Sempre gostei de pão! Quentinho então, uma verdadeira tentação!
Cresci vendo minha mãe fazer pão em casa e o final de tarde de sábado
era sempre agraciado com aquele cheirinho maravilhoso que se misturava ao
cheiro de faxina feita e da cera Canário amarelo, em pasta, que se confundia
com o por do sol que também era sempre convidado para o lanche.
Desafio mesmo era esperar o pão esfriar um pouco e tudo o que
conseguíamos era deixar de lado nossas brincadeiras de criança e mal lavadas
mãos, sentávamos à mesa extasiados diante daquela cena de manteiga derretida.
Chá Mate Leão foi sempre o meu preferido acompanhante e quente ou frio
fazia as vezes do café com leite, nem sempre presente, mas a Doriana não podia
faltar.
Cansada, sigo escrevendo, e de repente percebo que meus olhos descansam em um porta retrato na
estante, tendo como protagonistas eu e minha mãe.
Minha família sempre foi carente de lembranças e fotografias, mas como
eu gosto de sair por aí tirando foto feito japonês em viagem de férias, sempre
que a visitava, levava a câmera pra passear.
Geralmente ela era arredia a fotos, ora porque a roupa estava
inadequada, ora porque o cabelo estava despenteado, ora porque não tinha
passado perfume ou porque não tinha escovado os dentes. Mas naquele dia ela
acabou cedendo.
Era o mês de outubro, aniversário do meu irmão, e meu pai também tinha
sido convidado para o almoço, que tinha como principal coadjuvante, um
delicioso empadão de frango que só ela sabia fazer.
Lembro que tivemos o almoço mais harmonioso que nossa pequena e
fragmentada família já havia vivenciado,
faltando apenas a presença do meu querido irmão que mora do outro lado do
oceano. De repente, como que num toque de varinha de condão, o telefone tocou e
feito aquela pecinha do quebra-cabeça que faltava, ele também se fez presente e
a saudade doeu no peito.
Depois de quase três décadas separados, minha mãe se deixou fotografar
ao lado do meu pai e tiramos muitas fotos... mal sabíamos que seria seu último
flash.
Exatos dois meses depois ela partiu pra junto das estrelas e cada vez
que a noite se faz escura, ela brilha nos lembrando que nasceu e morreu pra
brilhar.
Sua presença se faz ausente e seu lugar na mesa permanece vazio, mas
minha alegria de criança ao ouvir aquele cheirinho de pão saindo do forno,
ficará pra sempre no caderninho rosa de minhas boas lembranças, eterno como as
fotos que pintam de infinito nossos melhores momentos.
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