segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

dezembrite




Rinite, bronquite, sinusite, e agora, DEZEMBRITE.

E como toda inflamação, traz lá os seus incômodos.

Os bolsos ficam mais sensíveis; os olhos ficam maiores que o estômago; as pernas já não dão conta de correr; o ar condicionado do shopping ataca tudo e nossas agendas tropeçam nos compromissos que de repente se tornam inadiáveis.

Pessoas que não se viram durante o ano todo, querem tomar café com bolo, mas se for panetone, melhor ainda!

Familiares que não se falam há décadas e passam a se encontrar somente em velórios, lembram de agendar almoços com parentes que de tão idosos não lembram mais nem os próprios nomes, quem dirá dos entes queridos...

Compras já se iniciam naquela fatídica sexta-feira; parcelas se multiplicam no cartão de crédito; encontros, reuniões ditas de confraternização; almoços de final de ano e o incansável amigo oculto - sintomas facilmente detectáveis.

Comida, comida, comida e mais comida! Isso quando tudo não se resume à bebida.

Piadinhas sem graça, verdades disfarçadas de brincadeirinhas e egos que murcham feito flor em verão de 30 graus ou inflam, inconformados por brilharem menos que o pisca-pisca da árvore de Natal.

Sorrisos amarelos, vestidos vermelhos, e para combinar, verdes desconfortos.

O ar pesa, a roupa pesa, a comida pesa, os relacionamentos pesam,  o ano termina com excesso de peso e desse jeito, uma bariátrica torna-se a prioridade das metas de ano novo.

Ah! E ainda tem aquele calorzinho cujo ventilador do assalariado não dá conta e só aumenta a fatura da luz no final do mês.

Janelas abertas, vestido de alcinha, e mesmo que tire a calcinha, o fogo não ameniza... aliás, nesse caso, ele só faz aumentar... Será?

Suco de limão com água com gás é bom! Mas recomenda-se não tomar à noite.

Há quem diga que cítricos tiram o sono, assim como cafeína, codeína, purpurina, gasolina e outras "inas", mas o assunto de hoje são as "ites"!

E depois de tanto besteirol junto num texto só, o jeito é me recompor, e da próxima vez entrar aqui para algo mais útil.

Talvez mais um sintoma dessa síndrome que se une ao cansaço e junto com a falta de paciência, agora tem nova roupagem. Dezembrina.





terça-feira, 14 de novembro de 2023

es PE ra



Dias de consulta de acompanhamento não costumam ser muito tranquilos, mas me convidam a escrever.

Dois anos já de autotransplante de medula óssea, com remissão completa.

Os desconfortos na coluna ainda se fazem presentes, mas eu já nem chamo mais de dor.

Dor é algo muito maior. Algo para o qual eu permaneço pequena, mas quero me manter bem longe.

Minha consulta estava marcada para as 15h.

15h10 passei pela Triagem. Não emagreci, mas também não engordei, e continuo medindo os mesmos 1.63, que um dia já foram 1.65.

Li metade de um livro e atualizei as visualizações de um Instagram quase inteiro.
Ainda bem que dizem que os últimos serão os primeiros, pois sou sempre a última paciente a ser chamada.

Dr. Matheus me atendeu. Simpático e gentil e cuja manga do jaleco dobrada exibia uma linda e grande tatuagem.

Foram 15 minutos de consulta pra me dizer que está tudo bem e que os exames de sangue e urina não apontaram nada de anormal.

Quando pensei em esboçar um sorriso de felicidade, ele me alerta: "mas a senhora sabe que a doença pode voltar, né? Aliás, ela sempre volta! Prefiro ser honesto e realista com todos os meus pacientes, mas isso independe de nós e a senhora pode contar, inclusive, com um novo autotransplante, depois de 5 anos do primeiro, se a senhora ainda estiver bem".

Senti aquele sorriso inicial amarelar um pouco e os horrores causados pelos efeitos colaterais do tratamento se colocaram bem na minha frente, de jaleco branco e tudo, mas sem tatuagem.

Fui para o ponto de ônibus aguardar mais 20 minutos pelo próximo.

Minha coluna reclama um pouco. Digo pra ela que logo, logo, chegaremos em casa, mas que ainda tem um pedacinho de caminhada.

Meu cabelo está lindo!

