quinta-feira, 30 de abril de 2020

April




Anos 80 e um orgulho GRANDE dos meus 20 anos.

Eu trabalhava durante o dia, fazia faculdade à noite e nos sábados à tarde ainda tinha energia para as aulas de inglês nas Escolas Fisk da Rua Carlos de Carvalho.

Na minha turma, um rapaz alto e magro, com nome tão diferente que não consegui entender num primeiro momento, mas logo ficamos amigos.

Após o término da aula seguíamos juntos para o ponto de ônibus, mas não sem antes passar na pastelaria do japonês da Westphalen.

Ele fazia Biologia na PUC, tinha o sonho de ir para o Canadá, mas acabou indo parar em Portugal.

Vinha pra cá de vez em quando para visitar parentes e amigos e sempre passávamos bons momentos juntos. Às vezes até na virada do ano junto da família e daquela barulhada toda.

O tempo passou e nos encontramos em Londres, em 1996. Voltei pra casa depois de 3 anos por lá e ele permaneceu.

Nos descobrimos amantes das letras e das artes. Um dia ainda comentamos até sobre escrever um livro juntos. Eu crio, colo e invento e ele desenha e pinta muito bem.

Mora na Inglaterra até hoje. Tem seu emprego público, conseguiu comprar sua casa e continua viajando, mesmo que às vezes sozinho.

Em 2012 foi conosco pra Paris e até hoje fica impossível não rir com os perrengues franceses.

Quase não nos falamos, mas estamos sempre conectados.

E no início desse abril, a triste surpresa.

Foi internado. No alto dos seus quase 2 metros de altura, o Covid-19 o alcançou.

E nessa captura, continua no hospital já há quase um mês,  mas depois de 10 dias na UTI,  aos poucos vem reagindo positivamente.

E vem nos dando esperança. E vem nos reforçando a fé. E vem nos lembrando que somos muito pequenos diante de algo tão grande e devastador.

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Que susto, meu amigo!

Gostaria de dizer que sofremos com você todo esse mês de abril e nunca esqueceremos o quanto mentalizamos sua recuperação.

E as boas vibrações continuam!

Queremos celebrar essa vitória com você, em volta de uma mesa, com a janela bem aberta, deixando entrar todo o ar que precisamos para seguir junto daqueles que fazem parte da nossa história.

O cardápio pode ser aquele seu Bacalhau, um vinho bem especial e a sobremesa fica por minha conta.

Já estamos te esperando!

Aqui ou aí.

Só falta marcar a data.

Take care!

Love you! xxx

P.S.: Peguei emprestadas algumas ilustrações suas que encontrei no Facebook. Espero que não se importe. ♥ 






Um novo olhar






E abril termina recheado de incertezas 

e as perguntas continuam sem respostas.
E as portas seguem trancadas, 
os rostos cobertos e o toque suspenso.

Mas as janelas começaram a se abrir,
o sol foi convidado a entrar,
o sorriso aprendeu a dar bom dia,
e seguimos juntos, apesar de separados,
 longe, mas mais perto do que nunca.

Buscamos nos encontrar nos desencontros.
Procuramos fazer o que nunca foi feito.
Limpar o que nunca foi limpo,
lavando inclusive a alma.

Acabamos nos dando conta que não tínhamos tempo e agora que temos, não sabemos o que fazer com ele.

E de repente o povo se pôs a faxinar, a cozinhar, a estudar com os filhos, a ligar para os pais, a escrever, a desenhar, a pintar, a escrever, a dançar, a cantar, a brincar, a bordar, a meditar, a fazer ioga, a estudar mandarim, a fazer curso disso e daquilo.


Um novo normal que está matando lá fora, mas que está trazendo vida às nossas vidas, aqui dentro.

Dentro de cada lar cuja liberdade de ir e vir, ia e vinha, mas não tinha tempo para o outro. Seguia imersa numa corrida desenfreada que esquecida do presente, estava sempre pousada no futuro.   

Pois feito criança de castigo, fomos obrigados a nos refugiar dentro de nossas próprias casas e olhar, dia após dia para os nossos.

Olhar bem dentro do olho dos nossos conflitos e nossos fantasmas 
e sugerir um novo olhar.
  
Decidir se continuamos anestesiados ou acordamos para a vida e resolvemos olhar melhor para nossos alimentos, aqueles
que nutrem a alma.

Decidir se olhamos pra dentro de nós ou continuamos olhando somente para fora, com as  lentes embaçadas. 

Que depois de tudo isso, continuemos sorrindo com um olhar e abraçando com um sorriso.
Que nossos olhos alcancem o outro.
Que as mãos, agora livres, cuidem da Mãe Terra com o respeito e carinho que ela merece.

Que os abraços sejam mais valorizados do que nunca.
E mais apertados.
Num nó que não se desfaça tão cedo.
Vários nós!

Todos juntos e misturados.

domingo, 26 de abril de 2020

Inspirando, expirando, respirando





Dia especial por aqui.

Depois de uma noite escura e um parto sem dor,
deu-se a luz
e o dia nasceu azul,
e o sol brilhou,
e os olhos se fecharam.

E os pulmões
inspiraram 
e
expiraram. 

E a 
 cada respiração
penso naqueles
que anseiam por uma gota de ar
e doo um pouquinho de esperança.

Sigo bem, 
talvez numa felicidade egoísta,
mas no momento,
cuidar de mim mesma
é tudo o que posso e devo fazer.


Apesar da dor lá fora,
e de abrir a janela todo dia,
tenho voltado aqui pra dentro,
tentando colocar em ordem 
a mente e o coração.

Ando rindo à toa,
conversando com minhas plantinhas,
dançando pela casa,
cantarolando no jardim.

Sigo
grata por mais um dia,
feliz por estar conseguindo
levantar cedo, 
meditar, fazer ioga.
Ainda do meu jeitinho.
Ainda meio desajeitada.
Mas feliz.

Sigo
deixando os pensamentos 
irem e virem,
num balanço
que acalma,
equilibra,
energiza,
e faz o dia nascer 
ainda 
mais 
a z u l.