sábado, 5 de agosto de 2023

P a i



Lembro que um dia, ao comentar algo sobre meu pai, uma amiga ficou me olhando espantada e me disse: "nossa! não sabia que seu pai ainda estava vivo!"

E ela tinha razão! Nunca fui muito de falar do meu pai, talvez por minha mãe sempre ter ocupado os lugares de protagonista e coadjuvante na família.

Na minha infância e parte da adolescência não tive como escapar, mas quando adulta, fugi!

Às vezes pra longe. Às vezes por um tempo longo. Mas voltava!

Com a partida de minha mãe, acabamos nos aproximando mais.

Ele me ligava toda semana e nos encontrávamos uma vez por mês para um churros com doce de leite, que me deixava preocupada, afinal de contas ele estava diabético.

Bons momentos a gente não esquece; pena que os maus também não!

Mas já faz um bom tempo que fiz as pazes com isso tudo.

Ficou lá atrás! Numa gaveta trancada, cuja chave joguei fora...aliás, a gaveta também!

Preferi colecionar apenas as boas lembranças, como por exemplo a profissão de bombeiro (achava lindo ele fardado), o fato de ter sido autodidata na música e o hábito de usar chapéu.

Ahhhhhh! Como eu gostava de vê-lo tocar a música Brasileirinho no cavaquinho. Sempre tive orgulho dele ter aprendido sozinho também a tocar violão, e se eu não me engano, ainda tocava gaita de boca...

Interessante esse assunto ter povoado minha mente neste sábado de sol.

Um dia em que eu talvez estivesse ligando pra ele e dizendo que amanhã iria almoçar lá.

No cardápio, provavelmente teríamos uma tainha recheada assada e arroz com camarão e eu levaria uma sobremesa para adoçar a vida que por tantas vezes nos foi tão amarga.

Depois de lavarmos a louça do almoço, sentaríamos no sofá e ficaríamos ouvindo as mesmas piadas do mesmo repertório de sempre, que vinha se repetindo há muitos e muitos anos, já na espera do café da tarde.

No meio de algumas narrativas, interromperíamos dizendo que ele já tinha contado aquela, mas em outras, apenas ouviríamos e daríamos risada, não por acharmos engraçado, mas justamente por já termos ouvido aquilo tantas e tantas vezes.

Dessa vez não comprei presente e tão pouco telefonei.

Fiz um bolo de laranja, mas acabei de saber que o dia dos pais é na semana que vem.











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