Acho que até o médico gostou!

O ônibus chegou.

Ainda bem que um pirulito Sete Belo me adoçou a boca e me fez lembrar que a vida é doce e acontece agora! Sol e céu azul!

Sigo otimista.

Às vezes cansada.

Ultimamente meio mal-humorada.

Mas otimista.

Ontem foi dia de pagar as contas. Cancelei a diarista. Desmarquei o homeopata.

Mas sigo otimista.

O que importa é que meu cabelo está lindo!

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Raízes afetivas

 


Hoje é Dia da Árvore.
Se eu ainda estivesse na escola talvez a professora pedisse uma redação com esse tema.
Adoro árvores.
Quando saio pra caminhar não resisto e me atraso. 
Paro para fotografar todas, ou quase.
Sou louca principalmente por aquelas cujas raízes se confundem 
com a calçada quebrada.
Estão ali, firmes, resilientes, brigando por espaço e ainda persistem,
recebendo luz e fornecendo sombra.
Os amantes das artes adoram este contraste.
E eu estou na lista dos fãs desses velhos troncos,
que envergam, mas não quebram,
feito umas e outras que conheço.
Exercitar o amor foi feito para todo dia, mas
hoje foi a data que escolhi para celebrar o companheirismo,
a parceria, a troca, a partilha, a preocupação e o carinho,
talvez por remeter a raízes e bons frutos.
Não que nesse intervalo não haja conflitos, teimosias e diferenças, 
mas entendemos que isso faz parte do pacote.
Hoje setembro faz 21 dias, mas meu relacionamento
com aquele que surgiu para apoiar meus passos
completa 22 anos e seguimos o caminho, às vezes
ainda encontrando pedras no meio dele, mas
aprendendo a apreciar também as flores.
Parece que foi ontem que pedi um suco de tomate 
no aniversário do amigo de um colega de trabalho, em um lugar barulhento
onde nada se ouvia além de um som alto.
Nada ouvimos e tudo sentimos!
Foi aos poucos. Mas para que a pressa?
O tempo, por si, continua voando, 
e com ele seguimos 
de mãos dadas.
Oito mil e trinta dias de puro amadurecimento, 
coragem, rabugices, risadas, viagens e sonhos a realizar.
Quando ficamos muitos dias juntos, às vezes ainda me falta 
um pouco de paciência com a roupa espalhada 
pela casa, mas meia hora depois 
de bater a porta e sair, já bate também a saudade...
A isso chamamos de AMR!

(sim! moramos em casas separadas, mas
nossos corações permanecem unidos) 



quinta-feira, 31 de agosto de 2023

LuAzul

 



luas se debruçam na janela
duas
agosto
cor azul
o sono não chega
convido-as a entrar
uma delas aceita
faço um chá
sentei no sofá
ela preferiu a rede
ficamos ali a noite toda
ora conversando
ora ouvindo música
fiz mais um chá
cochilei no escuro
 o dia clareou
chamei por ela
a rede estava vazia
 a xícara estava vazia
e
CONTENHA A MARÉ
um bilhete dizia.






sábado, 12 de agosto de 2023

preSENTE



Os ventos, que ontem assustavam os telhados das casas e desiquilibravam árvores, se acalmaram.

Hoje sopram suave e suam frio, apesar do azul do céu e de um solzinho tímido, que não aquece.

Levantei relativamente cedo. Agasalhei meus pés com meias de lã e calcei minha pantufa que brilha no escuro.

Fiz minhas orações. Acendi um incenso.

Abri algumas frestas das janelas.

Preparei uma banana amassada com chia e gergelim, e passei um café forte.

Sentei em frente ao computador e acessei o blog de uma amiga.

Comecei a passear pelos seus textos e viajei longe. Fui até Zurique, onde ela vive hoje e fiquei com vontade de entrar no supermercado mais próximo e encher o carrinho com chocolates suíços.

Descobri que ela sonhava ser astronauta e bailarina, mas foi o marketing e as viagens que a levaram a desbravar esse mundão de Deus.

E foi numa dessas aventuras que nos conhecemos em Londres, décadas atrás. 

O chuveiro do hostel não esquentava, e ela e a amiga fizeram check out e passaram alguns poucos dias conosco, no quarto em que eu morava e dividia com meu irmão. E isso foi o que bastou para que o laço da nossa amizade fosse apertado em um lugar chamado Notting Hill.

