segunda-feira, 4 de abril de 2011

NOITES ENSOLARADAS


        Lá longe, muito longe do barulho dos carros, do ronco das motocicletas e do irritação que envolve as pessoas da cidade, num ambiente de muito ar puro e muito verde, vivia uma família simples, cujo pai se dedicava ao plantio de frutas e verduras e a mãe, a confeccionar colchas de retalho para o sustento da casa.

Sr. Ramiro e Dona Anna criavam com dificuldade seus quatro filhos que tinham sido abençoados com lindos nomes: Luna, Cristal, Clara e Sol, sendo este o caçula e o único menino da casa.

Crianças sensíveis e especiais, eram o maior tesouro que uma família poderia ter.

Como os próprios nomes sugerem, Luna amava as noites de lua cheia, e não se cansava de sonhar olhando as estrelas.... Cristal era de uma pureza e sensibilidade inconfundíveis; Clara, era de uma luminosidade fora do comum, sempre pronta a ajudar os outros e Sol, tinha também o seu brilho, mas em dias nublados, ficava igualmente “apagado” ....

A família passava por muitas dificuldades ao longo do ano, mas o carinho e o amor dos filhos para com os pais não os deixava desanimar, e era vendo as crianças crescerem saudáveis e felizes que o casal suportava a dureza do dia-a-dia.

Luna era encantadora, mas se comportava de maneira diferente durante o dia e durante a noite. Era como se ela passasse o dia esperando as estrelas povoarem o seu e os seus sonhos. Ficava ansiosa para que o negro do céu trouxesse o brilho de suas amiguinhas, com as quais costumava conversar toda noite. Moravam num lugar bastante quente, e era comum Luna adormecer com a janela aberta, depois de muito confabular com as distantes e iluminadas amigas.

Cristal, bastante transparente e sensível, não escondia uma certa preocupação com a irmã, que insistia em se identificar com a noite e amar a lua como se fosse um membro da familial.

Clara, também portadora de um coração de ouro, completava esse trio de meninas que encantavam a todos e eram admiradas por onde passavam.

Mas havia Sol, o irmão caçula, que literalmente dava mais brilho à família, e passava horas de seu dia a brincar sob a luz do calor dos dias quentes. Caçula dos quatro filhos, era para onde todos os olhos se voltavam cada vez que algo acontecia, preocupados por se tratar de um menino miudinho e  tímido, mas muito afetivo e carinhoso.

Sol, na maioria das vezes, brincava sozinho, enquanto suas irmãs ajudavam os pais nas tarefas da casa, e quando se reuniam, após o jantar, acabava nos braços de alguém, já adormecido, após a contação de histórias que Dona Anna e Sr. Ramiro faziam questão de manter ao longo dos anos.

Assim como suas irmãs, Sol tinha uma sintonia muito grande com o seu nome e com o que ele representava para todos.
       
         Há quem goste de dias nublados ou chuvosos, mas Sol especialmente se sentia triste e desolado em dias assim, e sua família não conseguia entender por quê.

        Até Luna, que amava a lua que aparecia quase todas as noites, aceitava sem grandes problemas os dias sem estrelas, pois as mantinha na imaginação como se elas estivessem sempre lá, no alto do negro céu, e diante disso, resolveram investigar o motivo de tanta tristeza por parte de Sol.
       
      Cristal, sempre muito sincera, achava que deviam mostrar ao irmão a beleza e a importância que um dia nublado também trazia, e Clara e Luna concordaram com ela.

Certo dia, após mais uma linda história narrada por Sr. Ramiro, as irmãs resolveram manter Sol acordado por mais um tempo e passaram a apresentar ao irmão muitas razões pelas  quais um dia nublado poderia ser igualmente apreciado. Falaram do aconchego que um dia assim oferece, e que  completo fica, se ainda se acompanhado de uma chuvinha fina... Do calor do fogão à lenha, que sempre trazia as pessoas para mais perto uma das outras... Do chazinho quente que também trazia paz ao coração, mas nada disso fazia com que o menino que se confortasse com um dia sem sol...

Muito tímido, dificilmente falava olhando nos olhos das irmãs ou dos pais, e tudo o que conseguia expressar, era que só sentia seu coração feliz quando brincava sob a luz e o brilho do amigo sol.

Sol já estava com seis anos, mas sempre muito fraco e pequeno demais para a sua idade, geralmente contava com a ajuda de alguém da família para fazer as coisas, ou seja, dificilmente fazia algo sozinho.

Certa tarde, Luna conseguiu se aproximar do irmão, e sem assustá-lo começou a relatar sobre o seu amor pelas estrelas, sobre suas conversas com elas, e sobre como se sentia quando o céu estava repleto de nuvens e elas não apareciam... Disse que de tanto olhar pra elas, era só fechar os olhos que elas permaneciam na sua imaginação, com o mesmo brilho e mesma beleza. Falou, falou e falou, e viu que Sol ouvia meio indiferente, não entendendo muito bem o que a irmã dizia... Permanecia olhando para o chão, sem fixar seus olhos nela, e foi aí que Luna percebeu algo estranho nos seus gestos... era como se ele não a enxergasse e sabia onde ela estava apenas pelo tom de sua voz....

Diante disso, Luna chamou seus pais e suas outras irmãs, que preocupados, mas sempre afetuosos, ouviram o que o pequeno Sol tinha a dizer.

O menino ficava triste quando o sol não aparecia, pois era como se algo faltasse à sua sobrevivência... Adorava sentir o calor na sua pele, e ficava horas brincando, aquecido por essa energia que para ele era tudo.... Nos dias nublados, não podia apelar para a sua imaginação, assim como  Lua fazia com as estrelas, pois nunca tinha visto o amigo sol nascer à sua frente....

Sol tinha nascido cego, mas agora, mais aquecido pelo amor de sua família, com o tempo aprenderia a apreciar a chuva, e a criar dentro de si um arco-íris ainda mais colorido do que aquele que é visto por aqueles que não enxergam com o coração...



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