quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Lacre





Dentre tantas a escolher, uma em especial lhe chamou a atenção. E dessa vez não foi nem pelo tom, apesar de ser uma amante incondicional das cores.

Num fase complicada da vida, procurava por uma abertura, uma cavidade, uma brecha, uma aresta, um buraco, uma cissura, uma fenda, uma greta.
Pensamentos confusos e carências latentes a levaram a uma porta que pensava fosse conhecida.

Ilusão sua!

Ansiava por um (re)começo, um rasgão, um acesso, uma passagem, um atalho, uma trilha.

Sonhava com um umbral que se materializasse e a levasse pela mão ao seu interior.


Decidida, parou de buscar fora o que na verdade sabia que estava dentro. 

Não no outro, mas nela própria.

Diante da porta verde de número 8, não se reconheceu. A porta literalmente não falava a sua língua. Sem compreender, se sentiu incompreendida. E a comunicação se desfez. Não se fez.

A entrada não aconteceu. A transição foi interrompida. Bloqueios se instalaram.

Diante de uma porta estrangeira, ela recuou e voltou para suas origens.

Se agarrou ao bê-a-bá da mãe e gritou por socorro! Sua criança interior precisava de colo.

De repente, a porta se abriu. Mas aí já era tarde! 

Ela tinha se trancado dentro de si e jogado a chave fora.

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