quarta-feira, 6 de abril de 2011

SAUDADE verde e amarela

Em julho de 2009 meu irmão me mandou da Inglaterra um CD do cantor Bon Iver (For Emma, forever ago), do qual eu nunca tinha ouvido falar...

No início achei as músicas um tanto quanto melancólicas, mas aos poucos fui acostumando o ouvido, e hoje as escuto sem problemas .... bate apenas uma GRANDE SAUDADE desse meu irmão que mora do outro lado do oceano, e esta primeira canção me faz lembrar especialmente dele....


LANDO, my BROTHER, essa vai pra você, brindando esse lindo dia de sol que tivemos por aqui hoje, e que eu espero, também esteja igualmente brilhando por aí....




F l u m e

I am my mother's only one
It's enough

I wear my garment so it shows

Now you know



Only love is all maroon
Gluey feathers on a flume
Sky is womb and she's the moon



I am my mother on the wall, with us all
I move in water, shore to shore;

Nothing's more



Only love is all maroon
Lapping lakes like leary loons
Leaving rope burns --
Reddish ruse



Only love is all maroon
Gluey feathers on a flume
Sky is womb and she's the moon

AMOR ANIMAL

Primeiro chegou o KURT (Cobain), como aquele, do Nirvana, mas muito menos radical e com mais amor à vida.

Querido, sutill, amoroso, leve, fofo, meigo, dengoso, companheiro, enfim, MUITO ESPECIAL!

                                                                     KURT

Ficou conosco durante um ano e meio, repleto de dengos e mimos, mas estava apenas "emprestado" e teve que voltar as suas amadas donas....

Um vazio se instalou, mas pouco permaneceu, pois não muito longe dali, habitando provisoriamente uma manilha numa rua sem saída, encontrava-se uma linda PRINCESA (assim anteriormente denominada)... Branquinha com manchas marrons, era alimentada pela vizinha solidária, e em especial, pelo "avó" materno do Kurt, igualmente "cachorreiro".... 

Certo dia, depois de saberem da "sem-teto", um casal começou a se interessar por ela, e já não fosse essa uma tremenda sorte, outra alma bondosa que se encarregava de tirar cachorros da rua, se responsabilizou por levá-la a um veterinário para os primeiros cuidados antes de ser apresentada ao seu novo lar, e assim aconteceu....

PRINCESA ficou hospedada numa clínica, foi examinada, medicada com vermífugos e também foi castrada. 

Dias depois, Princesa virou SHAKIRA, e entrou definitivamente em nossas vidas. Ciumenta, possessiva, dengosa, carente, amorosa, sensível, hiperativa, está com os dias contados no sentido de ser tratada com algum floral canino, a fim de diminuir sua ansiedade.



                                                                      SHAKIRA

Lá se vão quase 4 anos e seguimos felizes com nossa companheira, mas dois dias atrás nos deu um GRANDE susto....

Aproveitando uma visita de final de tarde, simplesmente fugiu em disparada, totalmente desorientada, rumo a uma rua de bastante movimento, principalmente naquele horário, pouco depois das 18:00h...

Saí correndo atrás dela, mas sem conseguir fazer com ela voltasse para os meus braços, tudo o que vi foi quase o FIM.... Ainda em disparada, ela simplesmente correu em direção aos carros em movimento, e literalmente se enfiou embaixo de um deles....

Tudo o que eu consegui fazer foi gritar um sonoro "Nãããããããooooooooooo!!!!", que chamou a atenção de toda a vizinhança, que pensou que um atropelamento (humano) tivesse acontecido....

Comecei a chorar desesperada, mas para o meu espanto, SHAKIRA saiu debaixo do carro, que apesar da freada não podia parar, e ainda em disparada, continuou a correr, sem rumo, como se estivesse num campo aberto, livre, leve e solta..... e o jeito foi procurá-la de carro...

Confesso que pensei que não a encontraria mais e não me conformava pelo fato dela ter saído ilesa de quase atropelamento, que poderia ter sido até pior, causando um acidente maior, etc....

Depois de alguns minutos, acabamos por encontrá-la numa rua próxima e ao som de apenas um chamado, entrou no carro, tão assustada quanto nós...

Examinei-a e não encontrei um arranhão sequer... e dessa história chego a uma conclusão bastante "espiritual": Os animais também possuem um ANJO DA GUARDA !!!!

