domingo, 26 de junho de 2011

INSPIRAÇÃO

Apesar de gostar de crianças e amar meus sobrinhos, nunca tive o desejo de ser mãe.

Costumo dizer que o filho que eu não tive está em constante gestação e um dia ainda darei à luz um LIVRO.



Dentre tantos textos e poesias que me servem de  inspiração pra isso estão algumas palavras do nosso querido
Carlos Drummond de Andrade:


"CERTA PALAVRA DORME NA SOMBRA DE UM LIVRO RARO.
COMO DESENCANTÁ-LA?
É A SENHA DA VIDA E A SENHA DO MUNDO.
VOU PROCURÁ-LA A VIDA INTEIRA NO MUNDO TODO.
SE TARDA O ENCONTRO, SE NÃO A ENCONRO,
NÃO DESANIMO, PROCURO SEMPRE.
PROCURO SEMPRE, E MINHA PROCURA FICARÁ SENDO MINHA PALAVRA".

A ARTE DE SER LEVE


Conforme comentei no texto anterior, um dos livros que mais me impressionou nos últimos meses foi A ARTE DE SER LEVE, da fantástica Leila Ferreira, e gostaria de continuar falando mais um pouco dele. Para isso escolhi um capítulo de vem muito de encontro aos meus valores, valores esses que estão cada vez mais deturpados no mundo de hoje.

O capítulo é intitulado DO BOM E DO MELHOR e transcrevo-o na íntegra no sentido de passar a mensagem completa...

"Não faz muito tempo, escrevi um texto sobre a obsessão atual com o melhor: hoje o bom não serve mais. Tem que ser o melhor - de tudo. O texto acabou circulando pela internet e eu recebi uma quantidade enorme de e-mails de quem se dizia cansado dessa busca incessante e, cá entre nós, sem sentido. Pois é. Descomplicar, na minha modestíssima opinião, passa por aí, por uma aposentadoria compulsória desse conceito de que "o melhor" é sempre melhor. Melhor para quem? Melhor por quê?

Não sei quando foi que começou essa mania, mas hoje só queremos saber do melhor computador, do melhor carro, do melhor emprego, da melhor dieta, da melhor operadora de celular, dos melhores tênis, da melhor mulher, do melhor homem, do melhor vinho. Bom é pouco. O ideal é ter o top de linha, aquele que deixa os outros para trás e nos dintingue, nos faz sentir importantes, porque, afinal, estamos com "o melhor". Isso até que outro melhor apareça - e é uma questão de dias ou de horas até isso acontecer. Novas marcas surgem a todo instante. Novas possibilidades também. E o que era melhor de repente parece superado, modesto, aquém do que podemos ter.

Quando queremos apenas o melhor, passamos a viver aflitos, numa espécie de inquietação permanente, um eterno desassossego. Não desfrutamos do que temos ou conquistamos, porque estamos de olho no que falta conquistar. Cada comercial de TV nos convence de que merecemos ter mais do que temos. Cada artigo que lemos nos faz imaginar que os outros, (ah, os outros!...) estão vivendo melhor, comprando melhor, amando melhor, ganhando melhores salários. Aí a gente não relaxa, porque tem que correr atrás - de preferência com o melhor par de tênis.

Não que se deva acomodar ou se contentar sempre com menos. Mas o menos, às vezes, é mais do que suficiente. Se não dirijo a 140, preciso realmente de um carro com tanta potência? Se não gosto do que faço no meu trabalho, tenho que subir na empresa e assumir o cargo de chefia que vai me matar de estresse porque é "o melhor cargo da empresa"? E aquela TV de não sei quantas polegadas que acabou com o espaço do meu quarto? Ou o restaurante que tem "o melhor chef", mas cada vez que vou lá sinto saudade da comida de casa? Aquele xampu, usado durante anos, que precisa ser aposentado porque existe um importado "melhor" e dez vezes mais caro? E o cabelereiro do meu bairro tem mesmo que ser trocado peo "melhor cabelereiro"?

Tenho pensando muito no quanto essa busca permanente do melhor tem nos deixado ansiosos e nos impedido de desfrutar o "bom" que já temos.

A casa que é pequena, mas nos acolhe. O emprego que não paga tão bem mas nos traz alegrias. O homem ou a mulher que tem defeitos (como nós), mas nos faz mais felizes do que o "homem perfeito" ou a "mulher perfeita". As férias que não vão ser na Europa, mas vão nos dar a chance de conviver um pouco mais com pessoas que amamos. O rosto que já não é jovem, mas guarda as marcas das histórias que nos constituem. O corpo qué já não é jovem, mas está vivo e sente prazer.

Será que a gente precisa mesmo de muito mais que isso? Ou sera que isso já é o melhor e, na busca do "melhor", a gente nem percebeu?"