quinta-feira, 31 de agosto de 2023

LuAzul

 



luas se debruçam na janela
duas
agosto
cor azul
o sono não chega
convido-as a entrar
uma delas aceita
faço um chá
sentei no sofá
ela preferiu a rede
ficamos ali a noite toda
ora conversando
ora ouvindo música
fiz mais um chá
cochilei no escuro
 o dia clareou
chamei por ela
a rede estava vazia
 a xícara estava vazia
e
CONTENHA A MARÉ
um bilhete dizia.






sábado, 12 de agosto de 2023

preSENTE



Os ventos, que ontem assustavam os telhados das casas e desiquilibravam árvores, se acalmaram.

Hoje sopram suave e suam frio, apesar do azul do céu e de um solzinho tímido, que não aquece.

Levantei relativamente cedo. Agasalhei meus pés com meias de lã e calcei minha pantufa que brilha no escuro.

Fiz minhas orações. Acendi um incenso.

Abri algumas frestas das janelas.

Preparei uma banana amassada com chia e gergelim, e passei um café forte.

Sentei em frente ao computador e acessei o blog de uma amiga.

Comecei a passear pelos seus textos e viajei longe. Fui até Zurique, onde ela vive hoje e fiquei com vontade de entrar no supermercado mais próximo e encher o carrinho com chocolates suíços.

Descobri que ela sonhava ser astronauta e bailarina, mas foi o marketing e as viagens que a levaram a desbravar esse mundão de Deus.

E foi numa dessas aventuras que nos conhecemos em Londres, décadas atrás. 

O chuveiro do hostel não esquentava, e ela e a amiga fizeram check out e passaram alguns poucos dias conosco, no quarto em que eu morava e dividia com meu irmão. E isso foi o que bastou para que o laço da nossa amizade fosse apertado em um lugar chamado Notting Hill.

Uma baiana, que estudava em Barcelona e depois viria a morar na Alemanha e outros tantos lugares que teve para chamar de LAR (s) - forma escandinava de Lourenço, segundo o Dr. Google e que toda vez que volta à sua terra, tem um olhar sensível e compassivo para com o seu povo.

Também fiquei com vontade de abrir o armário de sua cozinha e preparar um saboroso café com cardamomo, tudo isso ao som de Djavam e das boas lembranças que os almoços de domingo em família ainda ressoam em seu coração.

De abraçar suas primas, suas tias e as casas de suas tias.

Tudo remete a aconchego. 

Tudo acolhe.

Que AMIZADES sejam sempre assim!

Um abraço carinhoso, mesmo na distância, lembrando que que esse é ESPECIAL. É de aniversário!

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Este texto foi escrito no dia 14 de julho, mas foi publicado hoje, quase um mês depois, como presente de aniversário a essa amiga que está tão longe fisicamente, mas que consegue estar aqui perto, sentada ao meu lado, conversando e tomando café, sem açúcar, e acompanhado de um chocolate, suíço, claro!  

Ciça amada, este texto é pra você! 

Que chegue aí, inteiro, sem amassados no embrulho e com o laço amarelo ainda perfeito.

Abraço amoroso, sempre!




Cheirinho de bolo

 


Dias de chuva me chegam devagar.
Me levam a pensar. 
Me voam pra longe. 
Me distanciam o olhar.
Me aproximam do aconchego, que abraça. 
Me fazem espiar pela fresta da cortina, 
com uma mão na xícara de chá e a outra também. 
Assim, feito carinho de mãe.
A lindeza de hoje é de maçã, uva-passa e canela.
O cheirinho, de tão bom, chegou no céu.
Até o sol sentiu e quis vir para o chá das cinco,
mas perdeu a carona na última nuvem que passava.
Quem sabe na semana que vem.
Hoje o dia é do sábado, que se vestiu para passear de cinza, 
com bolinhas da mesma cor. 




sábado, 5 de agosto de 2023

P a i



Lembro que um dia, ao comentar algo sobre meu pai, uma amiga ficou me olhando espantada e me disse: "nossa! não sabia que seu pai ainda estava vivo!"

E ela tinha razão! Nunca fui muito de falar do meu pai, talvez por minha mãe sempre ter ocupado os lugares de protagonista e coadjuvante na família.

Na minha infância e parte da adolescência não tive como escapar, mas quando adulta, fugi!

Às vezes pra longe. Às vezes por um tempo longo. Mas voltava!

Com a partida de minha mãe, acabamos nos aproximando mais.

Ele me ligava toda semana e nos encontrávamos uma vez por mês para um churros com doce de leite, que me deixava preocupada, afinal de contas ele estava diabético.

Bons momentos a gente não esquece; pena que os maus também não!

Mas já faz um bom tempo que fiz as pazes com isso tudo.

Ficou lá atrás! Numa gaveta trancada, cuja chave joguei fora...aliás, a gaveta também!

Preferi colecionar apenas as boas lembranças, como por exemplo a profissão de bombeiro (achava lindo ele fardado), o fato de ter sido autodidata na música e o hábito de usar chapéu.