Shakira era o xodó da casa até a chegada da Meg.... mas isso já é uma outra história....


P.S.: Nossos agradecimentos especiais à prima Angela (que já possui "anjo" no nome), pois sem ela essa "captura" talvez não fosse possível....  :-))

segunda-feira, 4 de abril de 2011

pequenos GRANDES textos


CONTRADIÇÃO

A madame leva
seu bem alimentado
e bem agasalhado
cãozinho pra passear.

O andarilho
acorda assustado,
e com os olhos arregalados,
pergunta: Cadê meu dono?
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Comunicação. Falha.
Falha na comunicação.
DESENCONTRO.

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OUTONO

As folhas caem
ressecadas pelo verão
que se foi...
Fragilizadas pelo inverno
que está por vir,
as folhas caem...

Leves como penas,
pesam aos braços
daquele que varre
a natureza
das calçadas urbanas...


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RARIDADE

Sábado.
Hora do almoço.
Cardápios variados.
Escolhas incertas.
Cena rara...

Sobre a toalha da calçada quadriculada,
um gari saboreia
um delicioso livro
como sobremesa...
 

 
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ERVAS DANINHAS

O dia amanhece.
A vassoura descansa.
Hoje o gari sai da rotina...
Conversa com as ervas daninhas
que povoam as frestas das calçadas.
 

 
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MÁGOA

Palavras ao vento,
fogem sem destino e magoam sem querer.
Encontram
um coração fragilizado,
que as acolhe
e as mantêm enclausuradas
na garganta...

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MUTAÇÃO

De repente
a cor
deu lugar
à quase dor...
E como do dia pra noite,
a exclamação do azul
cedeu à interrogação do vermelho
e se calou na incerteza das brancas reticências....



PALAVRAS AO VENTO

Flor: 7

Palavras vêm e vão,
e de repente, como numa tempestade de idéias,
despencam da imaginação e
colorem mais uma página, até então, pálida e branca ....

No calor do chuveiro,
no desconforto do ônibus lotado,
no prazer de apreciar uma bela paisagem,
ao observar a chuva que cai ou o sol que se põe,
ou simplesmente ao despertar para mais um longo dia,
as palavras saltitam, e se multiplicam
como grãos de pipoca na panela quente...

E num piscar de olhos,
me vejo diante de mais um parto de letrinhas.....

Palavras ao vento que nascem e
já choram pelo alimento de mais um verso...

AGOSTO

Flor: 4


... e o mês de agosto chegou....

Mês do desgosto, do cachorro louco, talvez da morte... ou seria do renascimento?

Por que será que MUDAR, ROMPER, ENCERRAR, BUSCAR, assusta tanto o ser humano?

MUDAR de ares...
ROMPER com situações...
ENCERRAR etapas...
BUSCAR novos horizontes...

O homem é cada vez mais preso a conceitos, tradições, regras e medos, e tem cada vez mais dificuldade de enfrentar seus fantasmas e seguir de encontro a um final feliz, ou pelo menos um final onde a mocinha sobreviva, mesmo que sozinha...

Sobrevivência, talvez seja esse o “x” da questão...

Tornamo-nos facilmente escravos das facilidades que o monótono e sistemático dia-a-dia nos oferece, que fica quase impossível nos projetarmos numa outra “tela”, mais viva e mais colorida...

É como se não quiséssemos mudar os escuros tons que tomam conta da nossa paisagem...

Gostamos do pink, do verde e do roxo... nosso dia-a-dia está coberto de preto, cinza e marrom e não conseguimos sequer coragem suficiente pra mudar as cores da palheta, quem dirá, ousadia pra mudar a pincelada e arriscar outro “estilo” de pintura...

Falta ao homem coragem e ousadia pra lutar pelo seu real bem-estar.

Coragem que é antecedida pelo receio de não dar certo....

Ousadia pra arriscar, cair e levantar-se novamente, porque quanto maior é a queda, maior é a força que nos acompanha depois...

Infelizmente são poucos aqueles que se permitem essa queda...

Poucos os que tem olhos e ouvidos pras coisas do coração e resolvem investir nessa louca aventura, às vezes sem volta...

Quero ser um desses poucos, pois quero chegar no mais adiantado da minha idade, olhar pra trás e poder afirmar, que pelo menos eu tentei...

