9 anos era a idade dele.
Pouca idade, mas que já trazia consigo um sorriso brejeiro.
Brejeiro, desconfiado e teimoso. Até hoje.
Cabelos lisos e negros combinavam com os expressivos olhos de jabuticaba.
Adorava manga e não se contentava em apenas ter sua lambuzada companhia amarela.
Sua energia de criança criava corpo quando se via diante de um pé, e carinhosamente o beijava.
Fosse num quintal alheio, fosse numa avenida de todos, era só a mãe se distrair, e lá estava ele a escalar a árvore feito um Everest.
O tempo passou e tomou gosto não só pelos montes, mas também pelas cordilheiras, pelos arrecifes, pelas planícies, pelos relevos. Apaixonou-se tanto pelas terras áridas e desertas do sertão, como pelas geleiras da Antártida.
Os anos vingaram e virou professor de menino.
Menino que um dia ele foi. Menino que hoje não é mais, mas cuja criança lambuzada de manga ainda ocupa um lugarzinho nostálgico, lá no fundo desse coração cigano e amarelo.
Cresceu, e com ele viu nascer o desejo de desbravar novas terras, pisar em novos solos, experimentar novas iguarias, fotografar novas paisagens, viver novos sonhos.
Cresceu e começou a se encantar, mesmo que sozinho, como se sua companhia bastasse, apesar de alguns momentos querer estar com alguém especial para dividir os novos olhares.
O tempo passou, e aquele menino viciado em manga ainda sobe em árvores, mas precisa da ajuda de uma escada, pelo menos até uma certa altura. Depois, ainda resgata aquela criança sapeca e agitada e se aventura na arriscada escalada ao topo do pé de mimosa.
Continua brejeiro, desconfiado e mais teimoso do que nunca.
Só a fruta mudou.
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