terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Festando





Aconteceu! E foi lindo! 

Foi cansativo! Mas VALEU cada foto que eu pendurei no varal com dificuldade. Fotos que mostraram um pouco de mim, da minha vitalidade, do meu colorido, da minha amorosidade, do meu viver. Das cavernas que visitei, das águas que fingi nadar, das viagens que fiz, dos lugares que visitei e que são minhas preciosidades.

Fotos que mostraram um pouco da pessoa que sou e que tanto me orgulha. Dos meus amigos, irmãos e família que eu tanto amo, apesar da distância e da ausência de alguns.

Fotos que trouxeram minha mãe para mais perto de mim.

Fotos de momentos especiais, lembrando que TODO momento deve ser ESPECIAL.

Do meu caminhar que até agora foi bom e continuará a ser. Mesmo que com limitações, mesmo que com dores, mesmo que com a coluna ainda curvada diante das dificuldades.

Que eu possa lembrar, todo dia, que meu desafio é superar tudo isso e que mesmo que com passos pequenos e lentos, eu vou avançando.

E conseguir reunir mais de 30 pessoas numa cansada noite de sexta-feira, e ainda por cima, de final de ano, num lugar lindo, cercado pela natureza, mas longínquo para a maioria, foi pra mim, a realização de um desejo antigo. 

Uma vontade adormecida que acordou. Um brilho no olhar que faltava, e gritou!

E egos à parte, como é bom a gente se sentir amada. E amar. E seguir amando cada vez mais a vida e tudo o que vem com ela. Apesar do momento difícil, apesar das incertezas que tomam conta desse coração que ainda bate forte diante do olho no olho. Diante dos ENCONTROS que precisam se fazer mais. Diante do abraço e da conversa despretensiosa entre pessoas que não se conheciam e que acabou terminando em laços e troca de telefones.

Cantar, dançar, poetizar, conversar, abraçar, chorar.

Que todos esses verbos e muitos outros possam ser conjugados em todos os tempos e fazer parte da nossa agenda a partir de mais um novo ano que já bate à porta!

Dim-dom ! ! !


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Bandeira branca





quase um ano e nunca faltei a uma consulta. nunca deixei de fazer um exame. mesmo tendo que acordar cedo em jejum, ou esperar 6 horas e meia para uma ressonância. mesmo cansada dessa dinâmica de corredores repletos de maca e de marcas, de ferimentos e cicatrizes, venho cumprindo meus compromissos hospitalares com certo louvou. apesar do cansaço, apesar dos questionamentos, apesar das perguntas sem respostas, apesar da dor, que não me larga. acho que se apaixonou. que ficou dependente de mim, sei lá. mas tudo bem! resolvi dar uma trégua e hoje estendo um tapete vermelho de boas-vindas. reflito. aceito. aceito. reflito. mas estou tentando. hoje resolvi que vou sair. mesmo que chova. estou cansada de estar sempre presente na agenda do hospital e ausente dos alimentos que minha alma precisa. manifesto interesse. confirmo. e na hora "h" deixo de ir. adivinhe por que? porque a dor e a indisposição mais uma vez me fazem tirar um cochilo no meio da tarde ao invés de me incentivarem a colocar um vestido florido, um batom nos lábios e a sorrir com o sol que brilha lá fora, ou não. mas hoje EU VOU. mesmo que chova, mesmo com dor, mesmo com indisposição. na verdade, gostaria de deixar essas duas em casa, mas se elas quiserem me acompanhar, tudo bem! cansei de lutar. bandeira branca. seguimos juntas, aprendendo a conviver uma com a outra. aceitando e procurando entender tudo de maneira diferente. que tudo seja para nosso crescimento e evolução. por mais que o gosto seja amargo, que a cabeça fique pesada e o próximo passo literalmente demore a vir. o importante é o coração estar lá. onde gostaria de estar.





Somos de vidro, também de pedra, água e areia.


Viajantes do tempo. O remetente e o destinatário.


Tudo que jogamos contra o vento vem ao nosso encontro. Somos o próprio reflexo que vemos no espelho e além dele. Somos a vida e a morte. O tudo e também o nada. Somos idealizadores. Sonhadores. Propagadores. Feitos de inocência num mundo de regras. 
Maldosos ou bondosos - no tempo exato.

