quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Noite funda



Um gato caminha pela rua de pedras ainda molhadas, na cidade iluminada pelos lampiões.
E a madrugada chega, na companhia não muito bem-vinda da neblina, que torna o cenário ainda mais úmido.
Úmido, indigesto e assustador.
O negro do céu se apresenta iluminado apenas pelas tímidas chamas que o curto pavio da lanterna sugere.
Mulheres, no melhor dos seus longos e espalhafatosos vestidos, oferecem insinuantes decotes nas calçadas. 
Homens embebedados pela noite que cambaleava, tentam alcançá-las, mas tudo que suas mãos conseguem tocar é o ar, que de puro, nada tinha.
Canções enjoadas são entoadas por instrumentos já tontos.
Do outro lado da rua, Tango, cabisbaixo a vagar, descompassado.
Brigou com Tequila.
E no auge de sua fúria, lembrou de Morgana, prima da Miucha, sua cachaça para as horas de desalento.
Na frente daquele bar. De ressaca.
Pelo macio, branco e olhos azuis. No momento, avermelhados pelo etílico alheio, mas cujas lágrimas de estrangeiro nada trazia.
Apesar do coração felino e arredio, mais uma noite cria raízes.

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