terça-feira, 28 de outubro de 2014

Um lugar ao sol



c  r e S C E R, em todos os sentidos, não é fácil!

Quando somos criança, sonhamos em ser gente grande, e quando o somos, queremos a pureza e a espontaneidade infantis.


Frequentamos escola e quando chega a complicada fase da aborrecência, ainda precisamos lidar com um bicho de oito cabeças chamado vestibular e aos 17 anos nos é cobrado uma profissão a seguir, simples assim!


Os mais sortudos tem a chance de frequentar um cursinho e ali encontrar as respostas para suas muitas perguntas, enquanto outros, seguem com suas dúvidas vida adentro.


Concluído o suado curso universitário, você precisa mais uma vez lutar por uma boa vaga, de preferência numa multinacional da moda.


Conseguindo entrar, tem que matar um leão por dia e ainda SORRIR!


Como se não bastante a função junior ou pleno, precisa alcançar a sênior, e então adoece!


Adoece pois a vida é muito mais que um salário alto, uma casa própria bacana, um carro zero ou uma viagem internacional por ano.


Adoece pois geralmente preferimos nos escravizar, esquecendo que a Lei Áurea foi assinada em 1888, por uma princesa chamada Isabel, e continuamos dando as costas ao tronco e às chibatadas.


Então você consegue aquela função tal almejada, e aí lhe cobram um casamento.


Depois de algumas baladas e barzinhos, você encontra a tampa de sua panela e organiza um casamento, que não pode ser apenas uma união abençoada por um padre ou diante de um juiz, precisa ser o evento do ano, e vai lá e gasta o que tem e o que não tem, pois precisa aparecer bem na foto e na fita.


Já casado, precisa ter na manga um estonteante  destino de lua de mel pra postar no facebook e fazer bonito e haja cartão de crédito!


Volta a ralar na empresa e nem percebe que mal tem tempo pra linda esposa e pra curtir a maravilhosa casa que comprou.


Dois ou três anos de casamento e a família começa a pedir filhos, não importando se você anda esgotado ou se sua mulher recém colocou  300 gramas de silicone nos seios.


Não satisfeitos com as tentativas naturais, ansiosos optam por tratamento de fertilização, e pra surpresa de todos e delírio familiar, chegam quádruplos. Clara, Matheus, Carolina e Frederico, e a vida que se achava monótona, vira um caos.


Mas tudo bem porque há as salvadoras babás e o problema está aparentemente solucionado. O papai continua trabalhando feito um louco e a mamãe consegue ir pra academia e manter a silhueta.


VENCER na vida virou IMPERATIVO! E quem não atende a esse crescimento está fadado ao fracasso de não pertencer à "tchurma".

Um  c r e s C I M E N T O totalmente ilusório e lamentável pois o homem continua criança, porém sem a espontaneidade,  imaturo e birrento, ainda brigando pelo brinquedo mais bonito da loja.


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Escuridão



Palavras presas, quando soltas, 
gritam sua liberdade de voar.

Olhos tristes, 
também não aprendeu a sorrir.

Preferiu se esconder atrás da saia 
e da sombra da mãe, que partiu.

Partiu pra fugir dos gritos, lamúrias, 
tudo imerso num passado sem fim.

O hoje é permeado por coisas guardadas, amareladas, 
que não permitem sonhar com um futuro mais claro, sem manchas.

Soluços são abafados, 
amores são reprimidos e 
a vida, esquecida,
não é vivida.

Os olhos se perdem em frenéticas e compulsivas leituras
que o levam pra longe, 
e não o trazem de volta.

Prefere ficar lá não-sei-onde, 
onde a fantasia faz as vezes da real-idade.

Faltam sonhos, 
faltam amigos, 
falta paz,
falta luz...

E há quem diga que é só acender a lâmpada...

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Dor de mãe




Nasceu no mês das crianças, e criança permaneceu.

Birrento, inseguro, teimoso... e com o passar dos anos,  prepotente, egocêntrico, orgulhoso.

A boca grita e o coração chora cada vez que vomita uma palavra negativa, um pensamento negro ou desfaz uma atitude boa, que logo voa...

Falta gratidão e sobra crítica e julgamento.

Apesar da força física, o fígado se desintegra diante de tanta raiva exposta pela vida. Dizem que ele, o fígado, se regenera, mas e o coração? Um coração que se faz rude, cruel e sangra, numa hemorragia que só faz aumentar.

Um olho busca o outro e não o encontra, braço aberto para o abraço não se faz e a afetividade se desfaz.

Se desfaz não, porque se existe, não encontra vida para se materializar.

Não se materializa pois ficou lá atrás, na infância desperdiçada com revoltas, mágoas, desentendimentos, incompreensões.

A noite adormece com cheiro etílico e amanhece com ressaca de passado.

Sombras que assombram e não somem.

Sombras que encobrem a cobrança.

Sombras que emudecem, cegam e velam uma surdez cada vez mais profunda.

Do outro lado, a mãe assiste a tudo com uma vela acesa.

A oração e a crença num Poder Superior é que a que acolhe no momento.

Acolhe, embala e tenta estancar um coração que ainda sangra e dói...