Que pelo menos eu consegui dar um basta na anulação que não agregava nada, muito pelo contrário, só me impedia de ser quem eu gostaria de ser.... criador, criativo, nascida no Dia da Criatividade, não poderia ser diferente, e não perceber quase que uma missão, pra continuar no comodismo do “um dia após o outro”, não combina com um espírito sedento de novos ares e novas INSpirações....

Vou em busca do desconhecido, que me aguarda no sentido de desvendarmos juntos os mistérios das cores, das dores, mas também das flores e dos amores.

Boa viagem pra mim!

Flor: 4

L U N A

De cetim, em tom de vinho tinto, era esbelta, elegante, sensível, especial, e linda, mas muito solitária.


Adorava passear, e muito saudosista, tinha doces e agradáveis lembranças da época em que acompanhava as damas às matutinas caminhadas pelos bosques da cidade.

O tempo passou, muitas mudanças vieram, e hoje, Luna passa a maior parte do tempo em casa, no escuro de uma gaveta ou no aperto de um guarda-roupa sufocante.

Mas espera aí! Nem tudo está perdido!...

Chove torrencialmente lá fora e é a chance que Luna aguardava pra dar um passeio e sair do sufoco das quatro paredes...

Luna é uma sombrinha serelepe e feliz quando o dia fica nublado e as nuvens choram de alegria, mas de repente, as singelas gotas se vão e Luna é obrigada a recolher-se a espera de mais uma boa tempestade para dar o ar de sua graça...

sombrinha - katyssombrinha - Hermiionee

- Sniff... Sniff... Mas logo, logo o sol brilhará novamente, e alguém poderá vir a lembrar-se de Luna, que tem um só sonho secreto: ver o mundo num dia de chuva, mas também apreciá-lo num lindo e radiante dia de sol.

40 MINUTOS

 

boca

 

Gritos, berros,

pequenos corpos em movimento...
Música ao fundo,
ritmo e requebrados,
e os sons se misturam....
Mais gritos, mais berros....
Pequenos corpos em movimento...
Bola rolando,
Bambolê bamboleando,
Música tocando,
pequenos corpos em movimento...
Amarelinha, dança, pega-pega,
Bambolê, e a bola continua rolando...
Olhos curiosos,
Olhares desconfiados.....
Mais gritos, mais berros,
e os pequenos corpos continuam em movimento...
De repente, o quase silêncio....
... e os gritos são abafados....
... e as vozes são caladas....
Está na hora de voltar pra sala de aula, e
lá se foi o recreio dessa linda segunda-feira de sol.

NOITES ENSOLARADAS


        Lá longe, muito longe do barulho dos carros, do ronco das motocicletas e do irritação que envolve as pessoas da cidade, num ambiente de muito ar puro e muito verde, vivia uma família simples, cujo pai se dedicava ao plantio de frutas e verduras e a mãe, a confeccionar colchas de retalho para o sustento da casa.

Sr. Ramiro e Dona Anna criavam com dificuldade seus quatro filhos que tinham sido abençoados com lindos nomes: Luna, Cristal, Clara e Sol, sendo este o caçula e o único menino da casa.

Crianças sensíveis e especiais, eram o maior tesouro que uma família poderia ter.

Como os próprios nomes sugerem, Luna amava as noites de lua cheia, e não se cansava de sonhar olhando as estrelas.... Cristal era de uma pureza e sensibilidade inconfundíveis; Clara, era de uma luminosidade fora do comum, sempre pronta a ajudar os outros e Sol, tinha também o seu brilho, mas em dias nublados, ficava igualmente “apagado” ....

A família passava por muitas dificuldades ao longo do ano, mas o carinho e o amor dos filhos para com os pais não os deixava desanimar, e era vendo as crianças crescerem saudáveis e felizes que o casal suportava a dureza do dia-a-dia.

Luna era encantadora, mas se comportava de maneira diferente durante o dia e durante a noite. Era como se ela passasse o dia esperando as estrelas povoarem o seu e os seus sonhos. Ficava ansiosa para que o negro do céu trouxesse o brilho de suas amiguinhas, com as quais costumava conversar toda noite. Moravam num lugar bastante quente, e era comum Luna adormecer com a janela aberta, depois de muito confabular com as distantes e iluminadas amigas.

