segunda-feira, 11 de maio de 2015

Amor à primeira vista





Chovia muito.

Aliás, acho que eu nunca tinha visto tanta água na minha tão curta existência.

Assim como tantas outras pessoas, você também veio prestigiar a festinha de um bebê que a gente  nem podia ver, pois ainda estava encondidinho na barriga da mamãe dele.... e eu que pensava que ela tinha engolido uma melancia!

Em meio a comes e bebes, guloseimas essas que eu ainda não conhecia, lembro que a festinha terminou e que você, junto de sua doce amiga de olhos azuis se aproximaram de minha mãe e ficaram surpresas ao saber que aquela “mocinha” tão jovem tinha dado á luz uma ninhada de 10, mas que só eu e meu irmãozinho sobrevivemos.

Lembro como se fosse hoje, que nos puseram numa caixinha e de repente viramos como que a atração especial de um espetáculo. Todo mundo se agachava e nos tocava com afagos e carinhos. Meu irmãozinho sempre foi mais tímido, quieto e preguiçoso e não respondia muito aos muitos toques que nos acalentavam, mas eu... adorava mordiscar todo e qualquer que se aproximava do meu pequeno corpinho.

Minha mãe não podia ficar mais conosco e estávamos prontos para aceitar um lar que nos acolhesse e por sorte minha, você não resistiu aos meus encantos, e resolveu me levar com você!

Prepararam pra mim uma marmitinha, um pedacinho de cobertor e uma caixinha, e lá fui eu pro meu primeiro passeio de carro. Gostei, mas assim que começou a escurecer, misturado àquele barulhinho de chuva foi me dando um soninho e acabei dormindo a viagem toda.

Durante o trajeto pra sua casa, você tentava achar um nome pra mim, e foi com a ajuda da “madrinha” que escolheram NICOLAU. Adoro meu nome, apesar de muita gente não concordar com essa coisa de cachorro ter nome de gente, mas você também tem nome de cadela ou gata, não? Então está tudo certo.

Imagine que coincidência, vocês cogitaram me chamar de FRED ou FREDERICO... sabia que é o nome do meu suspeito pai? Sim, suspeito, pois nunca tivemos certeza absoluta. Já minha mãe tem um nome meio complicado de se dizer nos dias de hoje... seria afrodescendente, no feminino, diminutivo.... captou?

Pra sua surpresa, assim que chegamos em sua casa e você me colocou no chão, comecei a chorar desesperado, e não sei quem ficou aflito, se eu ou você.

Depois você me disse que não imaginava que um serzinho de 20cm, que cabia na palma da mão pudesse chorar, latir, gritar daquele jeito, mas acho que faz parte da minha personalidade, sou assim, INTENSO, desde pequeno. Ainda falando em personalidade, sou muito agitado e esperto feito minha mãe, apesar de cor de café sem leite, mas tenho o porte físico atlético do meu pai, apesar dele lembrar um doce caramelo.

De cara, adorei a casinha que seu irmão improvisou pra mim, feita de papelão, mas com muito carinho... me ajudou a me sentir em casa.

Pouco tempo depois, e eu, já mais adaptado, você me levou pra tomar a minha primeira vacina... Quase fiz xixi de tanto medo, mas aguentei firme! Devido ao meu histórico de sobrevivência, Tia Isis, a veterinária, sugeriu que eu também tomasse algo pra ajudar na minha imunidade... então, pra tem estava estreando nas picadas, foram duas no mesmo dia. Diante disso, eu poderia ficar um pouco dolorido e ia dormir bastante. 

De fato, dormi assim que cheguei, e ao acordar e sair da casinha, minha perninha estava mancando e você, coração mole, chorou por mim.... se eu pudesse, lhe diria que era um pouco de  manha minha, mas meus latidos se fizeram entender.

Dentre poucas e boas, gostaria de lhe pedir perdão por todos os arranhões em suas mãos, calcanhares e por todas as calças e vestidos que rasguei ao longo dos primeiros 12 meses... mas foi por amor e sei que você compreendeu e não guarda mágoas de mim.

Peço desculpas também por ser muito afoito e ter engolido aquela bolinha de borracha que seu irmão me 
deu de presente.... ele precisa ser avisado que é muito perigoso dar brinquedos pequenos às crianças travessas... por sorte consegui devolvê-la, depois de muito sufoco. Acho que essa lição eu aprendi.

Sabe, acho que hoje já sou um cachorro melhor... pelo menos tenho pulado menos nas suas pernas, mas ainda não resisto a um colinho toda vez que você se agacha e faz um carinho nas minhas orelhas.

Tento assumir a maturidade dia-a-dia, mas percebo que à medida que a gente vai crescendo, os “vícios” vão aparecendo na vida da gente, e hoje me sinto totalmente dependente da bolinha de borracha.

Por um lado é bom, pois deixo de pensar em besteiras nas horas vagas, mas sei que quando a gente só pensa naquilo é porque há algo de errado... será que além da veterinária eu também terei que ir a um psicólogo?

Gostaria também de lhe agradecer a companhia da minha irmãzinha Meg, que chegou na hora certa de não me deixar muito sozinho. Só lamento uma coisinha, ela não gosta de brincar de bolinha comigo... acha que é coisa de menino.

Ah! Não poderia terminar essa história sem dizer que adoro quando você me chama de MEU AMOR, principalmente  quando estou dodói ou quando você chega pra nos dar bom dia.... me sinto tão importante!

Seus colegas que me desculpem, mas quem foi que disse que não existe amor à primeira vista?

Assinado,

NICOLAU, Nico ou apenas Ni (depende da travessura)