segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Das MINHAS pedras






semeava

lançava

sementes e olhares


tentava
insistia e adormecia

solo infértil
clima impróprio
ora seco e árido
ora muito úmido

lágrimas em demasia
folhas secas
sem vida

semeava 
e nada nascia

desistia
plantava e nada colhia

escolhia
encolhia
adormecia

sonhos
pesadelos
sentimentos rochosos
sonhos calcificados
emoções empedradas
desejos petrificados
coração aprisionado
num jardim de concreto

Das Pedras





Ajuntei todas as pedras
Que vieram sobre mim
Levantei uma escada muito alta
E no alto subi
Teci um tapete floreado
E no sonho me perdi
Uma estrada,
Um leito,
Uma casa,
Um companheiro,
Tudo de pedra
Entre pedras
Cresceu a minha poesia
Minha vida...
Quebrando pedras
E plantando flores
Entre pedras que me esmagavam
Levantei a pedra rude dos meus versos.

Cora Coralina


quinta-feira, 7 de abril de 2016

MUDANÇA





Estou de MUDANÇA, e como já é a 9 ª vez que caixas de papelão em toneladas fazem parte da minha vida, eu talvez pudesse dizer que tiraria isso de letra mais uma vez... só que não! Uma querida amiga me disse ontem algo que eu amei... "mudança move limpezas e desapegos" e eu acrescentaria, EM TODOS OS SENTIDOS! Diante de tudo isso, percebi que mudança dói, cansa, muda,dança, limpa e faz com que exercitemos o desapego de coisas paradas, guardadas, engavetas, amareladas, não faladas... Mudar requer coragem e força e confesso que em muitos momentos esses dois ingredientes ainda me faltam e a "receita" não fica tão boa assim, mas estamos aí! Descartando, embalando, encaixotando e mancando... Sim, dessa vez meu amigo ciático resolveu se fazer presente nessa transição, mas tudo bem!

Aceito essa companhia, mas logo, logo pretendo convidá-lo a se retirar, pois tenho a esperança de que ele não goste muito do clima úmido e temperado da minha nova morada e me deixe em paz.

Estou mudando pra bem longe, cruzando o Atlântico e retornando ao meu "home sweet home" deixado há exatos 17 anos! Consegui alugar uma casinha branca nas montanhas e vou poder cultivar uma horta, me dedicar às gérberas, colorir as paredes, aromatizar o ambiente com incenso puro indiano; tomar um chá, às cinco, ler um bom livro na rede da varanda e se cansada, adormecer com o canto dos pássaros.

Nas horas vagas pegarei um trem e irei dar uma voltinha na Oxford Street, babando diante das vitrines natalinas, ou abrir uma exceção e tomar uma cerveja no Soho, com meu amigo Rai, Maribel e Mariluz.

Se for domingo, irei à minha amada Camden Town, esperarei o relógio marcar 2 da tarde para comer um yakissoba por 1 pound e se for verão, passarei o dia na companhia de uma cesta de piqueninque, um bom livro e uma canga colorida, tomando sol no Hyde Park.

Antes de voltar pra casa, ainda passarei na casa da Nan, em Notting Hill Gate só pra dar um abraço apertado (pena ela não poder ler esse texto, pois é tailandesa e só domina o inglês), e ligarei pra Jo marcando um fish & chips em algum pub. Pena que a querida Ana Paula more um pouquinho longe... essa visitinha ficará pra outro dia.

E no caso um feriado prolongado, visitarei a Cecilia  na Suíça, a Carol na Dinamarca, a Marta Lecumberri e a Xell em Barcelona, a Andreia em Portugal, o Tomoyuki no Japão ou a Agnes e o Ernest na Polônia.

Tudo isso sem falar na Abbey, no Joao , no Rodolfo, na Debbie, na Manu, na Traude, no Nick, na Emma, na Jo, na Ashley, na Jennifer, na Julliete, no Mark, no Benjamin, na Heidy, na Sarah, no Robert, na "Tia Beth", na eterna Diana, no Willian, na Kate, no Harry, no pequeno George, na pequena Charlotte, e em tantos outros que se não mencionados, também moram na minha lembrança e no meu coração.

Estou mudando pra bem longe.... um brinde ao 1 º de abril e a esse céu azul!!!

... porque SONHAR é preciso, mas mentir não é preciso.


quinta-feira, 17 de março de 2016

Verde & Amarelo ou Verde & Rosa?