Ora oferecemos riscos, ora somos a mais perfeita das ternuras. O ponto de encontro está em cada um de nós. Encontrar-se é o desafio. Entender-se sagrado é o caminho. Enxergar além de, é o que falta. Permitir-se acolher o irmão e entender que ele é tão frágil e tão forte como nós é a meta. Que ninguém é melhor do que ninguém. 
No final das contas somos pó.

Nem sempre intactos. Nem sempre puros.

O importante é buscar, olhar para dentro de si e observar que o mundo é benção, que somos filhos da Graça - temos a divindade dentro de nós.
"Sejamos gratos às pessoas que nos proporcionam felicidade, são elas os adoráveis jardineiros que nos fazem florir a alma."


São Tomás de Aquino


Quando eu era pequena, não entendia o choro solto da minha mãe ao assistir a um filme, ouvir uma música ou ler um livro. O que eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de compreender.
O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano.
É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos. Crianças têm o tempo a seu favor e a memória ainda é muito recente. Para elas, um filme é só um filme; uma melodia, só uma melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade.
Diante do tempo, envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente parte. Porém, para a memória, ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis. Nossos filhos são crianças, nossos amigos estão perto, nossos pais ainda vivem.
Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando nos damos conta, nossos baús secretos – porque a memória é dada a segredos – estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.
A capacidade de se emocionar vem daí, quando nossos compartimentos são escancarados de alguma maneira. Um dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, ninguém nota, mas aquela música já fez parte de você – foi o fundo musical de um amor, ou a trilha sonora de algum momento triste – e mesmo que tenham se passado anos, sua memória afetiva não obedece a calendários, não caminha com as estações; alguma parte de você volta no tempo e lembra aquela pessoa, aquele momento, aquela época...
Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. É comum ver amigos da juventude se reencontrando depois de anos – já adultos ou até idosos – e voltando a se comportar como adolescentes bobos e imaturos. Encontros de turma são especiais por isso, resgatam as pessoas que fomos, garotos cheios de alegria, engraçadinhos, capazes de atitudes infantis e debilóides, como éramos há 20 ou 30 anos. Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos... mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas.
A memória não permite que sejamos adultos perto de nossos pais. Nem eles percebem que crescemos. Seremos sempre "as crianças", não importa se já temos 30, 40 ou 50 anos. Pra eles, a lembrança da casa cheia, das brigas entre irmãos, das estórias contadas ao cair da noite... ainda são muito recentes, pois a memória amou, e aquilo se eternizou.
Por isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que por algum motivo deixou de fazer parte de nossas vidas. Dizem que o tempo cura tudo, mas não é simples assim. Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na dor. Mas aquilo que amamos tem vocação para emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em quando. Somos a soma de nossos afetos, e aquilo que amamos pode ser facilmente reativado por novos gatilhos: somos traídos pelo enredo de um filme, uma música antiga, um lugar especial.
Do mesmo modo, somos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex-amores, amigos, irmãos. E mesmo que o tempo nos leve daqui, seremos eternamente lembrados por aqueles que um dia nos amaram.
Adélia Prado


quinta-feira, 3 de outubro de 2019

A vida




"A vida decepciona-o para você parar de viver com ilusões e ver a realidade.
A vida destrói todo o supérfluo até que reste somente o importante.
A vida não te deixa em paz, para que deixe de culpar-se e aceite tudo como "É.
A vida vai retirar o que você tem, até você parar de reclamar e começar agradecer.
A vida envia pessoas conflitantes para te curar, pra você deixar de olhar para fora e começar a refletir o que você é por dentro.
A vida permite que você caia de novo e de novo, até que você decida aprender a lição.
A vida lhe tira do caminho e lhe apresenta encruzilhadas, até que você pare de querer controlar tudo e flua como um rio.
A vida coloca seus inimigos na estrada, até que você pare de “reagir”.
A vida te assusta e assustará quantas vezes for necessário, até que você perca o medo e recupere sua fé.
A vida tira o seu amor verdadeiro, ele não concede ou permite, até que você pare de tentar comprá-lo.
A vida lhe distancia das pessoas que você ama, até entender que não somos esse corpo, mas a alma que ele contém.
A vida ri de você muitas e muitas vezes, até você parar de levar tudo tão a sério e rir de si mesmo. A vida quebra você em tantas partes quantas forem necessárias para a luz penetrar em ti.
A vida confronta você com rebeldes, até que você pare de tentar controlar.
A vida repete a mesma mensagem, se for preciso com gritos e tapas, até você finalmente ouvir.
A vida envia raios e tempestades, para acordá-lo.
A vida o humilha e por vezes o derrota de novo e de novo até que você decida deixar seu ego morrer.
A vida lhe nega bens e grandeza até que pare de querer bens e grandeza e comece a servir.
A vida corta suas asas e poda suas raízes, até que não precise de asas nem raízes, mas apenas desapareça nas formas e seu ser voe.
A vida lhe nega milagres, até que entenda que tudo é um milagre.
A vida encurta seu tempo, para você se apressar em aprender a viver.
A vida te ridiculariza até você se tornar nada, ninguém, para então tornar-se tudo.
A vida não te dá o que você quer, mas o que você precisa para evoluir.
A vida te machuca e te atormenta até que você solte seus caprichos e birras e aprecie a respiração.
A vida te esconde tesouros até que você aprenda a sair para a vida e buscá-los.
A vida te nega Deus, até você vê-lo em todos e em tudo.
A vida te acorda, te poda, te quebra, te desaponta… Mas creia, isso é para que seu melhor se manifeste… até que só o AMOR permaneça em ti."

