domingo, 18 de novembro de 2018

Remédios da Alma







Sempre fui apaixonada por revistas.
Por anos fui adepta àquelas assinaturas que faziam seu exemplar chegar às suas mãos sem sair de casa.
No entanto, comecei a perceber que, ou eu lia a revista no dia, ou ela ficava destinada a descansar por tempo indeterminado numa estante empoeirada.
Assim, diante de certo acúmulo, várias já foram descartadas, mas antes passam por um processo de seleção bem criterioso, geralmente pelas matérias que trazem na capa, e aí, diante de algumas, não resisto e elas ficam comigo mais um tempo.
De vez em quando dou uma vasculhada, alguma coisa me chama a atenção e separo.
Foi o que aconteceu com um exemplar de julho/2017 que foi escolhida pela matéria REMÉDIOS DA ALMA, de Sárada Shanti, médica e instrutora espiritual.
Amei a reportagem, e como se não bastasse, fui atrás do livrinho de onde essa botica toda tinha sido retirada. Encontrei-o por 8 reais num sebo e desde então, não via a hora de experimentar algumas "doses" desses ricos medicamentos, totalmente sem contraindicações.
Com dores lombares que me fazem companhia há alguns meses e tem feito das minhas noites de sono algo bastante atípico, nessa madrugada tomei vários e quero crer que alguma melhora já estão trazendo.
Começa pelo REMÉDIO DA SIMPLICIDADE, que ministrado em pequenas doses diárias, torna tudo mais claro, direto e puro.
O REMÉDIO DA TOLERÂNCIA nos deixa hábeis para lidar com a adversidade e o desagradável, que às vezes acontece.
O REMÉDIO DO CODIMENTO ajuda a pesar diferentes ingredientes com lucidez, sem deixar sobrar ou faltar algo.
O REMÉDIO DA ALEGRIA CONTEMPLATIVA é um antídoto eficaz quando a tristeza chega e ficamos cegos para todas as coisas que não sejam nossos padecimentos. 
O REMÉDIO DO DESAPEGO, em boas doses permite desvencilhar o paciente das pressões exercidas pelo desejo de possuir e pelo medo de perder.
O REMÉDIO DA PERCEPÇÃO PERFEITA é o portal que nos leva à felicidade, livre de expectativas e temores. Aconselha a observar, mas sem segundas intenções.
O REMÉDIO DA COMPAIXÃO recomenda que tomemos desta fonte abundante de água fresca que tem o poder de lavar as próprias feridas e as de um conjunto de pessoas.
O REMÉDIO DO PERDÃO SINCERO se coloca como o mais dos necessários remédios da alma. Porque sem o peso da mágoa, podemos seguir em frente, mais leves e livres.
Por fim, o REMÉDIO DA FÉ ESPIRITUAL, que nos faz sentir um brilho de amor incondicional a nós mesmos e a tudo e todos.
E eu, que nunca fui adepta a remédios, para esses tiro o meu chapéu e assino em baixo.
MELHORAS pra nós!

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

d o r

Resultado de imagem para imagens de dor


palavra pequena.
apenas três letras.
uma sílaba.
duas consoantes e uma vogal.

tem como companhia
interjeições
como
Ai! Ui!

consome sorrisos
convida a insegurança,
entristece
emudece,
mas
amadurece.

lembra temor

mas ainda bem que rima com

 AMR.





C A N S A Ç O



Imagem relacionada
ando 
        cansada
esgotada
         exaurida
abatida
        consumida
e x a u s t a

meu corpo grita por água
minha alma anseia por novos alimentos
meu coração descompassa
minha mente voa
e eu voo junto

pra bem longe

distante da rotina 
que já não me serve

distante do bê-a-bá
de um dia a dia
cada vez mais
sem sentido

minha mente voa
e eu voo junto

meus olhos aguam 
por novas paisagens

meus pés me pedem
por novos caminhos

minha coluna
já não me sustenta

enverga mas não quebra

não quebra mas enverga 
e pende
e prende
e grita por
liberdade 

liberdade de movimentos
liberdade de ações
liberdade de desejos
liberdade de sentimentos

liberdade para criar
liberdade para não criar

liberdade para correr
liberdade para ficar
liberdade para ir
liberdade para voltar

liberdade para 
v i v e r 






sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Passagem


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finados.
mortos.
falecidos.

