sábado, 25 de março de 2017

Chá das cinco


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O encontro aconteceu cedo e ainda deu tempo de saborear o por do sol do parapeito da janela. 

Êxtase!

Conversa vai, risada vem, biscoitinhos de coco pra cá, cookies de chocolate pra lá, e no desenrolar dos “petits fours”, as horas se passaram e quando se deram conta, a lua cheia já enaltecia um céu todo estrelado. 

Mais êxtase!

Os convidados, já estufados de tanta farinha, glúten e açúcar, se despediram.

A anfitriã, que de inglesa não tinha nada, adorou a ideia de mais um gole junto daquele homem charmoso, de cabelos grisalhos, quase que uma mistura de Antônio Bandeiras com George Clooney.

- Açúcar?

- Não, adoçante, por favor. Duas gotinhas e meia.

- Hummm... claro! A madame é quem manda.

A noite avançava, e feito uma criança, convidava a madrugada adentro num caloroso abraço.

As xícaras se amontoavam na beira da mesa da sala, e cada roçar vinha
acompanhado de um ruído de arrepio, que excitava.


Os pires, também juntinhos, apenas observavam, num voyeurismo que de cinza não tinha nada... o tom era bem outro. Vinho, cereja, vermelho paixão.

Da mesa para o sofá, corpos se contorciam e línguas ofegantes e avermelhadas se buscavam desenfreadamente.

De repente, uma queda, e uma das xícaras vai ao chão, perde sua asa e é impedida de voar.

Dá um último suspiro e mancha o tapete persa.

Um grito!

Lembranças são varridas pelo vento que lá fora convida as folhas das árvores para uma dança sensual.

- Mais chá?

- Por favor! Mais um de frutas vermelhas, e dessa vez, sem açúcar.

quinta-feira, 23 de março de 2017

Uniformes lembranças






Sempre usou uniforme na escola.

Quando já maiorzinha, precisou aceitar, meio a contra-gosto, uma calça de tergal verde, que acompanhada de blusa branca e um casaquinho de lã verdinho, até que não ficava tão ruim... sem falar no sapato estilo colegial, com meia preta... sim, preta!!!!

Na época, o que salvava era o agasalho de educação física, onde o verde se escondia na euforia da aula preferida e na ânsia por um disputado lugar na quadra de voleibol.

Pra completar a nostalgia, a personalidade escorpiana, sempre forte, ainda tinha que carregar o apelido de HULK, o incrível, aquele que virava uma fera, mas ainda bem que era boa!

Feito ele, até que tinha dava seus pitis de vez em quando, mas pense num coração bom!!!

Menorzinha, até que gostava do look meia colegial branca e saia pregueada, ambas até o joelho. Numa tentativa precoce, mas sexy, a saia era sutilmente dobrada na cintura, no sentido de ficar um pouco acima da meia.

Menina prevenida que sempre foi, não dava mole para os moleques, e por debaixo da sainha,  trazia sempre um shortinho azul-marinho, daqueles com elástico na perninha, muito fofo, no caso de um incidente qualquer ou uma mãozinha boba.

Todos estes modelitos também eram acompanhados dos amados congas (teve uma vermelha), kichute (os irmãos usavam pra jogar bola) e os bambas, que lutavam para se manter brancos e aos poucos também foram se colorindo, facilitando um pouco para as doces mãos maternas.

Mas por que todas essas lembranças de colégio tanto tempo depois?

É que o sol brilhava, o calor gritava, e ao escolher um vestidinho jeans comprado de uma cooperativa de mulheres de Recife, poucos anos atrás, para uma visita ao aeroporto, achou que estava muito curto e colocou um shortinho por baixo.

Não era de perninha e nem tão fofo quanto aquele da sua infância, mas a remeteu imediatamente àquela época... só ressaltando um detalhe: hoje os “moleques”  estão ocupados com outras coisas... as mãos continuam bobas, mas deslizam em outras coisas bem distantes das sainhas esvoaçantes nos degraus das escadas dessa vida... se ocupam  em teclar, teclar e teclar, perdidos nas nuvens de papos virtuais e não estão nem aí com o shortinho fofo de elástico na perninha.