Uma baiana, que estudava em Barcelona e depois viria a morar na Alemanha e outros tantos lugares que teve para chamar de LAR (s) - forma escandinava de Lourenço, segundo o Dr. Google e que toda vez que volta à sua terra, tem um olhar sensível e compassivo para com o seu povo.

Também fiquei com vontade de abrir o armário de sua cozinha e preparar um saboroso café com cardamomo, tudo isso ao som de Djavam e das boas lembranças que os almoços de domingo em família ainda ressoam em seu coração.

De abraçar suas primas, suas tias e as casas de suas tias.

Tudo remete a aconchego. 

Tudo acolhe.

Que AMIZADES sejam sempre assim!

Um abraço carinhoso, mesmo na distância, lembrando que que esse é ESPECIAL. É de aniversário!

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Este texto foi escrito no dia 14 de julho, mas foi publicado hoje, quase um mês depois, como presente de aniversário a essa amiga que está tão longe fisicamente, mas que consegue estar aqui perto, sentada ao meu lado, conversando e tomando café, sem açúcar, e acompanhado de um chocolate, suíço, claro!  

Ciça amada, este texto é pra você! 

Que chegue aí, inteiro, sem amassados no embrulho e com o laço amarelo ainda perfeito.

Abraço amoroso, sempre!




Cheirinho de bolo

 


Dias de chuva me chegam devagar.
Me levam a pensar. 
Me voam pra longe. 
Me distanciam o olhar.
Me aproximam do aconchego, que abraça. 
Me fazem espiar pela fresta da cortina, 
com uma mão na xícara de chá e a outra também. 
Assim, feito carinho de mãe.
A lindeza de hoje é de maçã, uva-passa e canela.
O cheirinho, de tão bom, chegou no céu.
Até o sol sentiu e quis vir para o chá das cinco,
mas perdeu a carona na última nuvem que passava.
Quem sabe na semana que vem.
Hoje o dia é do sábado, que se vestiu para passear de cinza, 
com bolinhas da mesma cor. 




sábado, 5 de agosto de 2023

P a i



Lembro que um dia, ao comentar algo sobre meu pai, uma amiga ficou me olhando espantada e me disse: "nossa! não sabia que seu pai ainda estava vivo!"

E ela tinha razão! Nunca fui muito de falar do meu pai, talvez por minha mãe sempre ter ocupado os lugares de protagonista e coadjuvante na família.

Na minha infância e parte da adolescência não tive como escapar, mas quando adulta, fugi!

Às vezes pra longe. Às vezes por um tempo longo. Mas voltava!

Com a partida de minha mãe, acabamos nos aproximando mais.

Ele me ligava toda semana e nos encontrávamos uma vez por mês para um churros com doce de leite, que me deixava preocupada, afinal de contas ele estava diabético.

Bons momentos a gente não esquece; pena que os maus também não!

Mas já faz um bom tempo que fiz as pazes com isso tudo.

Ficou lá atrás! Numa gaveta trancada, cuja chave joguei fora...aliás, a gaveta também!

Preferi colecionar apenas as boas lembranças, como por exemplo a profissão de bombeiro (achava lindo ele fardado), o fato de ter sido autodidata na música e o hábito de usar chapéu.

Ahhhhhh! Como eu gostava de vê-lo tocar a música Brasileirinho no cavaquinho. Sempre tive orgulho dele ter aprendido sozinho também a tocar violão, e se eu não me engano, ainda tocava gaita de boca...

Interessante esse assunto ter povoado minha mente neste sábado de sol.

Um dia em que eu talvez estivesse ligando pra ele e dizendo que amanhã iria almoçar lá.

No cardápio, provavelmente teríamos uma tainha recheada assada e arroz com camarão e eu levaria uma sobremesa para adoçar a vida que por tantas vezes nos foi tão amarga.

Depois de lavarmos a louça do almoço, sentaríamos no sofá e ficaríamos ouvindo as mesmas piadas do mesmo repertório de sempre, que vinha se repetindo há muitos e muitos anos, já na espera do café da tarde.