Reflexão atribuída a Bert Hellinger (16/12/1925 - 19/09/2019)

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Primavera


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Mais um texto maravilhoso, desta vez, de Diego Vinícius ♥



"Setembro nasceu, e, com ele, a primavera.

É tempo de florescer, de renascer das feridas que o inverno provocou.

É tempo de perfumar cada cantinho da casa com esperança e orações positivas.
Setembro nasceu, e, com ele, o céu sempre azul de novo.

É tempo de viver o amor que sorri com mais cor agora.

De fazer uma faxina mais radical, uma reforma.

Construir uma sala maior para a nossa coragem e pintar de azul as guerras do quadro do quarto do segundo andar do coração.

Que seus dias nos afastem das relações falsas, da maldade alheia e de qualquer coisa que subtraia a nossa paz.

Que sejam como a própria primavera que eles carregam no sangue: inspirando flores e amores."


quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Benditos os amigos




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Um texto lindo!
Não é de minha autoria, mas merece estar aqui.


"Benditos sejam os que chegam em nossa vida em silêncio, com passos leves para não acordar nossas dores, não despertar nossos fantasmas, não ressuscitar nossos medos.


Benditos sejam os que se dirigem a nós com leveza, com gentileza, falando o idioma da paz pra não assustar nossa alma.

Benditos sejam os que tocam nosso coração com carinho, nos olham com respeito e nos aceitam inteiros com todos os erros e imperfeições.

Benditos sejam os que podendo ser qualquer coisa em nossa vida, escolhem ser doação.

Benditos sejam esses seres iluminados que nos chegam como anjo, como flor ou passarinho, que dão asas aos nossos sonhos e tendo a liberdade de ir escolhem ficar e ser ninho.”

Bendito sejam os Amigos...

Benditos sejam!

Edna Frigato

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Nostalgia




Não canso de me perguntar o porquê de roupa no varal me trazer tanta alegria.

Talvez por se tratar de um dia de sol. Talvez por me remeter à limpeza. Sei lá!


Só sei que me faz bem, me traz leveza, me encanta o coração. O mesmo sentimento me vem com relação à casa limpa, cheirando cera Canário amarela e pão caseiro no forno. Cheiros de infância que sempre me acompanharam.


Contentamento tão GRANDE por algo, na verdade, tão pequeno.


Pequeno, talvez, mas significativo.


Cheiros, lembranças, sentimentos, que feitos mini objetos ficam guardados numa gavetinha e de vez em quando saem para respirar um pouco.


E falando em assoalho encerado e pão caseiro, essa semana me veio à mente várias vezes a figura de minha mãe.


Tudo isso porque se eu voltar no tempo e fechar os olhos, ainda sou capaz de sentir esses cheiros e suas provocações e alegrias dos sábados à tarde. 


Casa aberta, roupa no varal, faxina, e no final do dia, pão quentinho com manteiga derretendo, feito colo de mãe.


Acho que ando com saudade de ser filha...










segunda-feira, 10 de junho de 2019

Bad news






Acho que nunca vou esquecer a data de 21/11/2018 e a consulta com o ortopedista que mudou a minha vida do dia pra noite.

Um primeiro diagnóstico que botou no chinelo dores nas costas, pilates, fisioterapia, sedentarismo, músculos nunca antes trabalhados, sobrepeso, e um final de tarde que levou pra casa duas palavras-chave: paraplegia e metástase, ainda sem entender o que tudo aquilo significava.

