sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Um país sem voz, que grita



Quinta-feira à noite. Aniversário de uma amiga que completa 51 anos de boas ideias, e eis que tomo conhecimento de uma, das GRANDES!

Livraria lotada, poucas cadeiras, e à frente de um maravilhoso projeto, JP, fotógrafo, 32 anos, solteiro e pai. Alto, moreno, vestido como um afegão, tenta controlar o nervosismo em sua palestra de número 1!

Relata que sua carreira é recente e iniciou em 2010, fotografando aniversários de 15 anos, casamentos e bodas. De repente, decidiu que queria fazer foto documental. Encaminhou mais de 30 currículos e recebeu apenas uma resposta, destino Afeganistão, ao qual não pode dizer não.

Embarcou no final de março e passou 26 dias em Cabul.

Ao chegar no aeroporto, ficou sabendo que queriam explodir o avião em que estava, recheado de sul-coreanos. Ao pegar o que chamavam de “ônibus”,  para chegar ao saguão do aeroporto, percebeu que o veículo não tinha porta e estava completamente alvejado... foi aí que rezou para pelo menos chegar ao hotel.

Conseguiu pegar um táxi (todos são Corolas brancos, da Toyota) e ao chegar no hotel onde tinha reserva, simplesmente não pode se hospedar pois o local havia sido bombardeado.

Seguiu então para outro Hotel, onde pôde se sentir um pouco mais seguro, se é que isso seria possível.

Precisava sair às ruas para fotografar e logo nos primeiros dias já foi preso, numa detenção que durou 5 horas e 15 minutos.  Quinze minutos de reclusão e 5 horas de muito chá como os policiais. Dizendo que era do Brasil e tentando se comunicar com seu bad English, acabou por fazer amigos, ganhando, inclusive, uma roupa típica da região, vestimenta essa que o acompanhou pelos 22 dias restantes de sua aventura.

Fez muitas fotos e por trás de cada uma há uma história a contar.

A que muito me impressionou, foi a do senhorzinho que “batia o tapete” para que o visitante pudesse entrar. Em volta de um cercadinho de pedras, com os chinelos/sapatos na entrada, usou o restinho de água que possuía para lavar as mãos e poder cumprimentar aquele que só queria autorização para tirar uma foto. 

Detalhe, ali era sua casa e estava sendo hospitaleiro ao oferecer ao visitante sua última xícara de chá.  Uma generosidade que comove.

Crianças saindo da escola, felizes apesar de tudo, mulheres cobertas, mas sem esconder uma vaidade ainda oculta, homens procurando emprego, animais dividindo lixão com crianças famintas, ruínas, pobreza, lágrimas, indignação.

Tudo registrado de uma forma bastante peculiar, num olhar que vai além da câmera fotográfica,  chega no coração!


P.S. Dedico esse texto ao meu irmão, que não mora no Afeganistão, mas fez morada do outro lado do oceano e cuja semelhança física com o protagonista dessa história é gritante e fez meu coração doer de saudade...




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