segunda-feira, 10 de junho de 2019

passado, PRESENTE, futuro





Outro dia, numa sala de hospital, depois de horas de espera para mais um exame, sentou ao meu lado uma moça e começamos a conversar.

Ela perguntou qual era o meu problema, e mais uma vez me pus a relatar o motivo que tinha me levado a um tratamento oncológico.

Uma mera dor nas costas, a ideia de no máximo uma hérnia de disco, e o resultado de um tumor maligno bem no meio da coluna.

Uma cirurgia, sessões de radioterapia e atualmente, quimioterapia "home office", de casa mesmo, via coquetel semanal de comprimidos, e tudo bem, pois me sinto ótima, deixando de lado o medo dos efeitos colaterais.

Quando terminei minha breve história, ela começou a dela.

Também começou a sentir dores nas costas, mas imaginou ser lombalgia, uma vez que é muito agitada e vive fazendo esforço.

Fez mamografia, depois ecografia, e bingo! Câncer de mama estágio 5 e apenas 37 anos de idade! Ainda ilustrou a situação com uma imagem dizendo que seria como se tivesse um seio embaixo de cada braço. Triste, muito triste!

Naquele momento tive vontade de ficar conversando com elas por horas. Pena não tê-la encontrado antes. Cheguei às 12h30, ela às 14h e fomos atendidas depois das 17h, mas também tudo bem!

Para finalizar a conversa, ela me disse a seguinte frase, que eu trouxe pra casa. 

O CÂNCER É UM PRESENTE QUE VEM EMBRULHADO NUM PAPEL FEIO.

A princípio me soou forte, mas se refletirmos um pouco, chegaremos à conclusão de que é isso mesmo, pelo menos pra mim.

Um presente que pode vir numa caixinha de papelão amassada, num pacote amarrotado ou num embrulho cujo laço cor de rosa foi esquecido.

Geralmente o baque inicial é tão grande que nos cega diante de toda essa grandeza, mas aos poucos, a aceitação e a entrega nos fazem enxergar com outros olhos.

Aos poucos vamos assimilando a dor e a finitude. Sim! Pois parece que o ser humano se acha imortal e só se vê diante da morte quando recebe o diagnóstico de uma doença crônica.

Mas isso não aconteceu comigo.

Aliás, até agora não sinto essa doença limitando meus sonhos e pensamentos, muito pelo contrário.

Lido com ela diariamente, conversamos, trocamos figurinhas e isso me faz crescer.

Ela já entendeu que eu não SOU doente, apenas ESTOU, e que finalizado o prazo dela, ela vai embora deixando o seu legado e acredito que isso acontece com a maioria das pessoas que passa por esse processo.

Trata-se de fé, de confiança, de entrega, de aprendizado, de recolhimento, de humildade, de reconhecimento, de gratidão, de amor, e se tudo isso não causar mudança, transformação, creio que nada mais causa.

E no meio disso tudo, duas palavras tem me acalentado o coração, me dando forças para seguir em frente. Com elas continuo alimentando o sonho de mais uma viagem, de mais uma caminhada, de mais escritos, de mais cafés com as amigas, de muitas risadas, de muito cinema, de mais vida e de mais encontros comigo mesma e com o DEUS que habita em mim: TUDO PASSA!

Um comentário:

  1. Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia.... Tudo passa... Tudo sempre passará... A vida vem em ondas, como o mmmaaasrrrr... _ (Canto mal, mas canto.)

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