Na verdade, subestimei uma imagem em preto e branco, que tinha tanto a revelar.

Além do câncer e do fato dele ter migrado para os ossos de minha coluna, a possibilidade de eu ficar sem o movimento das minhas pernas. Muita coisa para assimilar em 40 minutos de uma consulta médica. Muita coisa para assimilar desde então. 

Primeiro você se protege, desliga o botão, acha que não é com você, que aquilo não está acontecendo. Talvez a fase que chamam de negação. Depois a neurose de dormir e acordar na companhias daquelas palavras que resumiram meu encontro com o Dr. J.C.M depois de 3 anos, quanto a simpatia nasceu diante daquele profissional que olhava nos olhos e mansamente conversava sobre qualquer assunto, independente do quão atrasado estava com as demais consultas. Teve o meu respeito e admiração desde o início. Eu só não sabia que ele seria o porta-voz de uma notícia que ninguém espera receber, e ainda, repleta de detalhes e pormenores.

Apesar da gravidade da situação, acredito que se isso acontecesse em outra fase da minha vida, talvez fosse ainda mais devastador. Apesar dessa doença assustar de modo particular, mantive meu coração e minha mente serenos. E SERENIDADE tem sido a palavra, cada dia mais, junto da coragem de me manter forte, mostrando que estou disposta a lutar por essa coluna que sempre me manteve em pé e por essas pernas cujos músculos devem lembrar que muitas partidas de vôlei jogamos juntas.

Cirurgia marcada, um certo receio que fez antecipá-la e lá fui eu me internando uma semana antes.

Sem intercorrências, muita sopa, gelatina e chá mate morninho e acolhedor e apenas uma semana de hospital. Sucesso total e hora de ir pra casa. Ainda não para a minha, mas digamos que para a minha segunda casa.

Carinho, cuidado, banho acompanhado, remédios de madrugada e um apetite voraz, com um paladar pra lá de aguçado.

Retirada dos pontos e ainda a passinhos lentos, muita coisa a ser reaprendida.

Sono, muito sono e um amortecimento que de anormal, passou a minimizar minhas dores e desconfortos.

Mais exames, consultas e novidades, às vezes nem tão boas assim.

Sessões de radioterapia, náusea, vômito e diarreia, misturados ao carinho das técnicas que ali, não operavam somente uma máquina.

Mas, como diz meu atual "mantra", TUDO PASSA, e passou.

Apesar da falta de apetite, emagreci apenas 3 quilos e meio, e aos poucos, algumas vontades inusitadas foram aparecendo, como por exemplo, cenoura ralada com tomate e bastante vinagre de maçã, temaki e hamburger. 

Desejos realizados!

De repente, mais uma novidade médica: a sugestão de quimioterapia, via oral, com três medicamentos, mais um procedimento de cálcio injetável, uma vez por mês.

E seguimos juntos, pois já venci algumas batalhas, mas a guerra ainda não acabou.









passado, PRESENTE, futuro





Outro dia, numa sala de hospital, depois de horas de espera para mais um exame, sentou ao meu lado uma moça e começamos a conversar.

Ela perguntou qual era o meu problema, e mais uma vez me pus a relatar o motivo que tinha me levado a um tratamento oncológico.

Uma mera dor nas costas, a ideia de no máximo uma hérnia de disco, e o resultado de um tumor maligno bem no meio da coluna.

Uma cirurgia, sessões de radioterapia e atualmente, quimioterapia "home office", de casa mesmo, via coquetel semanal de comprimidos, e tudo bem, pois me sinto ótima, deixando de lado o medo dos efeitos colaterais.

Quando terminei minha breve história, ela começou a dela.

Também começou a sentir dores nas costas, mas imaginou ser lombalgia, uma vez que é muito agitada e vive fazendo esforço.

Fez mamografia, depois ecografia, e bingo! Câncer de mama estágio 5 e apenas 37 anos de idade! Ainda ilustrou a situação com uma imagem dizendo que seria como se tivesse um seio embaixo de cada braço. Triste, muito triste!

Naquele momento tive vontade de ficar conversando com elas por horas. Pena não tê-la encontrado antes. Cheguei às 12h30, ela às 14h e fomos atendidas depois das 17h, mas também tudo bem!

Para finalizar a conversa, ela me disse a seguinte frase, que eu trouxe pra casa. 

O CÂNCER É UM PRESENTE QUE VEM EMBRULHADO NUM PAPEL FEIO.