No meio de algumas narrativas, interromperíamos dizendo que ele já tinha contado aquela, mas em outras, apenas ouviríamos e daríamos risada, não por acharmos engraçado, mas justamente por já termos ouvido aquilo tantas e tantas vezes.

Dessa vez não comprei presente e tão pouco telefonei.

Fiz um bolo de laranja, mas acabei de saber que o dia dos pais é na semana que vem.











WALDIR AZEVEDO - Brasileirinho - original


         ... porque essa música me lembra meu PAI, e
                     de repente, tudo esqueço! ♥ 

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

reFLEXÕES




Percebo crescer em mim uma insatisfação pertinente aos artistas.
Precisam de público!
Arte é criada para ser vista, admirada ou mesmo ignorada, mas vista!
Música, dança, pintura, escultura, teatro, literatura, cinema.
Escritores escrevem para serem lidos!
Não sou nem escritora, nem artista e o que faço talvez não seja arte, mas tem me incomodado o fato dos meus textos não alcançarem as pessoas...
Blog já é algo obsoleto, assim como os e-mails e as chamadas telefônicas. 
As pessoas não param nem para ler nem mensagens de whatsApp com mais de três linhas, imagine textos que ultrapassam a fronteira das 15 linhas impostas por antigas redações.
Mas sigo escrevendo, aliás, tenho escrito quase que compulsivamente e às vezes percebo que a gaveta deste velho blog já se encontra abarrotada...parece que precisa alçar novos e altos voos...
Gostaria de contar com mais gente me lendo e entendo que o mundo está muito ocupado para tal privilégio, mas também sonho com mais pausas numa rede, num sofá ou no tapete da sala.
Gostaria de gente rindo, chorando, se emocionando diante de minhas narrativas, como aconteceu hoje pela manhã.
Recebi uma vídeo-chamada com voz embargada da Itália, dez segundos de duração, apenas para dizer o quanto um texto que escrevi sobre a minha mãe lhe havia tocado.
Ah! Quem dera que sempre fosse assim!
Seria o caso de começar a sussurrar meus textos nos ouvidos alheios?
Sim, pois nos dias de hoje, a escuta me parece mais disponível do que olhos para repousar nas palavras.
Contradições à vista!
Logo eu, que preciso de silêncio e solicitude para criar, escrever, pintar, rabiscar ou não fazer nada, estou aqui pedindo plateia e aplausos.
Gosto do silêncio que acolhe a minha companhia.
Às vezes, me basto!
Outras, nem tanto!
Contemplo, me encanto, admiro e me espanto!
Ou espanto! 

minhocas na cabeça



Venho me sentido inquieta, angustiada, pensativa, questionadora, desconfiada ultimamente.

Não que antes eu não fosse, mas por conta de tudo o que aconteceu desde o dia 21/11/2018, muita coisa mudou aqui dentro...e fora também.

Minha cabeça e meu coração se voltaram para o que chama sobrevivência, e picuinhas do dia a dia não tinham mais lugar na fila do pão.

Desde então, criei um casulo onde barulhos externos não perturbavam o meu silêncio interior (roubei).

Achei tão lindo! Li outro dia essa frase e a isso davam o nome de PAZ.

E fico aqui pensando como é difícil alcançar essa paz...

Juro que tenho tentado, mas é só dar ouvidos à mente e tudo acaba em ruído.

Outro dizer que eu gosto é A MENTE MENTE, mas infelizmente continuamos acreditando nela.

De repente me vi lembrando que tenho muitos casos de doença mental na família.

E isso vai desde parentes distantes, que até já partiram, até outros mais próximos e tão amados.

Parte o coração não poder ajudá-los, mas nesse contexto todo, ninguém está imune, e parafraseando alguém "entre a sanidade e a loucura, a linha é bem mais tênue do que imaginamos"...

Outro dia assisti um filme na Netflix que me chamou a atenção pela protagonista, que é uma atriz que eu gosto, e logo no início havia um alerta dizendo que seria muito delicado que pessoas com depressão, ansiedade ou síndrome do pânico assistissem...falava sobre os tais gatilhos.

Respirei fundo e assisti! Como é difícil compreender, se colocar no lugar e ter compaixão por essas pessoas.

No meio do filme, uma fala do personagem do psiquiatra traz um poema de Sylvia Plath, ressaltando que foi um dos últimos antes dela se suicidar, aos 30 anos.