hoje o dia permanece nublado em homenagem àqueles que partiram.
e eu espero o sol.
um sol para secar as roupas que vestem generosidade o meu varal.
um sol para iluminar minhas incertezas.
um sol para clarear minhas dúvidas.
um sol para aquecer um coração que tem se feito um pouco frio e opaco.

finados.
mortos.
falecidos.

um dia em que nossos pensamentos se voltam especialmente para aqueles que já nos deixaram, mas continuam em nós.
continuam em nossas lembranças.
em nossos aprendizados.

e se fazem presentes seja através de um sorriso ou de uma lágrima.

seguem conosco na certeza de um reencontro.
seguem conosco na certeza de que estão em paz.
seguem conosco na certeza de que conquistaram o descanso merecido.
seguem conosco na certeza de que cumpriram sua missão.
seguem conosco na certeza de que viraram pó.

voltaram pra casa.

mas o perfume permanece.

Pés nus


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não sei ao certo se o nome dele é Ivair ou Evair.

só sei que faça chuva ou chova sol, lá está ele nas ruas, antes mesmo do sol nascer.

franzino, cabelo querendo branquear, mas ainda traz nos olhos verdes, um brilho.

solitário, carrega, além do carrinho de reciclagem, a companhia de um maço de cigarros.

companheiro não muito saudável, mas às vezes, talvez ainda seja melhor mau acompanhado do que só.

quando a chuva aparece, uma capa amarela também surge em acolhida.

homem de poucas palavras. tímido. mas se guardo objetos plásticos, jornais e revistas, combinamos dia e hora e ele é pontual.

um certo dezembro, pensei em ser um Papai Noel na vida dele.

perguntei que número calçava.

imaginei que ele ficaria feliz com um sapato ou um tênis.

foi quando me respondeu que tanto ele quanto seus pés, preferiam a liberdade de um surrado par de chinelos hawainas  

quinta-feira, 19 de abril de 2018

4 patas




pensamentos no mundo da lua,
desapegado segue
esquecendo que no meio da rua,
os carros sempre o perseguem

intuitivo e atento
dribla o veículo que sai
procura um alento
pára, olha, pensa, 
e vai

inverno ou verão
não o impedem
de vagar em vão
e vagando
vai em busca de pão

uma gota de chuva aqui
uma poça de água ali
uma lata de lixo acolá

migalhas generosas
ainda pingam
mas o que pinga mesmo
são minhas lágrimas
diante de um amado
de quatro patas 
na rua
nua e crua

domingo, 8 de abril de 2018

Porque hoje é domingo







Aveia, gergelim, coco ralado, chia, açúcar mascavo e uva-passa.
Porque domingo é dia de granola.
Na frigideira.
Feita na hora e servida morninha.

Ótima com iogurte natural, bem caseiro, 
com aquela bananinha que te olha da fruteira, ou
com aquele mamão madurinho que te dá uma piscadela da geladeira, enciumado.

Porque domingo é dia de café expresso naquela velha cafeteira 
quase italiana.
Porque domingo é dia de atrasar o relógio e fazer o tempo esperar, vestido de uma preguiça boa.

Porque domingo é dia de abrir a casa.
Seja para deixar o sol entrar, seja para acolher a amiga chuva.

Mas se ele brilha, domingo é dia de vestir de roupas o varal e depois de secas e perfumadas, deitar na rede e ler, nem que seja um capítulo daquele livro que descansa na cabeceira da cama.

Se ela chega, é dia de não tirar o pijama, de abraçar uma xícara de chá e se agarrar àquele livro que será sua melhor companhia. 

Porque domingo é dia de cozinhar algo especial, nem que seja um espaguete com legumes.

