O nome dela é
Maria. Como muitas.
Mulher preta,
como tantas outras.
Conta com mais de 8 décadas na escola da vida, mas
não escreve.
Criou 5 filhos, ajudou na criação de alguns netos e hoje já tem 2 bisnetos de 20 e 16 anos e uma princesa de 1 aninho.
Vaidosa, corta o cabelo com frequência, vai às
novenas na igreja do bairro e adora um bingo com as amigas.
Faz crochê. Como ninguém.
Adora uma receita. Seja de um novo ponto ou de um
novo prato. Não sei como ela chega lá, mas o Sr. YouTube explica tudo e ela
aprende direitinho.
Hoje em dia o joelho judia um pouco, mas seu
"carrinho andador" continua lhe ajudando a ter dignidade.
Faz um bolo fofinho que só. Diz que o segredo está
em bater as claras separadamente e peneirar as gemas.
É dona de um sorriso largo, adora uma boa prosa e
é fã de Roberto Carlos, que segundo me informou, está vindo aí para mais um
show.
Anseia por visitas, cada vez mais raras, e não sai
da janela na esperança de uma boa alma para compartilhar um café, um suco, uma
água.
Antes de ir embora ainda a acompanhei na novela
das 6h30. Disse que dorme tarde, atualmente depois do BBB. Anda mais atualizada
do que eu.
Cheguei com uma plantinha, cuja muda plantei numa
caneca, onde escrevi bem grande o seu nome, que consegue assinar.
Na saída, mostrou um abacateiro povoado, cactos
que crescem e uma horta onde tem até alho poró.
Saí de lá com algumas folhas verdes. Terei salada
de couve crespa para o almoço. Desconhecia.
Infelizmente ela não pode ler esse texto, mas que
bom que pode ouvi-lo. Senti-lo.
Afinal de contas, hoje ela é a protagonista dessa
história.