quinta-feira, 31 de março de 2011

A MENINA DO NARIZ DE BOTÃO

mês de março estava chegando, e com ele, se aproximava o pior dia do ano para Mirella: o primeiro dia de aula.

Mirella já tinha superado com êxito grande parte de sua vida escolar, e após concluir o jardim I, II e II, tirou de letra o prezinho e agora já se sentia quase adulta: estava começando a primeira série de um ensino “de verdade”, como dizia ela.

Mirella era uma menina simpática, agitada e tagarela e isso fazia com que ela vivesse rodeada de amiguinhos, mas antes de firmar esse pacto de amizade, vinha sempre o mesma dilema: explicar a origem do seu nariz de botão.

Adepta dos cabelos ruivos por nascença, e de algumas sardas que ela já começava a ignorar, Mirella não tirava dos pés uma botinha preta feito coturno de exército, e também não dava descanso pra uma saia de pregas, estilo escocesa, que ela ganhou de sua madrinha e que ela AMAVA... se sentia super bem naquele modelito, apesar dos seus modestos 7 aninhos de idade.

Costumava, ainda, transformar sua linda e comprida madeixa, numa longa trança ou em duas charmosas maria-chiquinhas, que a tornavam ainda mais cheia de graça.

Mas todo esse visual só era possível nos finais de semana, feriados ou nas férias, pois principalmente a partir de agora, ela tinha que se adaptar ao uniforme do colégio.

Mirella simplesmente adorava o seu visual, que fazia dela alguém de personalidade, apesar da pouca idade, mas ela ainda não se sentia totalmente realizada....sonhava com um piercing no nariz, mas imagine se seus pais iam permitir uma aberração dessas.... para eles, esse tipo de coisa era pra roqueiro e desocupado, e depois, ela só tinha 7 anos......

Complicado ter 7 anos... ela queria logo chegar nos 17, e aí sim só faltaria um ano pra ela ser totalmente responsável pelos seus atos.

Dona Mariana, mãe de Mirella era costureira, e trabalha em casa mesmo, num quartinho que Seu Paulo fez questão de mandar construir no terreno dos fundos, resultado de suas economias de muitas horas extras no banco ao qual já se dedicava há 10 anos.

Muito arteira e curiosa, Mirella vivia em volta da mãe, sempre interessada em coisas diferentes que Dona Mariana pudesse se aventurar a fazer, mas nada mudava e Mirella já estava cansada de ver sua mãe apenas usando botões para fechar blusas, vestidos e camisas, e um certo dia passou observar melhor aquele caixinha de papelão que trazia os mais diversos tipos de botões , nos mais variados tamanhos e cores.

Redondos, quadrados, pequenos, grandes, azuis, verdes e até alaranjados... que lindos! Havia, ainda, alguns em forma de bolinhas bem pequenas, alguns que pareciam pérolas e outras até de cor prata, que a fez lembrar imediatamente do seu sonhado piercing....

Fechou então os olhos, fez uma careta e em poucos minutos estava sonhando acordada, imaginando-se com sua botinha preta, sua saia escocesa, suas maria-chiquinhas, e aquele belo e improvisado botão prata como um piercing no seu nariz.....

Ficou ali, se imaginando assim durante um tempo, e a força do pensamento e do desejo foram tão fortes, que quando voltou à realidade, sentiu-se diferente....

Levantou-se bruscamente do chão onde estava sentada e foi se olhar no espelho e... SURPRESA !!!!! Aquele botãozinho prateado tinha como que saltado da caixa e se instalado no seu nariz, como se fosse um piercing...

Mirella estava ENCANTADA, mas também bastante preocupada...

Como ela iria explicar tudo isso para sua família?

Ninguém ia acreditar nela e todos iam pensar que ela havia desobedecido a ordem de seus pais... isso nunca!!!! Mirella podia ser um pouquinho rebelde, mas respeitava os pais como ninguém.

Foi quando sua mãe, terminando de casear mais uma camisa, voltou os olhos para sua filha e quase caiu pra trás ...

- O que foi isso Mirella? Como esse botão foi parar no seu nariz? O que vamos dizer para o seu pai?

- Mas mãe, eu não tive culpa - disse Mirella tentando se justificar - eu apenas fechei os olhos e imaginei que tal botãozinho pudesse substituir o meu sonhado piercing, e quando voltei a mim, e me olhei no espelho, lá estava ele.... mas ficou lindo, não ficou?

E sua mãe, vendo a felicidade de Mirella, resolveu deixar o sermão para uma outra hora, e acreditou na estória da filha. Tudo bem, disse ela. Creio que sei como convencer seu pai a compreender essa situação... Afinal de contas, antes um botão no nariz, que um zíper na boca... vai que o zíper emperra e você não pode mais contar suas lindas e criativas estórias?


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