Ahhhhhh! Como eu gostava de vê-lo tocar a música Brasileirinho no cavaquinho. Sempre tive orgulho dele ter aprendido sozinho também a tocar violão, e se eu não me engano, ainda tocava gaita de boca...

Interessante esse assunto ter povoado minha mente neste sábado de sol.

Um dia em que eu talvez estivesse ligando pra ele e dizendo que amanhã iria almoçar lá.

No cardápio, provavelmente teríamos uma tainha recheada assada e arroz com camarão e eu levaria uma sobremesa para adoçar a vida que por tantas vezes nos foi tão amarga.

Depois de lavarmos a louça do almoço, sentaríamos no sofá e ficaríamos ouvindo as mesmas piadas do mesmo repertório de sempre, que vinha se repetindo há muitos e muitos anos, já na espera do café da tarde.

No meio de algumas narrativas, interromperíamos dizendo que ele já tinha contado aquela, mas em outras, apenas ouviríamos e daríamos risada, não por acharmos engraçado, mas justamente por já termos ouvido aquilo tantas e tantas vezes.

Dessa vez não comprei presente e tão pouco telefonei.

Fiz um bolo de laranja, mas acabei de saber que o dia dos pais é na semana que vem.











WALDIR AZEVEDO - Brasileirinho - original


         ... porque essa música me lembra meu PAI, e
                     de repente, tudo esqueço! ♥ 

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

reFLEXÕES




Percebo crescer em mim uma insatisfação pertinente aos artistas.
Precisam de público!
Arte é criada para ser vista, admirada ou mesmo ignorada, mas vista!
Música, dança, pintura, escultura, teatro, literatura, cinema.
Escritores escrevem para serem lidos!
Não sou nem escritora, nem artista e o que faço talvez não seja arte, mas tem me incomodado o fato dos meus textos não alcançarem as pessoas...
Blog já é algo obsoleto, assim como os e-mails e as chamadas telefônicas. 
As pessoas não param nem para ler nem mensagens de whatsApp com mais de três linhas, imagine textos que ultrapassam a fronteira das 15 linhas impostas por antigas redações.
Mas sigo escrevendo, aliás, tenho escrito quase que compulsivamente e às vezes percebo que a gaveta deste velho blog já se encontra abarrotada...parece que precisa alçar novos e altos voos...
Gostaria de contar com mais gente me lendo e entendo que o mundo está muito ocupado para tal privilégio, mas também sonho com mais pausas numa rede, num sofá ou no tapete da sala.
Gostaria de gente rindo, chorando, se emocionando diante de minhas narrativas, como aconteceu hoje pela manhã.
Recebi uma vídeo-chamada com voz embargada da Itália, dez segundos de duração, apenas para dizer o quanto um texto que escrevi sobre a minha mãe lhe havia tocado.
Ah! Quem dera que sempre fosse assim!
Seria o caso de começar a sussurrar meus textos nos ouvidos alheios?
Sim, pois nos dias de hoje, a escuta me parece mais disponível do que olhos para repousar nas palavras.
Contradições à vista!
Logo eu, que preciso de silêncio e solicitude para criar, escrever, pintar, rabiscar ou não fazer nada, estou aqui pedindo plateia e aplausos.
Gosto do silêncio que acolhe a minha companhia.
Às vezes, me basto!
Outras, nem tanto!
Contemplo, me encanto, admiro e me espanto!
Ou espanto! 

minhocas na cabeça



Venho me sentido inquieta, angustiada, pensativa, questionadora, desconfiada ultimamente.

Não que antes eu não fosse, mas por conta de tudo o que aconteceu desde o dia 21/11/2018, muita coisa mudou aqui dentro...e fora também.

Minha cabeça e meu coração se voltaram para o que chama sobrevivência, e picuinhas do dia a dia não tinham mais lugar na fila do pão.

Desde então, criei um casulo onde barulhos externos não perturbavam o meu silêncio interior (roubei).

Achei tão lindo! Li outro dia essa frase e a isso davam o nome de PAZ.

E fico aqui pensando como é difícil alcançar essa paz...

Juro que tenho tentado, mas é só dar ouvidos à mente e tudo acaba em ruído.

Outro dizer que eu gosto é A MENTE MENTE, mas infelizmente continuamos acreditando nela.

De repente me vi lembrando que tenho muitos casos de doença mental na família.

E isso vai desde parentes distantes, que até já partiram, até outros mais próximos e tão amados.

Parte o coração não poder ajudá-los, mas nesse contexto todo, ninguém está imune, e parafraseando alguém "entre a sanidade e a loucura, a linha é bem mais tênue do que imaginamos"...

Outro dia assisti um filme na Netflix que me chamou a atenção pela protagonista, que é uma atriz que eu gosto, e logo no início havia um alerta dizendo que seria muito delicado que pessoas com depressão, ansiedade ou síndrome do pânico assistissem...falava sobre os tais gatilhos.