Fui em busca de algo mais sobre essa escritora, mas talvez sua fala não esteja ao meu alcance, assim como acontece com Virgínia Woolf e Clarice Lispector.

Mas um detalhe, talvez irrelevante para a maioria, me chamou atenção: ela nasceu em 1932 e faleceu em 11 de fevereiro.

Minha mãe já partir há 10 anos e 8 meses, mas nasceu em 11/02/1932.  

Para esse final não soar tão melancólico, pesquei essa imagem.






quarta-feira, 2 de agosto de 2023

lua CHEIA

 


Ontem mandei flores para a Bruna Lombardi.

Também foi aniversário de uma amiga de longa data.

Daquelas que te fazem rir o tempo todo, independente do perrengue do momento.

Fechamos mais uma vez o trio que se iniciou no dia 05 de julho, com o aniversário de uma outra querida, que há 4 décadas deixou o Rio de Janeiro para passar frio conosco, contar história e fazer jiu-jitsu. 

A outra, amadureceu no dia 25, também de julho, mas desde sempre nos dá lições de solidariedade, generosidade e espiritualidade.

Ontem foi dia de lua cheia que chegou às 15h31 e suas influências me fizeram lembrar das terríveis crises de TPM com as quais sofri por longos 40 anos.

Ontem mandei um direct para uma moça de São Paulo que conheci outro dia na internet e de quem gostaria de ser amiga.

É atriz, e assim como eu, também fez o curso de Letras. 

Tem nome de pintora, mas com "c", na companhia de uma vontade de viver. 

Escreve lindamente, fala lindamente e vive lindamente em um sítio, cercado do seu amor, também ligado às artes, dos seus cachorros, galinhas e pássaros que todos os dias pousam nas suas janelas e lhe assopram belas poesias.

Levantei pra fazer xixi.

Pensei ter ouvido pingos de chuva.

Olhei pela janela e a lua não estava mais lá.

São 2h51 dessa quarta-feira e já me sinto recuperada do furacão que passou por aqui ontem e cuja semente rendeu frutos.

Voltei pra cama e sonhei feliz! ♥

terça-feira, 1 de agosto de 2023

AGOSTO ao seu gosto




Agosto ao seu gosto. Adoro essa expressão!

Me convida à liberdade. Me motiva recomeços, movimentos.

AÇÃO foi a palavra desta manhã e com ela, veio o verbo.

E desse AGIR, fui caminhar no quintal de casa.

Passei por vários bancos. Vazios. E os fotografei.

Isso me lembrou a desaceleração cada vez mais desafiante nessa vida corrida.

Morando aqui há um ano e meio, poucas vezes vi alguém sentado ali.

E quando isso acontece, os olhos não estão voltados para o céu, hoje de um lindo azul, ou para as árvores, onde pela manhã ou no final da tarde, pássaros cantam a vida.

Estão fixos numa tela 7 x 15 que nos leva a vários lugares, mas nos rouba do aqui e agora.

O sol brilha e os pássaros cantam. 

Será? 



Doce ou salgado?


Sábado teve encontro. 

Celebração de novos ciclos. Abraços apertados. 

Fios, cores, bordados e gostosuras julinas.

Adiantei um bolo de tapioca. Com leite de coco e coco ralado. 

Especial, para um momento especial.

Tapioca é uma goma e eu gosto de bolos com estilo "apudinzados", mas para muitos, não passam de preparações abatumadas... deve ter faltado fermento...não cresceu!

Infelizmente foi esse o resultado, ou talvez a impressão da falta de crescimento que incorporei.

Não me agradou nem um pouco a ideia de misturar abraços amigos e um bolo não muito amistoso.

Pensei numa alternativa e lembrei de um vidro de palmito escondido no fundo do armário. 

A última torta salgada que fiz ficou ótima!

Cortei 1 cebola grande, 3 tomates maduros, por volta de 12 azeitonas verdes, 500g de deliciosos palmitos e temperei com sal, vinagre e azeite de oliva, feito uma de minhas saladas preferidas e reservei.

Em outra vasilha, misturei ovos, azeite de oliva, leite de coco, farinha de trigo, farinha de aveia e sal.

Juntei a "salada" a essa mistura e acrescentei fermento.

Misturei mais um pouco.