Porque domingo é dia de pôr a mesa e almoçar na agradável companhia de você mesma.

Porque domingo remete à parque, caminhada, piquenique,
 telefonemas, amigos.

Porque domingo é aquele dia que termina com um suspiro gostoso, bem branquinho e bem sequinho.

Porque domingo é noite de assistir um filme pra te lembrar que o fim de semana acabou, mas 
semana que vem tem mais!

Porque domingo tem cara de poesia e como dizem por aí, "na vida tudo é poesível".

Bom domingo!

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Silêncio que quer falar






Um telefonema, uma decisão, uma mochila pronta, pesada de carinho e amizade e lá se foi ela, ansiosa por belas paisagens rumo à uma felicidade santa.
 
A surpresa chegou puxada por um jeep Toyota branco e suas rodas 4 x 4. Uma aventura recebida embaixo de uma goiabeira na praça, com um elegante e delicado assovio e muitas gargalhadas.
 
Como é bom ter histórias para contar e uma memória para fotografá-las!

Fotos arquivadas e relatos sem fim foram regados por um almoço às 3 da tarde, acompanhado de dois focinhos e 8 patas que nos ouviam como se fizessem parte das histórias.
 
O tempo voou e o fim daquela tarde chegou tão de repente, que quando perceberam, as nuvens claras já estavam se despedindo, à espera de um aceno gentil.
 
O silêncio, o céu nublado e o balanço das folhas num rodopio ligeiro, chamavam para uma tímida cumplicidade, que aos poucos foi ganhando força.
 
A sopinha no fogo, o vinho que chegou na taça de prata, o pãozinho caseiro que se debruçava sobre o paninho delicadamente bordado e a meia-luz que teve como foco a bonita e florida toalha da mesa, gritavam por palavras, que ansiosas, queriam sair de dentro e no colo alheio, pular e se materializar.
 
As frases aproveitavam a música e iam dançando num balé sem fim. As cortinas estavam abertas, a emoção não aguentou esperar os aplausos finais e a primeira lágrima caiu suavemente pelo rosto, procurando um abraço.
 
Relatos vinham, confidências iam, e a noite escura não trazia aquela lua cheia linda para ser apreciada na varanda, mas mesmo assim se fazia especial, iluminada por algo ainda maior.
 
As primeiras gotas de chuva chegaram sem avisar, mas foram muito bem recebidas. Acompanharam os olhos aguados que vazavam e aliviavam, acalmando os corações que tentavam decifrar aquela janta recheada de poesia, embalada por doces caseiros e presenteada por uma iluminação que vinha da alma e povoava o ambiente todo.
 
Trocas, partilhas, olhares, mjadra (arroz com lentinha e cebola caramelada) pra lá de especial, queijo com goiabada, gengibre em conserva, abóbora em calda, chucrute também caseiro e muito amor.
 
E a comunhão se fez!

domingo, 7 de janeiro de 2018

Morangos solitários





Logo eu, que vivo dizendo que adoro ficar sozinha, hoje minha própria companhia não me foi suficiente.

Talvez por ter comprado morangos. E não satisfeitos com eles in natura, tenha lembrado de uma receita que tem tudo a ver com domingo.

Um domingo de flores na janela, cortinas ao vento, bolo no forno.

Um domingo com a casa cheia. Cheia de gente. Cheia de comida. Cheia de abraços. Cheia de afeto. Um domingo recheado de sol. De mesa lá fora. De rede balançando.

Mas hoje esse sol não apareceu, dando lugar a um friozinho atípico que pedia companhia.

Ausências convidadas e restou me contentar com o soninho da tarde, com o filme na TV e com a torta de morangos e leite ninho.

Ressaltando esse último ingrediente, acho que a nostalgia veio de longe. De uma infância não muito bem lembrada, mas que remete ao maternal, a um alimentação que hoje hoje me fez falta à alma.

Um colo, um aconchego, uma ausência, uma saudade.

O domingo se despediu e a torta de morangos foi para o congelador.

Tentativa gulosa de saciar outros corações.