Respirei fundo e assisti! Como é difícil compreender, se colocar no lugar e ter compaixão por essas pessoas.

No meio do filme, uma fala do personagem do psiquiatra traz um poema de Sylvia Plath, ressaltando que foi um dos últimos antes dela se suicidar, aos 30 anos.

Fui em busca de algo mais sobre essa escritora, mas talvez sua fala não esteja ao meu alcance, assim como acontece com Virgínia Woolf e Clarice Lispector.

Mas um detalhe, talvez irrelevante para a maioria, me chamou atenção: ela nasceu em 1932 e faleceu em 11 de fevereiro.

Minha mãe já partir há 10 anos e 8 meses, mas nasceu em 11/02/1932.  

Para esse final não soar tão melancólico, pesquei essa imagem.






quarta-feira, 2 de agosto de 2023

lua CHEIA

 


Ontem mandei flores para a Bruna Lombardi.

Também foi aniversário de uma amiga de longa data.

Daquelas que te fazem rir o tempo todo, independente do perrengue do momento.

Fechamos mais uma vez o trio que se iniciou no dia 05 de julho, com o aniversário de uma outra querida, que há 4 décadas deixou o Rio de Janeiro para passar frio conosco, contar história e fazer jiu-jitsu. 

A outra, amadureceu no dia 25, também de julho, mas desde sempre nos dá lições de solidariedade, generosidade e espiritualidade.

Ontem foi dia de lua cheia que chegou às 15h31 e suas influências me fizeram lembrar das terríveis crises de TPM com as quais sofri por longos 40 anos.

Ontem mandei um direct para uma moça de São Paulo que conheci outro dia na internet e de quem gostaria de ser amiga.

É atriz, e assim como eu, também fez o curso de Letras. 

Tem nome de pintora, mas com "c", na companhia de uma vontade de viver. 

Escreve lindamente, fala lindamente e vive lindamente em um sítio, cercado do seu amor, também ligado às artes, dos seus cachorros, galinhas e pássaros que todos os dias pousam nas suas janelas e lhe assopram belas poesias.

Levantei pra fazer xixi.

Pensei ter ouvido pingos de chuva.

Olhei pela janela e a lua não estava mais lá.

São 2h51 dessa quarta-feira e já me sinto recuperada do furacão que passou por aqui ontem e cuja semente rendeu frutos.

Voltei pra cama e sonhei feliz! ♥

terça-feira, 1 de agosto de 2023

AGOSTO ao seu gosto




Agosto ao seu gosto. Adoro essa expressão!

Me convida à liberdade. Me motiva recomeços, movimentos.

AÇÃO foi a palavra desta manhã e com ela, veio o verbo.

E desse AGIR, fui caminhar no quintal de casa.

Passei por vários bancos. Vazios. E os fotografei.

Isso me lembrou a desaceleração cada vez mais desafiante nessa vida corrida.

Morando aqui há um ano e meio, poucas vezes vi alguém sentado ali.

E quando isso acontece, os olhos não estão voltados para o céu, hoje de um lindo azul, ou para as árvores, onde pela manhã ou no final da tarde, pássaros cantam a vida.

Estão fixos numa tela 7 x 15 que nos leva a vários lugares, mas nos rouba do aqui e agora.

O sol brilha e os pássaros cantam. 

Será? 



Doce ou salgado?


Sábado teve encontro. 

Celebração de novos ciclos. Abraços apertados. 

Fios, cores, bordados e gostosuras julinas.

Adiantei um bolo de tapioca. Com leite de coco e coco ralado. 

Especial, para um momento especial.

Tapioca é uma goma e eu gosto de bolos com estilo "apudinzados", mas para muitos, não passam de preparações abatumadas... deve ter faltado fermento...não cresceu!

Infelizmente foi esse o resultado, ou talvez a impressão da falta de crescimento que incorporei.

Não me agradou nem um pouco a ideia de misturar abraços amigos e um bolo não muito amistoso.

Pensei numa alternativa e lembrei de um vidro de palmito escondido no fundo do armário. 

A última torta salgada que fiz ficou ótima!

Cortei 1 cebola grande, 3 tomates maduros, por volta de 12 azeitonas verdes, 500g de deliciosos palmitos e temperei com sal, vinagre e azeite de oliva, feito uma de minhas saladas preferidas e reservei.

Em outra vasilha, misturei ovos, azeite de oliva, leite de coco, farinha de trigo, farinha de aveia e sal.

Juntei a "salada" a essa mistura e acrescentei fermento.

Misturei mais um pouco.

Um sorriso no meu rosto quis demonstrar satisfação.

Levei um pouquinho à boca e o sorriso amarelou... Ficou muito salgada!

Fermentou uma grande dúvida.

Levo os dois. Levo apenas o bolo doce. Levo a torta literalmente salgada ou não levo nada, nem ninguém?

Fomos os três!

E pra minha surpresa, a dupla fez o maior sucesso!

Moral da história: não subestimemos um bolo pela aparência, nem uma torta por uma bicada precoce! ♥