Um sorriso no meu rosto quis demonstrar satisfação.

Levei um pouquinho à boca e o sorriso amarelou... Ficou muito salgada!

Fermentou uma grande dúvida.

Levo os dois. Levo apenas o bolo doce. Levo a torta literalmente salgada ou não levo nada, nem ninguém?

Fomos os três!

E pra minha surpresa, a dupla fez o maior sucesso!

Moral da história: não subestimemos um bolo pela aparência, nem uma torta por uma bicada precoce! ♥

segunda-feira, 31 de julho de 2023

Flor-de-Lis

 


Muito religiosa, podia ter nascido Maria de Lourdes (11/02), mas Vovó Rosa decidiu-se por Suzana, que significa “pura como um lírio” e o vovô polonês enrolou a língua e registrou Zuzana, com "z".

Ainda bem que o segundo nome não tinha como errar: G e n o v e v a.

Difícil mesmo era o sobrenome – Dzworniarkiewicz – 16 letrinhas bem trabalhadas que só ela sabia pronunciar.

Nasceu em meio a cinco irmãs e apenas um irmão, Isidoro, o bendito fruto.

Infância difícil, interior, chão batido e mais de 10 km a pés descalços para a aula de catequese.

Queria ser freira. Vovô deixou, mas vovó não aprovou.

Fugindo dessa criancice pesada, cresceu logo e deu um jeito de vir para a cidade.

Com 17 anos, conseguiu emprego em uma casa de família, na capital paranaense e lá ficou, por anos e anos.

Loira, tímidos olhos azuis, encantou-se por rapaz moreno, de olhos escuros e sorriso largo.

Acabaram noivos, mas a religiosidade nunca deixou de ser sua melhor companhia.

A casa que lhe acolhera ficava em frente às vermelhas paredes do quartel do Corpo de Bombeiros de onde começou a perceber olhares que se repetiam toda vez que ia varrer o quintal ou lavar as calçadas.

Noiva que era, não dava bola, mas o admirador secreto era insistente e ousado. Só esqueceu de dizer que também era comprometido.

Olhares aqui, sorrisos dali, desmancharam os compromissos anteriores e passaram a se conhecer mais de perto.

Acabou indo morar com a família dele – pais e uma irmã, Olívia, que hoje ainda vive o auge dos seus 96 anos, sem grandes recordações.

Novos, mas também difíceis tempos aqueles! Era tratada como empregada, só que agora sem remuneração e já passava dos 30.

O mês virou e a dita não desceu. Bingo!!!

E a correria para o casório começou.

Cartório, igreja, aluguel do vestido de noiva, e de presente, um lindo bolo de presente da Dona Angelca.

Ela mesma se arrumou e lá se foram os três para selar o matrimônio.

Em poucas fotos que resultaram do evento de 31 de maio, dava para perceber o olhar torto do noivo. Vinho Sulino em excesso foi a causa e passos trançados, a consequência.

O dinheiro que ganhavam era pra comida e a curiosidade era sobre a cor dos olhos da menina.

Novembro nasceu e a primogênita chegou!

Olhos cor de café sem leite...

Época de morangos e o bolo de um aninho foi em forma de coelho, coberto de coco e com um laço vermelho no pescoço.

E assim crescemos com essa mãe trabalhadora, generosa e atenciosa, apesar da dificuldade que tinha para abraçar.

Depois entendemos o motivo. Desconhecia! Carecia de afeto.

Tinha o sonho de saber costurar.

Mal sabia ela, que retalho a retalho, passou a vida remendando o sonho de muita gente.

Quando criança, andava descalça. Já adulta, calçou pés nus e vestiu corpos carentes de vida e amor.

Seu lema era a bondade, a caridade, a compaixão, a solidariedade e o colocar-se no lugar do outro, mesmo sem saber o que significava a palavra empatia.

Sofreu violência física, psíquica e  verbal, mas o seu espiritual resistiu bravamente às injúrias, às calúnias, aos socos e pontapés.

Um dia o olho direito arroxeou, criou coragem e denunciou. Mas aí veio o medo a lhe assombrar o ouvido e abafou sua voz.

Sempre fez da sua religiosidade o seu pilar. Ali se prostrou, ali chorou e ali se levantou e seguiu em frente, ainda mais forte!