Mais uma noite, dessa vez recheando e cobrindo alfajor e pão de mel.

Dormi tarde, acordei cedo e só ao sair de casa para o trabalho me deparei com uma mensagem fúnebre, dizendo para usar camiseta preta no dia de hoje em sinal de LUTO.

Desculpe, mas saí de rosa e verde, e juro que nem pensei na Escola da Mangueira.

Ao entrar no ônibus, geralmente bem vazio, senti que olhos NEGROS, dos pés à cabeça quase me fuzilaram, atraídos feito imãs pelo rosa da minha blusa, e não fosse o fato de desembarcarem um ponto depois, creio que meu look do dia sofreria represálias... ainda bem que não optei por aquele vestidinho vermelho que descansa no cabide.

Não sou contra esse tipo de manifestação, mas dentro da minha quase ingenuidade política, acabo me omitindo e ficando apenas num protesto interno de indignação e lamento.

Indignação pelos seres, que se dizem humanos, terem brilho no olhar ganancioso somente diante de cifrões, de poder, de dinheiro, e lamento por todos aqueles que se fragilizam ainda mais diante desse mar de lama, que recheia, cobre e joga no lixo o brasileiro trabalhador, honesto e sonhador.

Brasileiro penalizado, que não tem coberturas luxuosas, fazendas, carros do ano, iates, contas no exterior, mas que traz consigo algo intacto, muito mais valioso que isso tudo, o seu CARÁTER e um sono leve de uma consciência tranquila.

Hoje o verde & amarelo nublou, acinzentou, preteou...

Que o meu verde cura e esperança permaneça e que o rosa afeto, compaixão, generosidade e amor da minha blusa sejam resgatados, urgentemente!

Acho que ao invés de alfajor e pão de mel, vou investir em SONHO...


sábado, 2 de janeiro de 2016

Voilá





Que maravilha começar o ano encontrando ou buscando um ANJO!!!!

Como toda criança,  sempre sonhei em ganhar uma bicicleta do Papai Noel, mas apesar disso nunca ter acontecido, tive o privilégio de viver uma infância brincando na rua, de pega-pega, polícia-ladrão, amarelinha, carrinho de rolimã, caçador, pulando corda, enfim, e acabei aprendendo a pedalar e a cair, na bicicleta da vizinha.

O problema é que eu cresci, e com o tempo conheci o MEDO, e um deles é o trânsito, tanto que tive dificuldades em aprender a dirigir veículos e abandonei o projeto. Ah! Ele também é responsável por eu não saber nadar.

Ano Novo, vida nova, e em breve iniciarei um novo trabalho, que por sorte minha fica a apenas 40 minutos a pé de casa... então veio a ideia, por que não voltar a pensar naquela velha bike de guerra?

A idealizada é toda chique, clássica, com banco de couro marrom... a cor? Caramelo seria perfeito! Na parte de trás, um bagageiro, antiga GARUPA, onde geralmente eu estava toda vez que a motorista derrapava e íamos ao chão.... 

Na parte da frente, uma cestinha, que nem precisa ser de vime... pode ser aquelas cromadas mesmo... pra carregar flores? Nem tanto, talvez para aliviar a mochila das costas ou acolher uma fruta ou garrafinha de água...

Não pode dirigir e falar ao celular... mas será que também é ilegal pedalar saboreando uma maçã? Algo me diz que se encaixam nas mesmas leis de trânsito, ou pelo menos boas práticas envolvendo o movimento BIKE.

Estou adorando a ideia de sonhar, projetar, confiar, logo nos primeiros dias do ano.

Mas voltando ao ANJO, trata-se de uma ONG com a proposta de colocar mais bicicletas nas ruas, de forma consciente e segura, sendo que o diferencial é que eles ENSINAM AS PESSOAS A PEDALAR... é mole ou quer mais?

Pedalar eu já sei!... meio caminho andado. Agora só preciso aprender a dominar esse fantasma chamado MEDO, e lógico, ser uma boa menina ao longo do ano, na expectativa do Papai Noel atender meu pedido dessa vez.

Há quem diga que para vencermos nossos medos, precisamos enfrentá-los. Voilá!  Já que por enquanto ainda não consegui tal conquista com a natação e as aulas de direção, que seja com a bike, e muito vento na cara...

Agora só falta encontrar minha nova companheira. E que os ANJOS me ajudem!

Lembrando de algumas palavras de um amigo argentino... “me encanta el viento en la cara”.


Besitos