anos, já na espera do café da tarde.

No meio de algumas narrativas, interromperíamos dizendo que ele já tinha contado aquela, mas em outras, apenas ouviríamos e daríamos risada, não por acharmos engraçado, mas justamente por já termos ouvido aquilo tantas e tantas vezes.

Dessa vez não comprei presente e tão pouco telefonei.

Fiz um bolo de laranja, mas acabei de saber que o dia dos pais é na semana que vem.











WALDIR AZEVEDO - Brasileirinho - original


         ... porque essa música me lembra meu PAI, e
                     de repente, tudo esqueço! ♥ 

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

reFLEXÕES




Percebo crescer em mim uma insatisfação pertinente aos artistas.
Precisam de público!
Arte é criada para ser vista, admirada ou mesmo ignorada, mas vista!
Música, dança, pintura, escultura, teatro, literatura, cinema.
Escritores escrevem para serem lidos!
Não sou nem escritora, nem artista e o que faço talvez não seja arte, mas tem me incomodado o fato dos meus textos não alcançarem as pessoas...
Blog já é algo obsoleto, assim como os e-mails e as chamadas telefônicas. 
As pessoas não param nem para ler nem mensagens de whatsApp com mais de três linhas, imagine textos que ultrapassam a fronteira das 15 linhas impostas por antigas redações.
Mas sigo escrevendo, aliás, tenho escrito quase que compulsivamente e às vezes percebo que a gaveta deste velho blog já se encontra abarrotada...parece que precisa alçar novos e altos voos...
Gostaria de contar com mais gente me lendo e entendo que o mundo está muito ocupado para tal privilégio, mas também sonho com mais pausas numa rede, num sofá ou no tapete da sala.
Gostaria de gente rindo, chorando, se emocionando diante de minhas narrativas, como aconteceu hoje pela manhã.
Recebi uma vídeo-chamada com voz embargada da Itália, dez segundos de duração, apenas para dizer o quanto um texto que escrevi sobre a minha mãe lhe havia tocado.
Ah! Quem dera que sempre fosse assim!
Seria o caso de começar a sussurrar meus textos nos ouvidos alheios?
Sim, pois nos dias de hoje, a escuta me parece mais disponível do que olhos para repousar nas palavras.
Contradições à vista!
Logo eu, que preciso de silêncio e solicitude para criar, escrever, pintar, rabiscar ou não fazer nada, estou aqui pedindo plateia e aplausos.
Gosto do silêncio que acolhe a minha companhia.
Às vezes, me basto!
Outras, nem tanto!
Contemplo, me encanto, admiro e me espanto!
Ou espanto! 

minhocas na cabeça



Venho me sentido inquieta, angustiada, pensativa, questionadora, desconfiada ultimamente.

Não que antes eu não fosse, mas por conta de tudo o que aconteceu desde o dia 21/11/2018, muita coisa mudou aqui dentro...e fora também.

Minha cabeça e meu coração se voltaram para o que chama sobrevivência, e picuinhas do dia a dia não tinham mais lugar na fila do pão.

Desde então, criei um casulo onde barulhos externos não perturbavam o meu silêncio interior (roubei).

Achei tão lindo! Li outro dia essa frase e a isso davam o nome de PAZ.

E fico aqui pensando como é difícil alcançar essa paz...

Juro que tenho tentado, mas é só dar ouvidos à mente e tudo acaba em ruído.

Outro dizer que eu gosto é A MENTE MENTE, mas infelizmente continuamos acreditando nela.

De repente me vi lembrando que tenho muitos casos de doença mental na família.

E isso vai desde parentes distantes, que até já partiram, até outros mais próximos e tão amados.

Parte o coração não poder ajudá-los, mas nesse contexto todo, ninguém está imune, e parafraseando alguém "entre a sanidade e a loucura, a linha é bem mais tênue do que imaginamos"...

Outro dia assisti um filme na Netflix que me chamou a atenção pela protagonista, que é uma atriz que eu gosto, e logo no início havia um alerta dizendo que seria muito delicado que pessoas com depressão, ansiedade ou síndrome do pânico assistissem...falava sobre os tais gatilhos.

Respirei fundo e assisti! Como é difícil compreender, se colocar no lugar e ter compaixão por essas pessoas.

No meio do filme, uma fala do personagem do psiquiatra traz um poema de Sylvia Plath, ressaltando que foi um dos últimos antes dela se suicidar, aos 30 anos.

Fui em busca de algo mais sobre essa escritora, mas talvez sua fala não esteja ao meu alcance, assim como acontece com Virgínia Woolf e Clarice Lispector.

Mas um detalhe, talvez irrelevante para a maioria, me chamou atenção: ela nasceu em 1932 e faleceu em 11 de fevereiro.

Minha mãe já partir há 10 anos e 8 meses, mas nasceu em 11/02/1932.  

Para esse final não soar tão melancólico, pesquei essa imagem.