Não bastasse as dificuldades da vida, seu filho mais novo seguiu os caminhos do pai,  e por vezes amorteceu sua dor como sequela da embriaguez alheia.

Resiliência era outra palavra que ela não conhecia, mas pode ser o maior exemplo a ser guardado na caixinha das superações.

Conversadeira, vivia sorrindo, contando causos e puxando conversa. Às vezes, até um pouco inconveniente, mas foi o caminho que encontrou para disfarçar a tristeza e a angústia que sufocavam seu coração. De tão grande não cabia no peito e precisava alcançar o outro, como num abraço apertado.

Amava ajudar as pessoas e fez disso o seu lema. Foi muitas vezes explorada, mas seu coração era MAIOR e seguia emprestando aqui, ajudando ali, construindo acolá.

Nossa! Como se orgulhava de ter estudado um pouco de francês, oportunidade que aproveitou na igreja que frequentava e que ficava perto da casa onde trabalhava.

Passou em concurso público. Trabalhava na copa de uma instituição de saúde, fazendo cafezinho e comprando lanches para os funcionários.

Certa vez, no caminho para a padaria, um cão a avançou. Um motivo para visitar a benzedeira Dona Angelina, que sabia fazer cachorro de cera aparecer na parafina aquecida.

Apreciar os mais variados tipos de balas que as Lojas Americanas ofereciam também era um sonho que se concretizava toda vez que fulana ou beltrano careciam de conforto num dia difícil.

E quando os filhos estavam com dor de cabeça, então? Era só ela passar a língua na testa deles e cuspir por três vezes que a dor ia embora...não precisava nem chamar a Neusa.

Porque MÃE é assim! Opera milagre e faz mágica o tempo todo!

Marca pra sempre!

Mulher, filha, irmã, tia, vizinha, esposa, funcionária pública – GRANDIOSA em todas as instâncias!

Nasci morena, olhos castanhos e cabelo escuro, mas tive a bênção de ter escolhido essa mulher especial como minha mãe. Vestida de um azul que espelhava ainda mais o céu, foi o lugar com o qual sempre se identificou e local para onde retornou em 06.12.2012.

Depois de tanto sofrimento e tanto amor ao próximo, seu frenético coração descansou.

Mas o lírio ainda vive e pulsa, puro de corpo e alma!

Perfuma, dorme e ainda me acolhe em seus braços.


(Flor-de-lis é a representação de um lírio utilizado antigamente nos brasões e escudos da realeza francesa, associada em especial ao rei Luis VIII, quem a utilizou primeiramente em um sinete. A flor-de-lis é símbolo de poder, soberania, honra e lealdade, assim como de pureza de corpo e alma).

Feito canção de ninar.

sábado, 22 de julho de 2023

nada com coisa nenhuma

 

A – Bom dia!!!

B – Tô morrendo de sono...

A – Vou passar um café.

B – Que horas são?

A – Cadê meu celular?

B – Não dormi quase nada...

A – Açúcar ou adoçante?

B – Nossa, que noite!

A – Você viu meu carregador?

B – Não quero café! Vou voltar pra cama.

A – Pão, bolo ou sonho?

B – Pesadelos.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

eMÃOranhados

 


Há quem diga que crianças aprendem as coisas com mais facilidade.

Talvez.

Mas penso, que quando pequenos nossa dispersão e até a falta de interesse também são grandes.

Perdi minha avó paterna muito cedo e convivi muito pouco com minha avó Rosa.

Não tivemos tempo de falar sobre costura, tricô ou crochê e cresci sem contato com esses afazeres, pois havia outras assuntos mais urgentes.

Lembro que no colégio onde passei meus primeiros oito anos de estudos, aproveitei algumas aulas extra curriculares e gostava bastante; me faziam esquecer a dureza daquela época.

As aulas de Artes sempre tiveram um lugarzinho especial no meu coração, e depois as matérias de Português, Inglês e Educação Física se fizeram favoritas. 

O tempo passou, e apesar desse amor pelas artes ter ficado adormecido, ele não diminuiu. Pelo contrário, CRESCEU! 

No meu período pós-cirúrgico (e olha que os 56 pontos foram na coluna), encontrei conforto e conexão no bordado livre e criativo; processo intuitivo que alimenta a minha alma.