Cristal, bastante transparente e sensível, não escondia uma certa preocupação com a irmã, que insistia em se identificar com a noite e amar a lua como se fosse um membro da familial.

Clara, também portadora de um coração de ouro, completava esse trio de meninas que encantavam a todos e eram admiradas por onde passavam.

Mas havia Sol, o irmão caçula, que literalmente dava mais brilho à família, e passava horas de seu dia a brincar sob a luz do calor dos dias quentes. Caçula dos quatro filhos, era para onde todos os olhos se voltavam cada vez que algo acontecia, preocupados por se tratar de um menino miudinho e  tímido, mas muito afetivo e carinhoso.

Sol, na maioria das vezes, brincava sozinho, enquanto suas irmãs ajudavam os pais nas tarefas da casa, e quando se reuniam, após o jantar, acabava nos braços de alguém, já adormecido, após a contação de histórias que Dona Anna e Sr. Ramiro faziam questão de manter ao longo dos anos.

Assim como suas irmãs, Sol tinha uma sintonia muito grande com o seu nome e com o que ele representava para todos.
       
         Há quem goste de dias nublados ou chuvosos, mas Sol especialmente se sentia triste e desolado em dias assim, e sua família não conseguia entender por quê.

        Até Luna, que amava a lua que aparecia quase todas as noites, aceitava sem grandes problemas os dias sem estrelas, pois as mantinha na imaginação como se elas estivessem sempre lá, no alto do negro céu, e diante disso, resolveram investigar o motivo de tanta tristeza por parte de Sol.
       
      Cristal, sempre muito sincera, achava que deviam mostrar ao irmão a beleza e a importância que um dia nublado também trazia, e Clara e Luna concordaram com ela.

Certo dia, após mais uma linda história narrada por Sr. Ramiro, as irmãs resolveram manter Sol acordado por mais um tempo e passaram a apresentar ao irmão muitas razões pelas  quais um dia nublado poderia ser igualmente apreciado. Falaram do aconchego que um dia assim oferece, e que  completo fica, se ainda se acompanhado de uma chuvinha fina... Do calor do fogão à lenha, que sempre trazia as pessoas para mais perto uma das outras... Do chazinho quente que também trazia paz ao coração, mas nada disso fazia com que o menino que se confortasse com um dia sem sol...

Muito tímido, dificilmente falava olhando nos olhos das irmãs ou dos pais, e tudo o que conseguia expressar, era que só sentia seu coração feliz quando brincava sob a luz e o brilho do amigo sol.

Sol já estava com seis anos, mas sempre muito fraco e pequeno demais para a sua idade, geralmente contava com a ajuda de alguém da família para fazer as coisas, ou seja, dificilmente fazia algo sozinho.

Certa tarde, Luna conseguiu se aproximar do irmão, e sem assustá-lo começou a relatar sobre o seu amor pelas estrelas, sobre suas conversas com elas, e sobre como se sentia quando o céu estava repleto de nuvens e elas não apareciam... Disse que de tanto olhar pra elas, era só fechar os olhos que elas permaneciam na sua imaginação, com o mesmo brilho e mesma beleza. Falou, falou e falou, e viu que Sol ouvia meio indiferente, não entendendo muito bem o que a irmã dizia... Permanecia olhando para o chão, sem fixar seus olhos nela, e foi aí que Luna percebeu algo estranho nos seus gestos... era como se ele não a enxergasse e sabia onde ela estava apenas pelo tom de sua voz....

Diante disso, Luna chamou seus pais e suas outras irmãs, que preocupados, mas sempre afetuosos, ouviram o que o pequeno Sol tinha a dizer.

O menino ficava triste quando o sol não aparecia, pois era como se algo faltasse à sua sobrevivência... Adorava sentir o calor na sua pele, e ficava horas brincando, aquecido por essa energia que para ele era tudo.... Nos dias nublados, não podia apelar para a sua imaginação, assim como  Lua fazia com as estrelas, pois nunca tinha visto o amigo sol nascer à sua frente....

Sol tinha nascido cego, mas agora, mais aquecido pelo amor de sua família, com o tempo aprenderia a apreciar a chuva, e a criar dentro de si um arco-íris ainda mais colorido do que aquele que é visto por aqueles que não enxergam com o coração...