A princípio me soou forte, mas se refletirmos um pouco, chegaremos à conclusão de que é isso mesmo, pelo menos pra mim.

Um presente que pode vir numa caixinha de papelão amassada, num pacote amarrotado ou num embrulho cujo laço cor de rosa foi esquecido.

Geralmente o baque inicial é tão grande que nos cega diante de toda essa grandeza, mas aos poucos, a aceitação e a entrega nos fazem enxergar com outros olhos.

Aos poucos vamos assimilando a dor e a finitude. Sim! Pois parece que o ser humano se acha imortal e só se vê diante da morte quando recebe o diagnóstico de uma doença crônica.

Mas isso não aconteceu comigo.

Aliás, até agora não sinto essa doença limitando meus sonhos e pensamentos, muito pelo contrário.

Lido com ela diariamente, conversamos, trocamos figurinhas e isso me faz crescer.

Ela já entendeu que eu não SOU doente, apenas ESTOU, e que finalizado o prazo dela, ela vai embora deixando o seu legado e acredito que isso acontece com a maioria das pessoas que passa por esse processo.

Trata-se de fé, de confiança, de entrega, de aprendizado, de recolhimento, de humildade, de reconhecimento, de gratidão, de amor, e se tudo isso não causar mudança, transformação, creio que nada mais causa.

E no meio disso tudo, duas palavras tem me acalentado o coração, me dando forças para seguir em frente. Com elas continuo alimentando o sonho de mais uma viagem, de mais uma caminhada, de mais escritos, de mais cafés com as amigas, de muitas risadas, de muito cinema, de mais vida e de mais encontros comigo mesma e com o DEUS que habita em mim: TUDO PASSA!

domingo, 2 de junho de 2019

Cebolas carameladas





Feito cebolas,
vamos deixando aos poucos 
a pele árida e seca.
 
Cortadas, deixamos livres
as feridas que ardem
deixando à mostra camadas 
nuas e cruas.
 
A dor se recolhe e o
coração serena, extasiados pelo
calor da chama que aquece e
da angústia esquece.
 
Feito cebola caramelada,
deixamos de lado o ardido
que deságua em lágrimas
incompreendidas.  
 
Um alento é encontrado.
Uma partilha é feita.
Uma lágrima encontra a outra.
Um coração se enrosca no outro.
 
Um aconchego é buscado num
quente abraço que aproxima,
num laço que afrouxa, mas
que continua apertado.
 
Empoeirados paradigmas 
são quebrados e 
um novo e colorido mosaico começa
a se formar.
 
Aos poucos é
revelado um adocicado
escondido,
que encanta, surpreende, 
colhe, escolhe e acolhe.
 
E a união de almas está selada.

(inspirado na amiga Sylvia)

Sol flambado








Quebrando o jejum,
busco alimentos que nutrem a alma.

um mantra

um sorriso

um raio de sol

um telefonema

uma mensagem

uma flor que balança
na árvore pedindo um beijo

uma palavra doce

um olhar apimentado

um mar salgado

um sol flambado

um limão no pé

um convite feito gengibre
que bom para a garganta,
gargalha e grita 
por bons motivos
boas notícias
boas energias

Busco alimentos que nutram a alma
e no meio do caminho
encontro um azul imenso
cujas nuvens mandam recadinhos
engraçados

uma mensagem dos céus

um brinde à vida.

Tim-Tim!!!

Granola rainha



Aveia
gergelim
chia
açúcar mascavo
coco ralado
e uva passa.

Porque hoje é dia de granola.

Caseira, morna,
feito aconchego
numa manhã de domingo.

De companhia,
aquela bananinha que te olha, tímida,
da fruteira, ou
aquele mamão maduro que te espia
pela fresta da geladeira,
enciumado.

Também é bem-vindo 
aquele iogurte feito em casa,
azedinho,
bem cremoso e com aquele natural
que reporta aos meus primeiros e doces anos na escola.

Para acompanhar toda essa gratidão,
um cafezinho expresso que esperou a semanada inteira
para ser feito, e que hoje,
perfuma a casa toda.

Nos ouvidos, um mantra entoa, agradecendo a vida.

Na ponta dos dedos, um compartilhar que cutuca um campo, 
que de magro não tem nada; 
uma cidade luz,
que deixa de lado seus croissants para se encantar com a granola e um reino unido, onde hoje, quem reina é ela! 

Sozinha, mas acompanhada!

(para a amiga Sylvia)