Inocência deletada, mas de vez em quando ela ainda copia, cola, curte e compartilha !!!

terça-feira, 21 de março de 2017

Coração de mãe





Às vezes acho que não sinto falta da minha mãe como devia.

Sei lá!

Ela partiu há quatro anos e 3 meses e é como se ainda estivesse lá, não sei onde, mas com um encontro marcado no infinito.

Talvez porque eu me negue a racionalmente considerar que não vou mais rir de suas histórias, me deliciar com sua empada de palmito, acompanhá-la à igreja, convidá-la para o almoço no dia das mães ou puxar sua orelha por ajudar mais aos outros do que a si própria.

Talvez porque eu me negue a acolher uma tristeza que chegaria, sem data pra ir embora.

Acho que prefiro ficar com a saudade, que dói, mas que também ajuda a cicatrizar as feridas, aliadas ao tempo que a acompanha e suaviza o vazio, que continua lá, mas sugere ser preenchido pelas boas lembranças.

Quando sofro, ainda acendo uma vela e olho para uma foto dela, que me acompanha soprando uma esperança. Quando estou contente, passo, dou uma piscadinha e ele me devolve, também feliz com meu sorriso.

A impressão que fica é de um reencontro algum dia, onde aqueles olhos azuis voltarão a brilhar e aquelas mãos acolhedoras, continuarão a a alimentar.

A respiração talvez esteja menos ofegante, ao contrário do passo, em direção ao outro, mais rápido que nunca, como sempre foi e sempre será!

A voz interior talvez seja mais ouvida diante do silêncio que abriga aquele coração ENORME e o bem querer talvez se volte um pouco mais pra si.

Um carinho, um mimo, uma tarde só sua, uma alma mais leve e livre. 

Livre do conflito e da ansiedade, que de tão intensos, não deixavam aquele coração pulsar mais calmamente.

Um desapego emocional que não chegou pois não foi aprendido.

Um abraço mais apertado que não aconteceu pois nunca lhe foi ensinado.

Em troca de tudo, muitas preces, muitos joelhos dobrados, muitos pedidos e muitos agradecimentos.

Um exemplo, apesar de tudo!

Minha admiração e meu amor eterno, ansiosa por aquele reencontro só nosso, regado a chá de camomila e cuque de uva ou banana, sempre ao gosto do freguês! 

Saudades! Do cuque e das suas gargalhadas! 

♥  ♥  ♥ 



segunda-feira, 13 de março de 2017

Altos voos



Vontade de reunir as amigas
numa grande roda,
onde a diferença se faça igual
onde o grande se faça pequeno
e o pequeno se veja um gigante
no sentimento de amar.


Vontade de rir, chorar, compartilhar
histórias, falas, dores e alegrias.


Vontade de dar as mãos,
e rodar, e
sentindo-se leve,
voar,
e voando,
se transformar numa borboleta, 
numa águia, num gavião,
e pelos ares
gritar ao universo
e sussurrar nos ouvidos do vento
que fazemos parte de 
um único e grande todo,
reunido numa imensa roda infinita ...







Malas prontas









Preciso viajar, 
mudar de ares,
cambiar de paisagens,
experimentar caminhos alternativos.
Encher os olhos com novidades,
surpresas e 
encantos.
Mudar, andar, cansar, e
cansada, respirar,
expirar e pirar...
Preciso me soltar,
abrir a gaiola e
voar...
Preciso de ar,
criar,
respirar
preciso de ar (te) ...


Coragem para mudar






Acendo uma vela, um incenso, coloco um CD indicado para meditação e mais uma vez, tento esvaziar a mente, uma tarefa quase impossível diante de tanta poluição sonora que vem de todo lado.

