quinta-feira, 17 de abril de 2014

Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre. "
Carlos Drummond de Andrade ANDRADE, C. D. Receita de Ano Novo.  Editora Record. 2008.






Querido Carlito,                                                         

O tempo segue no seu voo acelerado e uma vez mais chegamos ao final de um ano que está prestes a se tornar velho muito em breve.
Os ânimos já estão cansados e parece que até uma pena, pesa... Psicológico? Talvez.
É como se a palavra NATAL fosse sinônimo de comércio, presente, roupa nova, sapato novo, carnê novo, dívida nova...
E as crianças, coitadas, sempre na ansiedade de sentar no colo do Papai Noel, e num sorriso (ou choro) balbuciar xissssssssssss.
As pessoas ficam enlouquecidas e as lojas infelizmente agradecem, cultuam e aplaudem tamanha falta de bom senso, contanto que o lucro seja bom na mais lucrativa festa do ano, o famoso e gritante capitalismo selvagem.
Que pena!
Me desculpem os não religiosos, mas cresci ouvindo minha falecida mãe nos lembrando que o aniversariante do dia 25 de dezembro era bem outro e que a festa deveria ter uma outra conotação.
Me desculpe, também, tamanho desabafo, mas precisei exorcizar tudo isso no sentido de respirar fundo e  agradecer .
Enquanto todos fogem da originalidade encaminhando os costumeiros cartões de Natal, e alguns aderem ao digital e coisa e tal, você não!
Gentil, suave e sensivelmente me encaminhou algo lindo através do quase “démodé” carteiro, que enfrentando a bravura do meu pequeno Nicolau, deitou um belo envelope em minha caixa de correspondência.
Uma receita!!!
Adoro receitas, amo cozinhar e aproveitando que essa época é bem propícia para deletarmos as dietas e regimes, salivo, saboreio e já me delicio com tamanhas guloseimas e as poéticas são as melhores pois engordam apenas a alma...
Que lindo! Um ano colorido com sementinhas do vir-a-ser... vou plantar algumas no jardim lá de casa.
Que bom que você está me isentando das famosas listas, apesar de que ainda acho bom colocar no papel nossas prioridades, nossos planos, nossos desejos, nossos sonhos, apesar de que chega dezembro e são poucos os itens riscados, o que deixa um gosto amargo de dever não cumprido.
Obrigada por me lembrar que um novo ano cochila e adormece dentro de mim... Com certeza ele despertará com os fogos de artifício que gritarão na madrugada do dia 1º e isso me fará lembrar de você e de que somos ambos merecedores de um bom e renovado ano novo!

Abraço sempre apertado,
Beatriz

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