domingo, 2 de junho de 2019

Doces lembranças







Nasceu em novembro, talvez por ser mês de frutinhas vermelhas e suculentas.

Fez um aninho e ganhou um bolo em forma de coelho, com recheio de morango, coberto com coco e no pescoço um charmoso laço escarlate.

Cresceu livre, pulando amarelinha, jogando bolinha de gude, andando de carrinho de rolimã, jogando caçador e brincando de polícia e ladrão, onde preferia ser sempre polícia. Também gostava das poucas bonecas que tinha e nunca esqueceu um fogãozinho de quatro bocas com panelinhas que ganhou da mãe.

Desde então já cozinhava e a cada tentativa, o arroz ficava mais tenro e macio. Margareth, sua boneca, era sua cobaia, sempre obrigada a saborear tal prato, fosse almoço, fosse jantar.

Costumava também fazer uma deliciosa sopa de pedrinhas, que mesmo depois de horas de fogo, teimavam em ficar crocantes.

Suco de limão sempre foi o preferido. Limão do pé, tirado na hora. Orgulho da casa, ao lado das irmãs laranjeira e mimoseira.

Adorava quando chegava sábado. 

Primeiro porque não precisava se despedir da mãe que saia diariamente pra trabalhar. Segundo, porque a cera canário amarela em pasta entrava em ação no assoalho de madeira que aguardava ansiosamente...

O aroma só se fazia coadjuvante diante do cheirinho de pão caseiro assando no forno no final da tarde....protagonista sempre aplaudido por mãozinhas pequenas que adoravam segurar uma fatia com a manteiga derretendo e se equilibrando feito um artista de circo na corda bamba.

Televisão não havia, mas uma rechonchuda bacia de pipoca sempre fazia companhia, principalmente nos dias de chuva, quando os olhinhos ficavam igualmente aguados ao ver a mãe sair para mais um dia de trabalho.

Bolo, morango, coco, limão, laranja mimosa... doces lembranças de uma infância boa que ainda hoje recheiam e cobrem um coração nostálgico, sensível, choroso, porém, muito grato!

Obrigada mãe! 

A você todos os meus doces, trazendo um pouco de alegria a essa vida às vezes tão amarga.

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