Em meio a fios, linhas, lãs, agulhas e tesoura, esqueço as dores, as mazelas, as sequelas e me conecto com a minha essência, onde só existe fluidez, cores, 
idas e vindas.

Minha infância e adolescência não foram permeadas por esses trabalhos manuais geralmente passados pelas avós ou mesmo mães, mas, como diz o ditado (ou quase), ANTES TARDE DO QUE MAIS TARDE!

No domingo vi uma matéria sobre uma senhora de 85 anos que faz rapel e sonha comemorar os seus 86 no Grand Canyon!!!

A escritora Cora Coralina teve seu primeiro livro publicado aos 76 anos!!! 

E eu, aos 58, ainda converso com a agulha de crochê. Deixei de brigar com ela e entendi que os fios não tem nada a ver com isso...

Ela me indica um caminho e às vezes eu sigo outro, mas ambos me levam a algum lugar.

Admiro que tem paciência com tutoriais, interpretação de manual de instrução e leitura de bula de remédio. 

Mas no meu caso, nem os bolos seguem receitas e já foi-se o tempo em que eu buscava a perfeição.

Hoje, estou mais focada no processo e o resultado traz sempre uma surpresa.

Boa! 

Muito boa!

P.s.: Crocheteiras de plantão, não se assustem! Estou feliz com os meus "emaranhados" e tenho me divertido com a produção de bolsinhas de mentira...ou seriam de verdade?


domingo, 2 de julho de 2023

prATO


Outro dia acordei irritada com a mesmice.

Talvez porque, às 7 da manhã, eu já quebrava um prato.

Um prato comum, mas precioso pra mim nas suas cores.

Sim! Porque meus olhos ainda dançam diante das cores. Não se cansam!

O prato caiu, mas mesmo no chão, não perdeu a elegância e se fez em 4 harmoniosos pedaços.

Desconstruir. Ressignificar.

Acolher a imperfeição.

E neste contexto, tudo é arte! Tudo vira arte! Tudo depende do olhar!

E vai pra parede, assim, em 4 partes desencontradas que se encontram.

Como é libertador quando a gente passa a se identificar cada vez mais com os avessos da vida e com as diversas possibilidades que existem nesses desencontros.

Deixei a raiva quieta, que ainda dormia e não gritei para não acordar o vizinho.

Mas diante do barulho inevitável, com certeza ele levantou antes do despertador.

Ainda bem que é sexta-feira!






terça-feira, 13 de junho de 2023

pé na jaca


depois de dias de céu, 

sol azul e mil fotos de árvores pelo caminho, 

ontem choveu.

e ainda hoje segue chovendo.

não sei o que aconteceu porque eu amo dias chuvosos,

mas fazia tempo que eu não visitava esse lugar.

um céu coberto de nuvens que me desagalhou

me trouxe sono,

cansaço, preguiça.

me levou para a inércia de um sofá

na companhia de uma série espanhola.

sentados ao meu lado,

um pacote de Ruffles, a batata da onda,

e um pote de brigadeiro de colher, 

ainda morno,

feito com chocolate amargo para amenizar a culpa,

algumas calorias e um sorrido enjoado...

o verdadeiro pé na jaca!


segunda-feira, 12 de junho de 2023

ESTREIA





Outro dia me desafiei a responder uma pergunta...

Minha obra merece ser lida porque ela é um abraço em tempos difíceis.

Um acalento, um aconchego, um sorriso que chega na primeira frase, e fica. Ou melhor, volta!

Volta e pode trazer consigo uma lágrima que em seguida é acolhida e reverbera.

Um suspiro bom, que traz esperança.

Uma esperança no mundo, na humanidade, em você!

Páginas em branco que foram preenchidas com o que há de melhor em mim e que podem fazer cintilar o que há de melhor em você.

Páginas recheadas de resiliência, superação, vontade de viver e muita fé.

Páginas permeadas de consciência e finitude.

Minha obra merece ser lida, pois feito páginas libertas ao vento, pousarão no colo das pessoas, se abrirão, e farão alguma mu(dança).

Vem dançar comigo! O convite está feito. 

Feito um sonho do qual se acorda, e estreia!

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É assim que ela pretende ser. 

Ainda segue sendo gestada, mas já mostra alguma personalidade.

Forte, como a mãe!