Sentada na posição de lótus,  me inspiro nessa resiliente flor e inspiro, inflando o abdômem e expirando, esvaziando-o, pelo menos ele...

Faço minhas orações e uma delas me passa o seguinte recado: “o medo deve estar ausente, sobretudo o do desconhecido e o de abandonar coisas do passado”, caindo como uma luva nesse momento de incertezas.

A noite foi acompanhada de choro e lamento, e o dia de ontem reservou surpresa e indignação para um e decepção para outro e no meio de ambos, a difícil missão de decidir, torcendo pelo melhor, mas totalmente apavorada diante desse desconhecido.

A angústia me acompanhou durante o dia todo e como há tempos não sentia, meu  coração se encontrou apertado, indeciso, inseguro e na busca da serenidade, recitei por vezes a oração que me ensina a aceitar o que eu não posso mudar, me incentiva a buscar coragem para modificar aquelas que posso e me chama a sabedoria para que me ajudar a diferenciar as duas coisas.

Dois! O que era um, numa matemática bem simples, virou dois, e no último momento, resolvi considerar a fragilidade do meu café sem leite e decidi manter a cumplicidade e a companhia da “minha” caramelo.

Infelizmente não aconteceu como eu gostaria, pois a gente sempre busca soluções sem machucar o outro lado, mas diante do contexto que envolve tantas coisas que não cabem aqui no momento, e face à falta de diálogo e comunicação, não encontrei outro caminho senão o agir, o fazer e o acontecer e a poluição sonora mencionada no início, só fez aumentar.

Carros aflitos, ônibus nervosos, motos rebeldes, bares gritantes, boêmios exaltados e gatos inconvenientes e ousados ganharam mais voz junto a choros, lamentos, estranheza, medo e carência...  um, feito criança que pede colo, cujo leite alimenta mas vem em forma de incômodo e se materializa  em cólica, e outra, feito uma idosa, que tirada do seu ninho, estranha a nova palha e também não descansa, e todos acabamos exaustos.

Como se já não estivesse difícil o suficiente, lágrimas também vem do céu, lembrando que a parte coberta é minúscula, claustrofóbica e assusta sem querer ser o monstro que se apresenta.

Os gatos da casa da esquerda também foram afetados e tiveram o terreno limitado; os pedestres encontram companhia nos latidos de proteção cada vez que passam em frente ao portão e a vizinha da direita, finalmente tem motivos concretos para reclamar, lembrando aquela velha frase que lembra que  “eu era feliz e não sabia” ou, “nada é tão ruim que não possa piorar”...

Bem-vindos meus queridos de quatro patas! Que possamos vencer esses obstáculos juntos, e também juntos, possamos ajudar na cicatrização das feridas que ainda por um bom tempo ficarão abertas.


  

O novo velho







Você começa a perceber que o tempo passou
quando aquela criança que brincava no jardim ao lado de sua casa
vê seu nome estampado na lista de aprovados no vestibular.

Você percebe que os anos se passaram,

sem dó, nem piedade,
quando lembra que esteve na festa de quinze anos daquela menina
que hoje te convida para o casamento dela.

Você vê que a idade chegou

quando, ao perceber adolescentes subindo habilidosamente uma árvore
para retirar frutas anônimas e desconhecidas,
sua coluna reclama, inconformada,
só de assistir a escalada.

Você começa a sentir o peso dos anos

quando o cinza dos cabelos
te colocam à margem
de uma sociedade preconceituosa,
que aplaude aparências e valoriza o azul das madeixas.

Você sente que parou no tempo,

quando o playboy desfila seu carro novo no asfalto,
e você não tá nem aí, pois admite que só conhece fusca e kombi.

Você sente lá longe os anos 80 e o carinho pelas discotecas do coração

quando se depara com um outdoor anunciando um show inédito e imperdível e sequer reconhece o nome da banda do momento.

O tempo passa,

o tempo voa,
e dessa vez nem a caderneta de poupança
continua numa boa...